segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Como a Cultura Encomenda Seus Ídolos

Você já se perguntou por que não temos um Mozart hoje em dia? Um Leonardo Da Vinci? Ou mesmo um Michael Jackson? Ou por que no Brasil não temos cineastas como vemos nos EUA? Com 7 bilhões de pessoas no mundo (200 milhões só no Brasil), certamente não pode ser um problema de falta de cérebros, de "matéria prima". E na era da internet, nem de falta de acesso à informação. Se hoje em dia temos mais gente, em condições melhores, com muito mais informações e ferramentas disponíveis do que em qualquer outra época, seria de se esperar que a cultura estivesse produzindo coisas muito mais admiráveis do que as que eram produzidas há várias décadas ou séculos atrás. No entanto, não é o que vemos por aí (pelo menos na área da cultura - em ciência e tecnologia ainda vemos bastante progresso). Isso ocorre, na minha opinião, porque cada cultura colhe aquilo que planta - e recebe os ídolos que encomenda.

Não estou querendo invalidar o poder que cada indivíduo tem de se desenvolver independentemente da cultura ao seu redor, estou apenas apontando o papel que a cultura exerce nesse processo: é como a relação entre uma criança e a casa em que ela cresce. Imagine uma criança com uma inclinação para as artes, mas que cresça em uma casa de médicos, que achem cultura algo superficial. Ou uma criança com uma inclinação para as ciências, mas que seja bombardeada de noções religiosas desde que comece a pensar. Se elas forem independentes o bastante, elas ainda podem crescer e desenvolver seus dons naturais, apesar das influências externas. Ainda assim, me pergunto o quão mais longe elas não poderiam ir caso crescessem num ambiente propício, que incentivasse esses dons desde os primeiros anos.

A cultura (de um país, de uma época) é como essa "casa", ou esses "pais", que podem incentivar ou inibir certas qualidades em seus filhos.

O Michael Jackson é um exemplo claro de um ídolo "produzido" por sua cultura. Não só a casa em que ele cresceu (literalmente) era o ambiente perfeito pra um cantor/dançarino descobrir e desenvolver seus talentos (sem querer defender os abusos do pai), como a cultura americana daquela época era também o solo mais fértil pra alguém com tais qualidades surgir. Era uma época em que talento e virtuosismo ainda eram recompensados (esperava-se que artistas fossem completos, multi-talentosos), onde entretenimento popular e inocente era levado a sério, movimentavam uma indústria multi-milionária, era também um período em que mudanças sociais começavam a abrir portas para artistas negros. E assim, através das forças do mercado e de um processo de seleção natural, a cultura "colheu" nos anos 70/80 o ídolo que ela plantou.

Teria ele virado o Michael Jackson que conhecemos caso tivesse crescido numa cultura que, em vez de admirar virtuosismo e ambição, ressentisse essas coisas? Teria o pai Joseph Jackson ensaiado os filhos exaustivamente todos os dias pra se tornarem os melhores performers, se o público daquela época não desse muito crédito pra esse tipo de perfeccionismo? Teria ele criado um grupo como os Jackson 5 numa cultura em que alegria e inocência fossem consideradas coisas "bregas", e o respeitável e sexy fosse ser cínico, pessimista?

Claro que uma pessoa pode decidir ir contra todas as tendências culturais e se tornar excelente no que ela faz mesmo assim. Mas quase sempre, os astros de sua época não são essas flores solitárias que brotam no meio de um deserto, e sim o resultado de um longo processo de seleção natural, dentro de uma área onde existe um grande mercado e muitas pessoas de talento competindo pra se destacar (especialmente quando estamos falando de artes como cinema, música popular, que exigem grandes investimentos e a colaboração de inúmeros profissionais - é mais fácil pra um escritor ou pintor ir contra as tendências do momento do que pra alguém que quer produzir um filme de 200 milhões de dólares).

Você não terá esse grande mercado e essa seleção natural acontecendo em áreas ignoradas ou desprezadas pela cultura. Em virtudes consideradas "fora de moda". Você só vai ter isso no que for considerado "quente" no momento, no que for "cool", popular, no que inspirar na população um real senso de possibilidade, de reconhecimento, de sucesso prático e comercial.

No Brasil, nós nunca tivemos, por exemplo, um solo fértil para o surgimento de um Stanley Kubrick, ou um Martin Scorsese no cinema. Agora pense no futebol: quantas crianças estão nesse momento praticando, competindo, com ídolos como Pelé e Neymar em mente, e que daqui a alguns anos poderão estar entre os melhores jogadores do mundo?

