sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Cultura - Janeiro 2025

24/01 - Indicados ao Oscar 2025

Só pelas indicações, este já é um dos pontos baixos da história do Oscar. Nos últimos anos, a Academia parecia estar dando passos em uma direção mais positiva, mas as eleições, pelo visto, a colocaram de volta no modo de "resistência". Entre os principais indicados, não acho Emilia Pérez o pior (O Brutalista e Anora, pra mim, são mais problemáticos), mas o fato de Emilia Pérez ter recebido 13 indicações é um grande dedo do meio para aqueles que esperavam uma edição mais tradicional. Já não é novidade que o Oscar hoje é mais um prêmio voltado para o cinema Não-Idealista (e Anti-Idealista). O que o torna mais indigesto que os festivais europeus é a inconsistência — o fato dele ainda misturar filmes como Conclave ou Wicked no meio, como se quisesse camuflar suas reais intenções. (Imagine criar uma premiação de arte moderna e colocar o mictório de Duchamp competindo contra uma escultura de Michelangelo, para, no fim, dar o prêmio ao mictório. Se o mictório estivesse competindo apenas contra outras obras pós-modernas e ganhasse, seria perfeitamente coerente. Mas ao colocar um artista clássico no meio, você cria a ilusão de que o mictório o superou com base nos mesmos critérios, o que é simplesmente confuso.)

O Oscar nunca foi consistente em relação ao Idealismo, e filmes Naturalistas ou de arte sempre pipocaram entre os indicados. A grande diferença agora é a proporção bem maior de obras Não-Idealistas/Anti-Idealistas na disputa, além da queda na qualidade desses filmes. Uma coisa é o Oscar ser inconsistente com o Idealismo e abrir espaço para filmes como As Vinhas da Ira (1940), Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), Marty (1955), Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), Laranja Mecânica (1971), Gritos e Sussurros (1972), Taxi Driver (1976). Mas custo a acreditar que a aclamação de filmes como Emilia Pérez seja apenas a versão moderna do mesmo fenômeno.

Quanto a Ainda Estou Aqui, as indicações a Melhor Filme e Melhor Atriz me parecem parte da diversidade tradicional da Academia. Não é diferente de quando filmes como O Beijo da Mulher-Aranha, O Piano ou O Carteiro e o Poeta competiram na categoria principal, ou de quando Fernanda Montenegro competiu como Melhor Atriz em 1999. Na minha versão ideal do Oscar, o prêmio de Melhor Filme seria voltado para o Idealismo e o Idealismo Crítico, e, em vez de Melhor Filme Internacional, haveria uma categoria secundária para reconhecer o Melhor Filme Não-Idealista do ano — filmes Naturalistas, políticos, experimentais, etc. Ainda Estou Aqui provavelmente entraria nessa categoria. Mas, considerando que a Academia sempre incluiu filmes mais inclinados ao Naturalismo entre os principais, isso não é um rompimento com sua tradição. O que é um rompimento é a qualidade subversiva de outros indicados, que refletem as diferenças entre o coletivismo "woke" moderno e o coletivismo que costumava exercer influência sobre o prêmio.


18/01 - Termômetro — Temporada de Prêmios 2025

Ainda não sabemos se o Oscar 2025 refletirá a mudança de atitude na cultura que ganhou força ano passado ou se os líderes da indústria cinematográfica serão uma frente de resistência a ela. Mas, olhando as previsões dos sites de apostas, a impressão é de que, no caso do Oscar, estamos caminhando para mais do mesmo: queridinhos de Cannes e Veneza se tornando os grandes favoritos ao prêmio principal, os filmes mais Anti-Idealistas ganhando toda a atenção, enquanto os mais Idealistas têm apenas uma participação simbólica.

A corrida ainda está aberta: O Brutalista, Anora, Emilia Pérez, Conclave e Wicked são mencionados pelos experts como possíveis favoritos.

Uma vitória de O Brutalista, Anora ou Emilia Pérez seria, pra mim, apenas "mais do mesmo" — aquele tipo de prêmio que vai contra toda a identidade tradicional da Academia, mantendo o Oscar alinhado com os festivais europeus.

Conclave ainda não assisti, mas parece ser um candidato mais tradicional, cuja vitória poderia indicar o "pêndulo" tentando voltar para uma posição mais neutra.

Wicked é um caso misto: segue muitas premissas Idealistas, mas inclui uma série de toques woke que o "modernizam". Se ele vencesse, interpretaria como um gesto da Academia para tentar fazer as pazes com o grande público, buscando prestigiar filmes populares, mas sem rejeitar a identidade progressista que adotou nas últimas décadas.

Quanto aos esnobes e omissões, o pouco caso com Divertida Mente 2 — a maior bilheteria do ano e um dos filmes mais consistentes com o Idealismo de 2024 — é a tendência mais frustrante.

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