quarta-feira, 5 de junho de 2019

Chernobyl

O criador da série Craig Mazin fez sua carreira escrevendo comédias não muito respeitadas como Todo Mundo em Pânico 3 e 4 e as sequências de Se Beber, Não Case - o que nos faz pensar no quanto talento é uma coisa traiçoeira, pois nem sempre ele está naquilo que achamos que mais temos vocação pra fazer, e no caso de Mazin, foi necessário ir na direção oposta do que ele fez a vida toda pra descobrir onde estava escondido seu maior potencial.

Chernobyl é a nova mini-série da HBO que mostra as consequências do acidente nuclear de Chernobyl de 1986, considerado um dos maiores desastres causados pelo homem. Atualmente está em primeiro lugar no ranking de séries mais bem avaliadas do IMDb, acima de Breaking Bad e Game of Thrones, e realmente merece a aclamação que vem recebendo - a série basicamente faz para Chernobyl o que A Lista de Schindler fez para o holocausto em 1993. É um excelente suspense que funciona bem já no nível “filme-catástrofe”, mas quando é hora de focar em substância, a série mantém o mesmo nível de excelência e apresenta cenas, personagens e diálogos tão bem escritos que faz você duvidar de que se trata de um material inédito, escrito originalmente pra TV, e não uma adaptação de um best-seller consagrado. Sem nunca se tornar partidária ou perder o foco do drama humano, Chernobyl também consegue levantar discussões políticas relevantes e, ao explorar 1 único incidente, serve como alerta tanto para os perigos do capitalismo (possíveis problemas ambientais decorrentes da produção de energia) quanto para os perigos do socialismo (a ineficiência e os males de um governo autoritário e centralizado). Muito do mérito vai também pra direção de Johan Renck (famoso diretor de comerciais e videoclipes - como Hung Up da Madonna e Blackstar de David Bowie) que soube transpor o material para a tela da melhor forma, nos fazendo sentir os assombros da contaminação radioativa sem cair pro horror explorativo.

Chernobyl (EUA, Reino Unido / mini-série HBO / 2019)

NOTA: 10

6 comentários:

Anônimo disse...

Encontrei um artigo interessante no site DefesaNet sobre as imprecisões da série Chernobyl. É claro que a série não tem a intenção de ser um estudo científico, mas o artigo mostra que foram apresentadas coisas exageradas e até impossíveis:

"O pior foi a esposa grávida de um bombeiro que visitava o marido com síndrome aguda da radiação (SAR), o que levou o bebê a absorver tanta radiação que morreu. A cientista-heroína fictícia da HBO, interpretada maravilhosamente por Emily Watson, declarou: "A radiação teria matado a mãe, mas o bebê a absorveu". Essa afirmação é totalmente inverídica.

O pai não era radioativo: ele recebeu uma dose de radiação que não pode tornar a pessoa radioativa. A doença da radiação não é contagiosa. Somente ingerindo uma quantidade enorme de material radioativo pode tornar um ser humano radioativo, e isso não aconteceu com ninguém por causa de Chernobyl. Mas essa história fictícia apareceu em Vozes de Chernobyl, contada a Alexievich por alguém em algum lugar, ao ponto que o diretor achou que deveria ser verdade. Entretanto não foi. Múltiplos estudos mostraram que não houve grávidas afetadas pela radiação de Chernobyl, embora muitos abortos desnecessários tenham sido realizados por medo infundado."
http://www.defesanet.com.br/nuclear/noticia/33582/Leonam---Como-a-HBO-errou-em-Chernobyl/

Pedro.

Caio Amaral disse...

Oi Pedro, ah sim.. a maioria dos filmes de desastres históricos criam e exageram situações pra fins dramáticos.. Titanic, Apollo 13, Mar em Fúria, A Lista de Schindler (que não seria exatamente um desastre).. não vejo isso como defeito.. prefiro muito mais isso do que um filme como Sully, por exemplo (do Clint Eastwood), que tenta se manter fiel à realidade e daí se torna chato.. abs!

Anônimo disse...

A Lista de Schindler, por incrível que pareça, foi bastante fiel aos fatos, pelo menos da forma como foram descritos no livro que inspirou o filme. Até a cena do chuveiro em Auschwitz, que muita gente criticou, está descrita no livro, não foi uma invenção do proverbial sentimentalismo de Spielberg.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Ah sim, tem que ver o quão factual foi o livro.. mas já li que muitas das cenas mais impactantes foram criadas.. como Goeth atirando nos prisioneiros de sua varanda, etc..

Anônimo disse...

Segundo a Wikipedia, Amon Goeth realmente atirava em judeus de sua janela, quando achava que caminhavam devagar.

https://en.wikipedia.org/wiki/Amon_G%C3%B6th

Há ainda fotos de Amon Goeth - bem mais gordo e com menos cabelo que Ralph Fiennes - na varanda, sem camisa e com um rifle, que devem ter servido de modelo para o filme.

https://schindlerslistsa.weebly.com/amon-goeth--plaszow.html

Pedro.

Caio Amaral disse...

observe o fundo da foto.. no filme, o fundo da varanda é o campo de concentração.. na foto do Goeth real, o fundo parece apenas uma casa qualquer.. já li que a casa dele não era tão próxima assim, praticamente dentro do campo de concentração.. a ponto dele poder acordar e praticar tiro ao alvo com os judeus.. enfim, mas esse não é o ponto.. se você der uma pesquisada, vai ver que vários elementos / cenas do filme foram criadas pra fins dramáticos.. que a proposta não era apenas criar um documento histórico, mas também proporcionar um bom entretenimento..