Pense também no "mercado" de drag queens, e no quanto ele deve ter crescido nos últimos anos simplesmente pelo fato da cultura ter tornado isso cool de uma hora pra outra. Uma artista como Pabllo Vittar dificilmente surgiria fora de contexto, se a cultura não estivesse já preparada pra algo do gênero. Há 15 anos atrás, ela certamente não teria a mesma abertura pra aparecer na TV, tocar nas rádios, etc. E o importante não é nem a questão da abertura da mídia - o importante é entender que há 15 anos atrás, Pabllo Vittar provavelmente nem teria existido! Não haveria RuPaul's Drag Race na TV pra inspirar o jovem Pabllo, fazê-lo sonhar, mostrar que ele poderia ter uma carreira de sucesso como drag, e também não haveria um programa como Amor e Sexo na Globo, perfeito pra alavancar sua carreira.

Quando a cultura ao seu redor celebra aquilo que você tem a oferecer, isso te dá um incentivo único pra desenvolver suas habilidades. A possibilidade de sucesso se torna algo palpável, real. Você vê outras pessoas como você se destacando por aí, e isso te estimula, faz você querer praticar, se tornar melhor, além de te dar um referencial. Sua energia criativa está alinhada com a energia da cultura, e com isso o universo conspira ao seu favor.

Se aquilo que você tem a oferecer é desprezado pela cultura ao seu redor, se você só enxerga cinismo, desprezo e fracasso comercial pela frente, você dificilmente investirá o esforço necessário pra se tornar um mestre naquilo (e dificilmente os outros investirão em você também). Você pode tentar se adaptar, tentar fazer o que a cultura está exigindo, mas assim dificilmente será tão bom quanto seria se estivesse alinhado com suas sensibilidades e dons naturais.

Um caso de adaptação quase bem sucedida é por exemplo a do Justin Bieber, que começou como uma espécie de menino prodígio, inocente, que cantava bem, tocava uma série de instrumentos, até que seu primeiro grande hit "Baby" foi também o vídeo com o maior número de dislikes da história do YouTube, virou alvo de ridicularização, teve inúmeras paródias, etc. Nos anos seguintes, ciente de que ele era uma figura polarizadora, ele foi se adaptando, reformando sua imagem, até que finalmente conseguiu conquistar certo respeito do grande público - não exibindo suas qualidades originais, mas adotando uma atitude rebelde, se vestindo como um marginal, deixando de ser "perfeitinho", mudando totalmente sua identidade visual, e ficando mais em harmonia com o que é considerado cool hoje em dia.

Aquilo que define o espírito de uma época nada mais é do que o espírito que a cultura decidiu ser "legal" em determinado momento. Pense na música dos anos 70, na Era Disco. A realidade não era mais benevolente naquela época do que ela é hoje em dia. Ela era igualmente complexa — existiam graves problemas políticos, econômicos, pessoas deprimidas, etc. A diferença é que durante aquela época, o "cool" no entretenimento se tornou ser alegre, hedonista. E então todo mundo saiu na corrida pra expressar esse tipo de coisa (honestamente, ou por puro pragmatismo, só porque era o que estava vendendo). Isso criou um mercado, um processo de seleção natural, e a partir daí surgiram vários artistas e bandas excelentes tocando esse tipo de música. Teriam os Bee Gees feito coisas tão boas se tivessem surgido no mercado nos anos 2000? Provavelmente não. O talento pra escrever "How Deep Is Your Love" ainda estaria com eles. Mas a cultura estaria recompensando outro tipo de talento, incentivando outro tipo de atitude, e algo como a trilha de Saturday Night Fever provavelmente nunca teria surgido.

Da mesma forma, hoje está todo mundo na corrida pra celebrar a diversidade, pra ser "socialmente relevante", se posicionar politicamente - não só as pessoas que de fato têm algo a dizer sobre o assunto, mas também pessoas que jamais tocariam nessas questões, e só o estão fazendo pois isso está vendendo.

Pense no que seria de Steven Spielberg se ele tivesse começando sua carreira nos dias de hoje. O que ele faria com seu talento natural pra criar otimismo, celebrar o espírito da juventude - um dom que estava em demanda nos anos 80 mas não está mais atualmente? Ou pense no que seria de Christopher Nolan se ele tivesse começado sua carreira na época de Spielberg. O que ele faria com sua visão de mundo trágica e sua inclinação para o subjetivismo, narrativas não-lineares, numa época em que nada disso estava em alta?

