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- Por que diabos o título Raw virou "Grave" no Brasil?
- O começo com o acidente de carro é intrigante. Não entendemos nada mas pelo menos é algo que puxa a gente pra dentro da história.
- A direção tem muita personalidade; é eficaz e não tem medo de fugir do convencional, provocar o espectador, etc.
- O ambiente da universidade é tão odioso que ficamos com raiva da protagonista por ela não se revoltar, não tomar uma atitude... Às vezes ela até se diverte com o comportamento abusivo dos alunos mais velhos (ri quando dão um banho de sangue nela no trote, etc). É muito passiva, sem personalidade.
- Chocantes as cenas com animais na faculdade de veterinária (eles enfiando o tubo na garganta da égua, etc).
- Os valores da menina são meio suspeitos: ela fica perturbada por ser forçada a comer carne, como se isso fosse o pior abuso do mundo, mas destruírem o quarto dela tudo bem, humilharem ela em público tudo bem.
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- Nojento ela puxando cabelo da garganta, os efeitos sonoros pra tornar a cena ainda mais horrível. Ou a cena da menina enfiando o braço no ânus da vaca, ou depois eles cortando os cachorros mortos. A diretora parece achar uma virtude perturbar a plateia (algo que falei recentemente na postagem A intenção de um filme). E nem sempre é um tipo de choque brincalhão, exagerado, feito pra divertir como num filme de terror ou numa comédia - muitas vezes são imagens cruas, mostradas de maneira fria, casual, pra incomodar a plateia, "esfregar realidade" na cara do espectador, etc.
- SPOILER: O filme é basicamente uma série de imagens grotescas: o cachorro lambendo a vagina da menina, depois um close na virilha sendo depilada, depois o dedo da irmã sendo decepado e a protagonista comendo, etc, etc. É uma tolice toda essa "crítica" ao ato de comer carne, parece que a cineasta tem 15 anos de idade - está ansiosa pra discutir temas adultos, parecer sofisticada, mas sem saber como.
- SPOILER: Mal explicada a história dos acidentes de carro na estrada. Quer dizer que a irmã faz isso direto pra poder comer as vítimas? E a tática sempre funciona? Ninguém descobre? Meio forçado.
- Apesar da atitude tola, pelo menos não dá pra dizer que o filme é chato. Tem sempre algo de surpreendente e original acontecendo, há alguns toques de humor, o ritmo é muito bom, a história prende a atenção desde a primeira imagem (o pilar da Excitação certamente é respeitado).
- Mais pro meio começa toda essa obsessão da protagonista por sexo... Já não sabemos mais se o filme quer dizer algo sobre o ato de comer carne, sobre sexo, se sexo também é errado por ser "carnal". É só pra deixar a discussão ainda mais ambígua (crítico adora essas coisas vagas que podem ser interpretadas de qualquer forma). Pelo menos há certa consistência nas coisas que o filme mostra - sangue, animais, sexo, dor física, tudo acaba estando ligado ao tema da carne.
- Um dos problemas é que toda a situação é muito irreal e desconectada de ideias. O espectador não tira nada de útil da história. Não há nenhuma observação psicológica interessante, o filme não diz nada sobre o comportamento humano, sobre a relação entre irmãs, etc. É apenas uma situação fantasiosa criada pra chocar o público e talvez fazer refletir sobre o vegetarianismo.
- A cena da mesa com o pai é um final impactante, embora continue meio vago o propósito do filme.
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CONCLUSÃO: A cineasta é habilidosa, sabe criar um show, há bastante "shock value", mas a discussão é meio boba - o filme está mais preocupado em chocar do que em ser claro sobre o que está falando.
Raw / França, Bélgica, Itália / 2016 / Julia Ducournau
FILMES PARECIDOS: Corra! (2017) / Boa Noite, Mamãe (2014) / Anticristo (2009)
NOTA: 4.0
Olá, Caio!
ResponderExcluirMuito sensata a análise! Digo que havemos de ficar de olho na Júlia Ducournau; uma cineasta peculiar. Concordo que a discussão é fútil e até confunde sobre o que ela quer dizer com "carne" no filme. Sendo assim, verei as suas próximas produções.
P.S.: Grave é o título original da obra, amigo.
oi Sergio. E "Grave" em francês tem o mesmo sentido que Grave em português? Pq pelo conteúdo do filme, o título americano Raw faz mais sentido.. mas enfim.. os franceses gostam de coisas ambíguas né, rs. Quero ver os próximos dela tb.. esse foi só o primeiro longa.. ainda não dá pra concluir muita coisa. abs!
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