segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Dinheiro Fácil

Dumb Money / 2023 / Craig Gillespie

Satisfação: 5 (Mista)

Categoria: IC

Filmes Parecidos: BlackBerry (2023) / A Grande Aposta (2015) / Joy: O Nome do Sucesso (2015) / Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (2010)

5 comentários:

Leonardo disse...

Olá, Caio.

Gostaria de saber sua opinião quanto a quantidade de filmes recentes sobre empresas e produtos famosos. Talvez seja falha na minha percepção, mas filmes como A Rede Social e Fome de Poder pareciam ser mais espaçados e agora parece que sai um atrás do outro. Será que os bilionários pop, como Elon Musk, despertaram um interesse do público em algo que antes soava burocrático, desinteressante? Seria a mentalidade anticapitalista em ver bilionários sendo punidos, empresas em processo de falência? Lembro há muito tempo quando tu fez uma resenha sobre o livro A Mentalidade Anticapitalista, havia mencionado como as histórias de detetive sempre posicionavam o homem de sucesso, o empresário, como o vilão e que o público tinha prazer em vê-los “pagando”, sendo presos.

Outra coisa não-relacionada. Porque a sua TV não é daquelas gigantescas de parede, como um verdadeiro cinema em casa? Não faria sentido para alguém que gosta tanto de cinema ter a maior tela possível?

Caio Amaral disse...

Oi Leonardo! Eu sempre tive a sensação de que depois q o Steve Jobs morreu em 2011 e se tornou um mito na cultura.. que muita gente começou a idolatrar empresários de uma forma q antes era reservada mais pra artistas, atletas... O mundo dos negócios passou a ter esse apelo pop que eu não lembro de ter antes... e com o declínio do entretenimento, figuras como Musk hoje são "superstars" maiores até que muitos artistas. O próprio mundo do entretenimento começou a ser invadido por pessoas que entraram na área pq têm o sonho de se tornar o "próximo Steve Jobs", nem tanto o de se tornar o "próximo Spielberg".. o que me parece ter contribuído pra esse declínio.

O boom mais recente de filmes sobre empresas e produtos não sei se ocorreu pq o interesse nesse tópico aumentou bruscamente nos últimos 5 anos.. ou se é pq como Hollywood já adaptou tudo q é quadrinho, já fez sequências e reboots pra todas as maiores franquias do cinema.. os produtores agora estão tendo que ficar mais criativos pra buscar novos produtos conhecidos do público pra servir de base pra filmes.. pra evitar lançar algo original. Então assim como saem muitas cinebiografias de artistas, políticos.. agora temos tb cinebiografias de produtos e empresas (que muitas vezes têm um livro best-seller já pra usar de base, o que facilita a produção).

A tendência de mostrar negativamente empresários acho que certamente tem a ver com a mentalidade anticapitalista.. ou anti-idealista, pensando de maneira mais ampla - pra explicar tb as biografias que frequentemente corrompem as imagens dos artistas, etc.

Quanto à TV.. eu atualmente não gastaria mais de 10 mil reais pra ter uma TV dessas gigantes. Nada contra telas maiores.. eu até teria um "cinema em casa" se tivesse bastante dinheiro sobrando.. mas a tela gigante não é algo realmente importante pra mim. Claro que me importo com a fotografia de um filme, com o som etc.. mas sobrecarga sensorial pra mim não eleva uma experiência. A primeira vez q vi Lawrence da Arábia foi em VHS numa TV de 29".. claro que é ótimo ver agora em 4K, mas tudo de importante q eu tinha pra absorver daquela obra, eu já absorvi na 1ª assistida. Então eu me importo por qualidade, mas não sou dessas pessoas obcecadas por pixels, etc.. que às vezes me lembram de um fenômeno que existe no mundo da fotografia; pessoas que sofrem de "G.A.S." (Gear Acquisition Syndrome), rs.

Caio Amaral disse...

Hj também os cinéfilos falam muito mais de estúdios e de produtores do q antes. Não era comum há uns 10, 15 anos esses debates sobre Warner, Disney, A24, os CEOs serem conhecidos pelo público.. o foco era bem mais a equipe criativa.

Leonardo disse...

Olá, Caio.

Perdão pela demora.

Também tenho a mesma impressão. Quando acompanho algum lançamento de tecnologia, ou até aqueles anúncios de mídia como os da Disney, sempre parece que assisto imitadores do Steve Jobs no lugar da apresentação de um produto. Me lembra demais o que acontece no mestrado em filosofia (que por sinal, estou detestando). A preocupação dos intelectuais não é conquistar a natureza, mas os homens. Com as palavras: “prestígio”, “reconhecimento”, “destaque”. Uma competição de quem tem mais “seguidores” e qual seguidor mais “puxa o saco”. Ainda há aqueles que dizem que a única função de estudar filosofia é entrar dentro do capitalismo para destruí-lo por dentro. Marx, pelo menos, ainda se preocupava em tentar compreender alguma coisa sobre a realidade e a propor um método científico inovador. Só imagine o ostracismo que sou submetido por causa da Ayn Rand. Eu tenho as minhas teorias psicológicas sobre as causas destes comportamentos, que têm sido confirmadas com evidências dia a dia. Mas fica para uma outra discussão.

