Uma ideia que teria sido mais apropriada pra um sketch do Saturday Night Live (exceto que não há tantas risadas quanto se poderia esperar), e que acabaram extendendo pra duração de um longa. O resultado é um filme de 1 "piada" só, uma sacada mais ou menos cômica (transformar o racismo no vilão de um filme de terror) mas que é absurda demais pro espectador embarcar na história de fato.
SPOILERS: Pra começar, a trama não faz muito sentido - por que o trabalho todo de seduzir o protagonista, construir uma relação ao longo de meses, se em outros casos eles simplesmente raptam as vítimas direto das ruas? E por que apenas negros, se o transplante não exige isso? Sem falar em detalhes como a ideia da mãe poder hipnotizar o protagonista à força, etc.
O objetivo do filme obviamente não é contar uma história inteligente, criar um universo crível, e sim exibir o cinismo do autor, sua superioridade moral, atacar a sociedade mostrando que, apesar do esforço, ela ainda é racista nos pequenos detalhes, ainda não trata os negros bem o bastante, etc.
Por trás da fachada divertida fica sempre o senso de que o filme é motivado por sentimentos destrutivos, pelo desejo de dar o troco - quer se divertir sendo racista com os brancos da mesma forma que os brancos já foram (ou são) racistas com os negros. E é tudo extremamente auto-consciente - a crítica social se coloca acima da experiência cinematográfica, tornando os eventos todos forçados e artificiais.
Daniel Kaluuya está bem, o filme é razoavelmente bem dirigido, mas não é cômico o bastante pra funcionar como paródia, e nem sério o bastante pra funcionar como um verdadeiro thriller. É tudo apenas um pretexto pro cineasta fazer suas observações cínicas a respeito da sociedade.
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Get Out / EUA / 2017 / Jordan Peele
FILMES PARECIDOS: O Homem nas Trevas (2016) / Entre Abelhas (2015) / A Visita (2015) / Django Livre (2012)
3 comentários:
Esse filme ficou com 100% no RT durante um tempo considerável, fiquei doido pra assistir (se bem que isso não significa muita coisa hoje em dia). Curiosamente a primeira crítica negativa foi de um negro....
Achei um filme que engana a plateia, mas de modo negativo, um produto falso criado apenas para o diretor utilizar como plataforma para crítica social, conforme tu disse, e para exibir um plot twist terrível e desintegrado do resto da história.
Martys (o de 2008) também provoca o espectador com a idéia de uma história que acaba virando outra, e faz as suas críticas sociais (além de ter várias semelhanças no meu ponto de vista). Mas ali a escrita é mais criativa, os personagens fazem sentido, têm coerência, e o plot twist é crível dentro do seu mundo, apesar do apelo à violência e crueldade.
Eu imaginei que o diretor deve ter visto 'Black Mirror' e resolvido fazer um filme. O problema é que o filme se parece muito com um episódio (ou sketch, mas nunca vi SNL), e dos ruins ainda por cima. Sem falar na semelhança da atriz com uma de um certo episódio lá, usar o mesmo ator da série e o poster ser igual.
Acho que o público não se sente enganado, pois a ideia da crítica social já está bem evidente no trailer, na sinopse toda.. não acho que as pessoas entrem esperando um terror convencional e daí fiquem decepcionadas.. elas já esperam a crítica social, e por isso estão amando o filme, imagino.. Só que eu acho que a história sempre tem que vir em primeiro lugar.. e se tiver uma crítica social, ela tem que emergir da história.. e não o contrário.. a crítica ser o prato principal, e a história ser uma desculpa esfarrapada que só serve de veículo pra crítica..
Não tinha pensado em Black Mirror, pois lá o clima é mais pesado, situações possíveis, sem esse tom de palhaçada.. talvez a semelhança seja esse tipo de premissa "high-concept" né.. além do ator.. e o poster, hehe. abs!
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