Spielberg continua tentando provar que ele é um cineasta "sério", investindo nesse seu lado mais burocrático, político, de emoções contidas, que na minha opinião não é onde ele brilha mais. Os personagens parecem emocionalmente distantes na maior parte do filme, e a história não chega a ser tão envolvente quanto a de outros dramas de jornalismo como Spotlight: Segredos Revelados. Um dos motivos é o fato de não ficar muito claro o quão bombásticas são as informações que os personagens têm nas mãos, afinal a "bomba" principal (a informação de que o governo americano estava mentindo sobre a guerra do Vietnã) já tinha sido jogada pelo New York Times, então o Washington Post publicar mais páginas do mesmo relatório fica parecendo pra plateia apenas "mais do mesmo", e não algo novo, inesperado, que realmente mudaria o rumo da história, chocaria o mundo, etc.
Minha impressão é que Spielberg fez o filme mais por causa da mensagem pró-liberdade de imprensa (e indiretamente anti-Trump) e pró-feminismo que a história transmite, numa tentativa de se conectar com os "liberals" que dominam Hollywood. O problema é que ele é equilibrado e íntegro demais pra agradar o público moderno nesses termos. Ele defende feminismo e liberdade de expressão só que da maneira sensata, racional, sendo respeitoso em relação aos homens, aos valores americanos... Assim ele nunca vai conquistar o público niilista, raivoso, anti-americano, da mesma forma que um Guillermo del Toro consegue com A Forma da Água, por exemplo, então a estratégia parece frustrada.
Mas apesar desses poréns, volto a dizer o mesmo que disse sobre Ponte dos Espiões: a história é tão bem contada, a produção tão rica, as atuações tão incríveis, a música tão boa, que ainda assim ele se destaca como um dos bons filmes do ano. E apesar do início lento, a história acaba ganhando certa força após a primeira hora, particularmente após 2 cenas (o diálogo entre o Tom Hanks e a esposa, e depois o diálogo entre a Meryl Streep e a filha no quarto das crianças) que nos fazem entender melhor quais os riscos da decisão pra personagem da Meryl num nível mais emocional. A meia hora final é bastante satisfatória e a cena final com Nixon faz a gente apenas lamentar o fato do resto do filme não ter tido mais dessa mesma energia.
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The Post / Reino Unido, EUA / 2017 / Steven Spielberg
FILMES PARECIDOS: Spotlight: Segredos Revelados (2015) / Ponte dos Espiões (2015) / O Voo (2012)
NOTA: 7.5
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