Me incomoda também que a atribuição da qualidade, ou a falta dela, de uma obra seja atribuída à um CEO. Estas discussões sobre o declínio da cultura serem causados por este ou aquele sujeito, acho todas dispensáveis e um espantalho que desvia a atenção sobre valores e virtudes. Ironicamente, um espantalho criado pelos próprios anti-idealistas. De certa forma, continuam com o controle, penso. O aumento do coletivismo e da brutalidade da direita ainda é uma vitória para os anti-idealistas.

Hoje eu pensei muito naquele seu texto sobre como a cultura encomenda ídolos. Sobre como devem ter novos Spielbergs por aí, David Leans, Camerons. Mas que ao olharem para o estado da cultura atual, a importância que é dada aos produtores, as leis sobre diversidade, os sindicatos, a valorização de anti-valores, as premiações da mediocridade, o desinteresse e a rejeição do público. Eles desistem do seu potencial e continuam com seus empregos medíocres. É quase que uma Revolta de Atlas não-intencional e sem ser uma revolta, e sem ninguém saber o que está sendo perdido. Em Atlas, a população ainda poderia comparar o antes e o depois. Hoje parece que elas estão em uma completa névoa de ignorância e estagnação, uma idade das trevas cultural, neo-medievalismo. Não sei o que teria sido de mim se tivesse nascido 15 anos mais tarde, sem as locadoras, as sessões da tarde e os blogspots.

Sobre a TV, faz todo sentido. Imaginei que fosse o caso mesmo. Mas honestamente, sempre tive impressão de que tu fosse muito rico e que 10 mil fosse trocado kkkk. As minhas melhores experiências com filmes foram com VHS velho de locadora também. Lembro lá por 2010 quando vi uma imagem em Alta Definição pela primeira vez. Era a copa do mundo da África. Pensei que a qualidade da imagem não mudava em nada a minha experiência, pois continuava a desgostar de futebol do mesmo jeito kkkk.

Caio Amaral disse...

Pois é, se inspirar num grande empresário como Jobs poderia ser algo muito positivo.. mas quando as pessoas querem alcançar a reputação dele imitando o cargo, os trejeitos, o estilo de apresentação.. e não desenvolvendo as virtudes que realmente tornaram ele um sucesso.. isso é que nem o pessoal em Hollywood tentando repetir o impacto de Star Wars, Jurassic Park, investindo em direção de arte, CGI, fan service etc.

Esse texto 'Como a Cultura Encomenda Seus Ídolos' pra mim continua fazendo bastante sentido.. Eu tinha escrito um contra-argumento pra ele naquele texto 'Esperando a Era de Ouro' que eventualmente acabei deixando offline.. Pois apesar de ser verdade que existe complexidade, tensões ideológicas, irracionalidade em todas as épocas.. essa coisa meio intangível do que a cultura está "encomendando" - que é determinada pelos valores dominantes de um período - tem um efeito dramático na sociedade.. quase como se os valores dominantes (ainda q não reflitam o que todos pensam) conseguissem sequestrar a narrativa oficial da cultura, e a partir daí, todos passassem a ser regidos por ela.

Por exemplo: a narrativa oficial agora é que os "underdogs" sempre são inocentes, e que os "privilegiados" sempre são os culpados.. vamos supor que apenas 50% da população de fato acredite nisso.. e 50% não. Se eu tiver um roteiro de filme que mostre palestinos como pessoas violentas, primitivas, bombardeadno Israel por niilismo.. e um outro roteiro onde eu mostre eles como vítimas do imperialismo ocidental.. não significa que ambos terão chances parecidas de serem comprados, produzidos, celebrados pelo público, premiados. A "narrativa oficial" faz com que um tenha MUITO mais facilidade de ser feito, e o outro seja problemático, arriscado, politicamente incorreto. O efeito cumulativo desse leve desconforto de agir contra a narrativa oficial acaba sendo gigante.

Então minha visão sobre a 'Era de Ouro' mudou um pouco.. não seria mais uma época livre de tensão ideológica, onde todos têm valores positivos.. é simplesmente uma época onde a "narrativa oficial" se torna positiva, ainda que muita gente na prática seja contra ela. Isso já é o suficiente pra criar um solo fértil pra arte, pros negócios, etc.

* Hehe... minha "riqueza" por enquanto é só de família mesmo. Eu pessoalmente não tenho nenhuma fortuna pessoal. Usufruo de uma certa estrutura (apartamento etc.), mas pra coisas como lazer, viagens, roupas, etc.. eu procuro ser bem econômico. Abs!