Poucos são aqueles que têm uma visão pessoal inabalável e estão dispostos a lutar contra todas as forças externas para realizar essa visão. Olhe para os seus ídolos e se pergunte: quantos deles teriam ido em frente e desenvolvido os dons que desenvolveram, realizado as coisas que realizaram, tido as oportunidades que tiveram, mesmo que a cultura não estivesse "encomendando" algo do tipo naquele período?

Que o espírito de uma cultura tem esse poder de criar e nutrir seus talentos é algo bastante compreensível. A pergunta que fica no ar é: e o que faz o espírito de uma cultura mudar? O que faz certos valores serem celebrados numa época e rejeitados em outra?

Isso provavelmente é resultado de uma série de fatores, impossíveis de serem todos rastreados com precisão. Desde eventos globais - como uma guerra, o 11 de Setembro, que mudam a percepção das pessoas sobre o mundo ou sobre uma determinada cultura; revoluções na ciência, na tecnologia, que mudam os hábitos das pessoas, como o surgimento das redes sociais; acontecimentos políticos, econômicos... E até a influência de indivíduos especiais - desses que conseguem ir contra a cultura e apresentar um novo jeito de agir, de pensar.

Outro fator relevante é a dinâmica que existe entre uma geração e a geração seguinte. Quase sempre uma nova geração irá rejeitar os valores da geração anterior, e o motivo disso talvez seja o fato de que a maioria das pessoas se torna desiludida na vida adulta - e tende a culpar a cultura de sua infância por seus problemas e frustrações. Por exemplo: se você cresceu numa época onde a cultura celebrava ambição e individualismo, e se torna uma pessoa infeliz na vida adulta, provavelmente você irá educar seus filhos suprimindo esses valores. E seus filhos, quando se tornarem adultos e desiludidos, irão rejeitar os valores sob os quais você os criou, e buscar algo ainda diferente. Essa dinâmica impede que os valores dominantes de uma cultura permaneçam no topo por muito tempo - mesmo quando são valores positivos.

Então por que não temos um Mozart nos dias de hoje? Simplesmente porque a cultura não está pedindo por um. Um garoto com um potencial equivalente para a música clássica hoje em dia não terá um senso de que, se ele desenvolver seus dons ao máximo, ele poderá "bombar" por aí, ser apreciado, se sustentar com suas composições - não existem outros Mozarts famosos em atividade pra poder inspirá-lo, criarem um senso de competição, músicos fazendo o que ele quer fazer e se dando bem.

Por onde andam os gênios do cinema e da música hoje em dia? Estão todos por aí, tentando sem sucesso se adaptar à cultura atual, realizando coisas muito piores do que poderiam realizar, ou então cruzando com você nas ruas, indo pra trabalhos comuns, onde eles acham que serão melhores recompensados.

As sementes pra todo tipo de talento e habilidade existem em todos os momentos, em todas as épocas e regiões. Mas se a cultura não "regar" essas sementes, elas dificilmente terão estímulo pra crescer e atingir o máximo de seus potenciais.

Leia também: Esperando a Era de Ouro

15 comentários:

Dood disse...

Acho que esse aspecto da cultura é o que faz as pessoas terem o chamado romantismo reprimido: elas até desejam algo melhor, ideal. Só que vemos os obstáculos para conseguir aquilo que almejamos e nos desestimulamos, acabamos indo pro comum. Isso pra todos as coisas que a vida pode nos dar, tendemos ao comodismo até por conta do medo. Nós acabamos aceitando o que uma suposta maioria nos dita.

Você tem que ter sorte de ter nascido na época certa no momento certo para sua ideia ser valorizada, você pode lutar por anos e anos e aparentemente nunca ver aquilo que você deseja ser alcançado. Aí vem a frustração e pros mais fracos a depressão.

Eu ás vezes me vejo como um ser que vive em outro plano, sei lá. Eu não compreendo da mesma forma os outros, minha visão cultural é diferente e o que é me apresentado não dita como eu sou na vida (como você disse uma vez).

Desculpa o desabafo, mas quando penso em cultura lembro de como ela é empregada hoje e me pinta um desânimo.

Caio Amaral disse...

O romantismo reprimido muitas vezes é uma força externa mesmo.. com medo da ridicularização, a pessoa decide se adaptar ao espírito da época, se distorce pra parecer mais "trendy", etc. Em alguns aspectos eu acho válido se adaptar... Mas não no que é essencial, no que envolve valores mais profundos, etc. Por exemplo: tudo bem usar roupas que sejam compatíveis com sua época.. agora mudar suas convicções políticas só pra se inserir, isso já seria inautêntico..

