Em termos de produção e visual, o filme é incrivelmente fiel à estética de Alien e Aliens, recriando até aqueles mínimos detalhes que só fãs mesmo notariam: como o fogo dos propulsores das naves, que parece respingar e tem uma textura meio aquosa. A estrutura geral do roteiro também é idêntica — demora uns 40 minutos até nos depararmos com as primeiras criaturas, o miolo da trama são os membros da equipe sendo eliminados um a um, e no final temos a inevitável contagem regressiva anunciando a explosão da nave, assim como o clímax duplo onde achamos que nos livramos do bicho, mas algo sobrevive pra um segundo confronto. Se esse esqueleto fosse preenchido por coisas realmente autênticas, divertidas, eu até não me incomodaria tanto. Mas quando o filme começa a querer impressionar roubando cenas e momentos específicos dos clássicos (chegando ao cúmulo de repetir o "Get away from her, you bitch!"), ele deixa de parecer um karaokê inocente de um fã que sabe seu lugar, e começa a parecer um sósia sem noção que quer assumir a identidade de seu ídolo. (Quando vejo Aliens , eu não sinto que o James Cameron é uma espécie de fanboy que se coloca abaixo do filme do Ridley Scott e quer apenas honrar sua obra. Eu sinto que ele está se apropriando da franquia pra fazer sua própria coisa; apresentar algo que pra ele é mais interessante até que o filme original. Eu sinto isso até no caso das sequências menos bem-sucedidas, como Alien 3, Alien: A Ressurreição, Prometheus, etc. Alien: Romulus é a primeira que me dá essa sensação de não ter alma própria, de estar querendo apenas agradar os fãs criando um pastiche de tudo o que já funcionou antes.)
O filme até que funciona bem na primeira parte, quando tudo ainda é promessa, expectativa (embora até aí eu já não estivesse muito empolgado com o casting e os personagens sem sal). Mas na hora de entregar os "thrills" e as grandes ideias, o filme é crescentemente frustrante. Uma das primeiras coisas que me incomodaram foi que embora os protagonistas aqui pareçam menos durões, menos inteligentes e preparados que os dos outros filmes, eles derrotam as criaturas com muito mais facilidade! Os clássicos criavam a impressão de um vilão implacável, quase indestrutível. Neste, logo no primeiro embate a equipe consegue se livrar de múltiplos facehuggers com relativa facilidade. Em Aliens, nós víamos especialistas implementando diversas táticas para conter as criaturas, e elas sempre surpreendendo, contornando a situação, o que enfatizava a força e inteligência da espécie ("What do you mean 'they' cut the power?!!"). Aqui, qualquer ideia de meia-tigela que um personagem dá parece já ser eficaz contra os aliens (congelar a cauda do facehugger; aumentar a temperatura da sala pra eles ficarem "cegos" etc.) o que diminui a estatura do vilão, o suspense, e a grandiosidade do conflito.
Há uma ou outra sacada original em Alien: Romulus (a mais memorável delas é uma cena envolvendo o ácido de vários Xenomorphs, que não chega a ser muito plausível ou bem desenvolvida, mas pelo menos apresenta um conceito interessante), mas depois de certa altura, meu desânimo já tinha se instalado e esses méritos pontuais não conseguiam mais me empolgar — geravam só a frustração de estar vendo uma ideia promissora sendo desperdiçada em um filme que não é digno dela.
Alien: Romulus / 2024 / Fede Alvarez
Satisfação: 5
Categoria: Idealismo Imperfeito
Filmes Parecidos: Doutor Sono (2019) / O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (2019) / Star Wars: O Despertar da Força (2015)
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