sábado, 28 de setembro de 2019

Outros filmes vistos - Setembro 2019

Ad Astra - Rumo às Estrelas (2019) - 5.0

Rambo: Até o Fim (2019) - 6.0

Os Jovens Baumann (2019) - 1.0

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019) - 6.5

O Menino que Descobriu o Vento (2019) - 7.0

Yesterday (2019) - 6.0

domingo, 8 de setembro de 2019

It: Capítulo Dois

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)
ANOTAÇÕES:

- O filme começa muito bem: a produção é ótima, a primeira aparição do palhaço após o ataque homofóbico é bem sinistra, a apresentação dos personagens adultos é interessante (os atores são bons e há umas transições visuais bem legais entre as cenas), o filme vai construindo tensão conforme os personagens vão recebendo as ligações de Derry, etc.

- Logo em que todos se reunem (a cena estranha dos biscoitos da sorte) o filme já começa a apresentar alguns problemas de tom. O humor na cena em que o garotinho reconhece o comediante no restaurante é bem inadequado (todos ainda deveriam estar choque após o que viram).

- Meio nada a ver essa história de usar alucinógenos e rituais tribais pra derrotar o palhaço. Não fica clara qual a conexão entre uma coisa e outra.

- Meio bobo eles terem que encontrar artefatos do passado pro ritual funcionar. Parece uma regra aleatória criada só pra encher linguiça até o confronto final (o filme agora vai ficar mostrando personagem por personagem indo atrás dos artefatos, vai mostrar dezenas de flashbacks, etc). Todo o segundo ato do filme acaba sendo meio arrastado, monótono, sem grandes evoluções na história.

- Desnecessária a cena da estátua do lenhador. Essas sequências de terror em flashbacks parecem gratuitas, não acrescentam muito em conteúdo e nem ajudam a avançar a história (e não criam tensão afinal são apenas lembranças, os personagens não estão de fato em perigo).

- Mais problemas de tom: em vez de assustadora, a velhinha acaba parecendo cômica na cena em que a Beverly vai até a antiga casa dela. As cenas de terror do filme em geral parecem forçadas, apelam demais pra artificialidades, pra efeitos, caretas, como se a cada cena o filme precisasse mostrar uma técnica nova e esquisita pra assustar, esquecendo que em geral a simplicidade e a sugestão impactam mais.

- Idealismo Corrompido: Assim como no primeiro, o uso de humor é destrutivo e compromete muitas das cenas (por exemplo, tocar "Angel of the Morning" enquanto o monstro vomita na cara do Eddie, ou depois quando um deles leva uma facada na bochecha e depois ainda fica fazendo piadinhas sobre o cabelo do outro).

- Não dá pra entender direito como eles pretendem derrotar o palhaço (começa com a noção de "lutar com luz", depois muda tudo e a estratégia passa a ser diminuir o palhaço de tamanho passando pelo túnel - e depois tudo muda de novo). O filme não está de fato tentando entreter, fazer o espectador se envolver no confronto, suspender a descrença, acreditar no vilão - tudo é pra ser visto de maneira simbólica - o foco todo está na mensagem de autoajuda, na metáfora dos "losers" lidando com seus traumas e inseguranças (representados pelo palhaço), então pouco importa pro cineasta se a situação na tela convence. Em vez de um confronto empolgante entre bem e mal, o filme acaba sendo mais sobre confortar os losers, celebrar os losers, discutir dramas pessoais, etc.

- SPOILER: Totalmente subjetivista a maneira como eles derrotam o vilão. Não é uma mensagem de fato inspiradora ou útil. Em vez de ensinar que pra superar inseguranças você tem que desenvolver sua autoestima, se tornar mais forte, que pra atingir um objetivo é necessário usar a razão, ser competente, o filme sugere que basta atacar o bully na mesma moeda - insultá-lo de volta e fazê-lo se sentir pequeno através de joguinhos emocionais.

- SPOILER: A frase final é bem emblemática: "Não se esqueçam, nós somos losers e sempre seremos" (dita em tom de orgulho). O filme reflete bem as tendências anti-virtude, anti-individualismo da cultura atual - a ênfase é toda no grupo, no trabalho em equipe, nas fragilidades do ser humano, etc.

It Chapter Two (Canadá, EUA / 2019 / Andy Muschietti)

NOTA: 5.0

domingo, 1 de setembro de 2019

Parasita

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- Como o filme foi o grande vencedor de Cannes, já imagino que a história será em grande parte Naturalista e motivada por uma ideologia de esquerda, mas pelo menos no começo, o filme tem elementos narrativos o bastante pra prender o espectador "normal": o ritmo é estimulante, a direção guia a atenção da plateia a todo momento, se comunica objetivamente, os personagens apesar de não serem admiráveis são divertidos pois são mostrados sob uma lente de humor (é pra rirmos deles e não sentirmos pena), a situação é envolvente pois o protagonista está mentindo no trabalho, o que gera certo suspense (a história é sobre uma situação incomum, tem um gancho narrativo, não é um retrato social monótono como de costume, etc).