Algo positivo pra se pensar é que a cultura nunca vai poder ser totalmente irracional, "anti-vida", etc. Um ou outro grupo sim, mas não a maioria da população, que fica mais numa zona cinza.. Então se você fizer algo que de fato tenha um grande valor.. vc pode não se tornar a coisa mais popular do momento, mas não é possível que não encontre nenhum mercado.. mesmo nas piores fases, vc sempre vai ter exceções, coisas positivas dando certo. Vc só não vai ter esse grande mercado que eu falei.. que elevaria bastante o padrão, produziria coisas em abundância, etc. Abs.

Anônimo disse...

A demanda social certamente pode favorecer determinados tipos de artistas, mas a obra deles só irá perdurar se tiver algum mérito real. Há cem anos, Coelho Netto era o maior escritor brasileiro, aclamado tanto pelo público como pela crítica. Hoje não é lido por mais ninguém. Enquanto isso, um contemporâneo dele, Lima Barreto, quase totalmente ignorado em vida, é reconhecido como grande escritor, merecidamente.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Ah sim, Pedro.. DEPOIS que um ídolo já existe e chegou ao sucesso, ainda não é garantido que ele terá longevidade. O que eu estava discutindo aqui era mais a primeira parte da história... Como a cultura pode incentivar ou impedir o surgimento de escritores como esses em primeiro lugar... mas o mais trágico mesmo são esses casos, onde o artista chega a criar grandes obras, mas é ignorado em vida... abs!

Dood disse...

A demanda social certamente pode favorecer determinados tipos de artistas, mas a obra deles só irá perdurar se tiver algum mérito real. Há cem anos, Coelho Netto era o maior escritor brasileiro, aclamado tanto pelo público como pela crítica. Hoje não é lido por mais ninguém. Enquanto isso, um contemporâneo dele, Lima Barreto, quase totalmente ignorado em vida, é reconhecido como grande escritor, merecidamente.
Pedro.

- Me lembra os pintores, que somente depois que morrem são reconhecidos.

Anônimo disse...

Nem todos, Picasso, p. ex., conheceu o sucesso em vida.
Quanto ao meu comentário anterior, não era nenhuma objeção: Coelho Neto fez sucesso porque escrevia o que a cultura brasileira da época queria e gostava: textos pomposos, gramaticalmente muito corretos e cheios de palavras difíceis. Por isso ficou ilegível nos tempos atuais. Já Lima Barreto era mais popular na linguagem e mais crítico da realidade brasileira, e por isso foi mais ignorado. Um de seus livros, Os Bruzundangas, ele fez uma sátira a todos os aspectos da vida brasileira, que, infelizmente, não perdeu atualidade.
https://midiaindependente.org/pt/red/2012/03/504969.shtml
Pedro.

Caio Amaral disse...

Não sei nada sobre a literatura brasileira então nem comento... Mas é muito comum em todas as artes isso do modismo favorecer alguns artistas... Pegue no cinema.. um filme como Moonlight jamais ganharia o Oscar em outra época... provavelmente será um filme esquecido pelas futuras gerações...

Anônimo disse...

Assim como "E O Vento Levou" não ganharia o Oscar nos tempos atuais. Recentemente, uma mostra de cinema em Memphis o tirou de cartaz por ser racialmente insensível. Provavelmente acabará no rol de filmes malditos, e pra mim é difícil discordar, nunca engoli sua romantização da era escravocrata.
http://www.nationalreview.com/article/450942/gone-with-the-wind-slavery-hattie-mcdaniel-memphis-theater-time-warner-turner-entertainment

Caio Amaral disse...

Acho E o Vento Levou uma das coisas mais fantásticas já feitas.. se conseguirem transformá-lo num filme "maldito", será só mais uma prova do quão medíocre a cultura atual se tornou..

Anônimo disse...

Além de um ambiente favorável, os talentos precisam de algum grau de liberdade de criação e tolerância ao erro para se desenvolverem. P. ex., "O Rei Leão" e "Pocahontas" foram produzidos pela Disney ao mesmo tempo. Só que "O Rei Leão" era considerado pelos chefões do estúdio como uma obra secundária pra preencher espaço na grade de lançamentos, e manter ocupado o pessoal que não estava trabalhando em "Pocahontas", que, esse sim, deveria ser o futuro grande clássico, o novo "A Bela e a Fera". No final isso parece ter dado uma grande liberdade de criação à produção do "Rei Leão" que acabou lhe favorecendo, enquanto "Pocahontas" ficou meio travado pela obrigação de ser genial, entre outros problemas.

