quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Beasts of No Nation

ANOTAÇÕES:

- Criativa a ideia das crianças brincando com a televisão no início. Considerando que este é o primeiro longa-metragem produzido pela Netflix, é uma sacada divertida da fotografia começar o filme usando a caixa da TV pra produzir uma moldura 4:3 (o formato clássico da televisão), e depois afastar a câmera transformando o quadro no formato retangular de cinema.

- Os personagens são gostáveis e a apresentação do universo deles é interessante, dinâmica.

- Comovente a cena em que o garoto é separado da mãe. O garotinho que faz o Agu é excelente!

- Pesada a cena em que os homens são executados, deixando Agu sozinho. A fotografia realmente é boa. No momento em que o menino fica sozinho pela primeira vez, vemos o plano mais aberto do filme, mostrando ele pequeno no meio do mato, enfatizando o senso de abandono.



- Curiosa a trilha sonora. Há uma melodia quase subliminar nesse momento em que Agu é abandonado que parece uma sirene. Tive que pausar o filme pra ver se isso era da trilha ou se tinha de fato uma ambulância passando no bairro.

- Horríveis esses rituais que os garotos têm que passar pra virarem "homens". O Idris Elba devia ser retratado como um monstro detestável e não como um líder por permitir esse tipo de coisa.

- SPOILERS: Até a primeira meia hora eu estava achando o filme pesado, porém sensível, focando no lado positivo do personagem (mais ou menos como em Império do Sol). Mas a partir do momento em que Agu mata o primeiro homem (abrindo a cabeça dele com um facão) o filme me perde completamente como espectador. Virou sensacionalismo, glamourização da violência. O menino mata, usa cocaína, é abusado sexualmente pelo comandante... O roteiro não tem nenhuma intenção positiva - não temos mais a expectativa de que o garoto irá encontrar a mãe, voltar pro lar, de que ele irá conseguir preservar parte de sua inocência, aprender lições importantes, fazer algo de bom... O filme só está interessado em mostrar o quão "barra pesada" ele é, registrando a destruição completa de uma pessoa de maneira realista e nada divertida.

- Eu oficialmente detesto a Netflix enquanto produtora de conteúdo original.

CONCLUSÃO: Boas performances e uma ótima fotografia e direção não compensam a superficialidade do roteiro e o conteúdo negativo e apelativo da produção.

(Beasts of No Nation / EUA / 2015 / Cary Joji Fukunaga)

FILMES PARECIDOS: Corações de Ferro / Indomável Sonhadora / Quem Quer Ser um Milionário? / Cidade de Deus

NOTA: 4.5

6 comentários:

Djefferson disse...

Esse filme é da Netflix? Muitas pessoas tem comentado a respeito, e eu esperava sair no cinema para ir assistir. Como não possuo Netflix, vou ficar sem vê-lo. No entanto, escreveste algo curioso, que detesta a Netflix como produtora de conteúdo original. Quais são as outras obras que ela produziu que você particularmente detesta? Talvez eu esteja errado, mas eu acabei de ler que este é o primeiro filme dela.

Caio Amaral disse...

Oi Djefferson.. esse é o primeiro longa de ficção deles, mas eu vi recentemente o documentário sobre a Nina Simone.. What Happened, Miss Simone?.. e vi episódios de séries originais como Sense8, Narcos, House of Cards, Marco Polo, etc.. em praticamente todos vi esse apelo pro destrutivo, pro mal, etc, sem grandes méritos estéticos pra contrabalançar.

Anônimo disse...

Você está confundindo direção de fotografia com a direção propriamente dita e direção de arte. A disposição dos objetos em cena não é função do diretor de fotografia, como você citou no primeiro exemplo.
Esse modelo hollywoodiano de cinema clássico, com início, meio e fim, roteiro amarradindo, de "intenção positiva" , clímax, e etc não são necessariamente obrigatórios para que um filme seja bom. Pelo contrário, é só um modelo, temos vários exemplos de experimentações e outros moldes que deram certo.
O filme tem alguns clichés (como a utilização do mar no fim do filme, como representação de uma possível liberdade e perspectiva de um futuro, como visto em os incompreendidos, por exemplo), mas no geral, achei de uma sensibilidade muito interessante.

Caio Amaral disse...

Se o diretor pede pro ator interpretar a cena de um jeito e não de outro, e o resultado fica bom, o mérito é do diretor ou do ator que interpretou? A ideia pode até ter vindo do diretor (que pode influenciar todos os aspectos do filme), mas o Oscar iria pro ator nesse caso, rs. A primeira cena é a mesma coisa... A ideia pode ter vindo do diretor (que nesse caso É o fotógrafo do filme), mas o meu elogio é pra um aspecto da direção de fotografia (certamente não da direção de arte).

Sim, existem outros modelos de cinema, uns piores e outros melhores.. eu não sou obrigado a respeitar todos.

Isabela F. disse...

De uma forma geral, eu gostei do filme e gosto de filme de guerra. Porém, acho que esse tipo de filme são bons quando contam a história real ou da politicagem envolvida do que está acontecendo e isso ele faz de uma maneira muito superficial (exemplo: O senhor das armas). Aliás, a Netflix sempre deixa esse lado superficial e nunca expõe os fatos de forma clara. Por exemplo, talvez a história ficaria menos apelativa se trabalhasse melhor a narrativa do porque a Nigéria está em guerra, ou como que o líder do exército agiu em vão.

Caio Amaral disse...

É.. o filme se passa num país genérico da África.. nem diz o nome pelo que lembro.. ou seja, fica claro que a intenção dele não é discutir política de maneira mais explícita.. e sim focar no impacto da guerra na vida pessoal do garoto, de uma maneira mais vaga..