- Em geral nesse tipo de filme os ricos são os vilões e os empregados são retratados como vítimas. Aqui o filme surpreende, pois deixa claro que o que os empregados estão fazendo é imoral. Ele também não vilaniza os patrões só por serem ricos. O grande problema é que o filme trata as atitudes dos empregados de maneira leve, como se fosse algo cômico, uma desonestidade perdoável, quando na verdade é algo odioso.

- A situação é um pouco artificial. Se os empregados fossem tão competentes assim a ponto de trabalharem pra uma família de padrão elevado e impressioná-los com seus serviços, será que eles seriam tão pobres de fato? Será que teriam que apelar pra algo tão desonesto e radical pra conseguirem trabalhar? Não conseguiriam um emprego honestamente? E se os ricos fossem tão ingênuos assim, sem o menor senso de julgamento, será que eles seriam ricos?

- O roteiro é criativo, bem escrito. A maneira como eles vão conseguindo se livrar dos antigos empregados é muito imaginativa (e revoltante). Ou pequenos toques como o filho estranhar que todos têm o mesmo cheiro (e colocar a mentira em risco).

- Vai ficando cada vez mais incômodo o fato do filme não condenar as atitudes dos empregados (a maldade que eles fazem com os outros funcionários, eles usufruindo da casa enquanto os patrões viajam, etc). O filme não responsabiliza totalmente os personagens pois parece acreditar que isso tudo é culpa do "sistema", da "desigualdade", e portanto eles não são pessoas tão condenáveis assim - a noção de que o pobre não tem opção a não ser agir imoralmente numa sociedade capitalista (a mãe sugere isso quando diz que, se fosse rica, ela seria uma boa pessoa também, assim como a patroa).

- SPOILER: Divertida a reviravolta envolvendo a antiga empregada e o marido dela no subsolo. E também os patrões resolverem voltar mais cedo de viagem. A situação vai ficando cada vez mais tensa e absurda.

- É genial a maneira como o filme cria a metáfora dos pobres como "parasitas". Claro que o filme não acredita que eles sejam parasitas de fato (é mais provável o diretor acreditar que os ricos é que são os parasitas), mas a narrativa sugere que os pobres se tornam parasitas ou acabam tendo que agir como parasitas na sociedade atual - se escondendo debaixo de móveis e se arrastando (literalmente) pelo chão feito baratas, ou mais tarde na cena da tempestade onde eles parecem ratos nadando em esgotos. Discordo totalmente da análise social que o filme faz, mas a maneira como ele apresenta o tema é inteligente.

- O senso de humilhação do pobre (por causa da desigualdade) também é muito bem retratado (as observações casuais do patrão sobre o cheiro do motorista, etc). Leva a discussão da desigualdade além da questão financeira, mais pra um lado pessoal.

- O filme deveria ser sobre o mal da desonestidade - nada disso teria acontecido se os protagonistas fossem honestos, minimamente decentes. Mas o filme quer fazer parecer que isso não é culpa deles totalmente, que o problema no fundo é a desigualdade. Começa a querer que a gente sinta pena deles, os veja como vítimas.

- A cena da tempestade parece não ter muita função na trama - só serve pra enfatizar como é difícil a vida do pobre, que tem que lidar com tragédias pessoais todo dia e ainda manter uma aparência civilizada no trabalho pra cuidar das futilidades dos ricos (o motorista tendo que se fantasiar de índio na festinha infantil, etc).

- SPOILER: Outra metáfora bem feita é a da pedra que simboliza a riqueza, a boa sorte, o desejo de se tornar rico - e como no final ela se torna uma arma, um instrumento para o mal. Também discordo da crítica (da ideia de que o capitalismo é um sistema perverso), mas acho válida a maneira como o filme faz uso do simbolismo.

- SPOILER: Claro que no fim isso tudo resultaria nos pobres se revoltando e assassinando os ricos (curioso que o que dispara o gatilho do pai no fim antes dele matar o patrão é o detalhe do cheiro - a desigualdade de autoestima, de valor próprio, e nem tanto econômica).

- SPOILER: Sintomático dos tempos atuais que, assim como Bacurau, este é mais um filme aclamado em Cannes que mostra uma vingança brutal dos "excluídos da sociedade" contra os ricos.

- Meio forçada essa ideia da mensagem via código morse (mas é interessante e simbólica a ideia do pai decidir viver escondido no subsolo da mansão).

CONCLUSÃO: Acho a discussão equivocada, as ideias do filme totalmente falsas, imorais - mas a maneira como ele desenvolve o tema é inteligente e rica cinematograficamente.

(Parasite / Coreia do Sul / 2019 / Bong Joon Ho)

NOTA: 7.5