Caio Amaral disse...

Hmm, me parece improvável O Rei Leão ter sido feito de maneira tão despretensiosa assim.. não acho q eles chamariam o Elton John e o Tim Rice pra uma produção de segunda... Pelo q li, o que aconteceu é que de fato eles achavam q Pocahontas seria um filme mais importante, que teria mais prestígio, etc, então os melhores animadores foram pra lá, já que os 2 filmes estavam sendo produzidos simultaneamente... mas não q O Rei Leão fosse só pra preencher grade... O Rei Leão custou 45 milhões de dólares.. menos que Pocahontas, mas ainda assim... bem mais que Aladdin e A Bela e a Fera, que custaram 28 milhões e 25 milhões... abs!

Anônimo disse...

Admito algum exagero no comentário anterior, mas muitos dizem que "O Rei Leão" foi feito pelo que ara tido como "time B" de animação da Disney, exceção feita ao Andreas Deja, que desenhou o Scar. Segundo algumas notícias, "O Rei Leão" era tido como filme 'experimental' ou mesmo como uma produção menor, comparado a "Pocahontas", que seria o filme de prestígio, que deveria se equiparar a "A Bela e a Fera" e ser indicado ao Oscar de melhor filme.
O que eu quis dizer é que no Rei Leão houve mais liberdade criativa, espontaneidade e autenticidade, coisas muito raras no mundo da Disney. "Pocahontas" foi mais preso a fórmulas, e preocupado demais em não ofender ninguém, e acabou ficando inconvincente.

Caio Amaral disse...

Entendi... Mas pra isso fazer sentido, tem que ter havido mais liberdade desde a fase da escrita do roteiro, da composição das músicas, etc. Não faria muita diferença ter liberdade apenas na fase da animação em si, depois que já estava tudo escrito... Não foram os animadores que tornaram O Rei Leão mais criativo / autêntico... E sim quem concebeu o filme lá no começo né... Eu realmente não sei nada sobre os bastidores da Disney pra dizer se os melhores filmes deles costumam ser quando eles dão mais liberdade artística pros criadores... ou se é o contrário: quando eles são mais fiéis aos valores tradicionais do estúdio... Mas minha impressão sempre foi a de que O Rei Leão segue perfeitamente a fórmula Disney... que não é nenhum desvio em relação ao que eles vinham fazendo na época... E que Pocahontas também segue uma fórmula... só não tem o mesmo apelo... Tem um tom de filme mais sério, cafona, uma protagonista pouco divertida, músicas menos memoráveis, etc. Mas é curioso saber esse outro lado da produção. Abs!

Anônimo disse...

Tem razão. E acho que houve mesmo mais liberdade de criação em O Rei Leão, desde o início, quando resolveram fazer do filme uma versão de Hamlet no mundo animal, em vez de seguir uma linha mais naturalista e fazer uma versão animada de documentário da National Geographic, o que dizem ter sido a idéia inicial.
Dias desses encontrei li um post num blog em inglês, que dizia que um dos motivos porque a Pixar alcançou tanto prestígio seria porque lá eles um pouco mais de liberdade criativa do que nos outros estúdios de animação de Hollywood, que trabalham com grupos de foco, que acabam cerceando o que pode ser feito.
O que quis dizer é que preciso alguma liberdade criativa para arriscar produzir um conteúdo cuja valor possa ser mais duradouro. Um filme que apenas reproduza à perfeição os valores e gostos da época pode fazer muito sucesso, mas tende a ficar datado. "Blade Runner" não fez sucesso quando foi lançado, mas deixou uma marca mais duradoura que, digamos, filmes bem sucedidos em seu tempo e ganhadores de Oscar, como "Kramer vs. Kramer" ou "Gente como a Gente".

Caio Amaral disse...

É.. liberdade criativa sempre é bom né.. no caso de artistas talentosos.. rs. Não sou muito fã desses filmes "coletivos" que parecem resultado de inúmeras colaborações, e não da visão de 1 artista principal.. Se o estúdio tem bons princípios, esse método pode até gerar bons filmes.. mas nos meus últimos textos teóricos eu explico pq ainda prefiro produções mais autorais... abs!