sábado, 27 de fevereiro de 2016

As Memórias de Marnie

Animação japonesa indicada ao Oscar 2016 produzida pelos estúdios Ghibli (mais conhecido pelos filmes do diretor Hayao Miyazaki). O filme conta a história de uma menina solitária passando por uma fase difícil na escola e em casa, que após um ataque de asma é mandada pelos pais adotivos pra passar uns tempos morando com parentes numa cidade pequena próxima ao mar, onde o ar é mais puro. Lá, ela se encanta por uma mansão abandonada onde ela conhece Marnie, uma menina de sua idade, que é possivelmente um espírito ou uma amiga imaginária.

Não se trata de um filme infantil, e sim de um drama leve que por acaso é feito em animação e tem crianças como protagonistas. A história é agradável de acompanhar, a personagem de Anna é retratada com sensibilidade, e a figura de Marnie é misteriosa o bastante pra fazer a gente querer descobrir quem (ou o que) ela é.

Achei um pouco estranha a natureza obsessiva da amizade, que depois de um tempo começou a soar mais como um romance lésbico do que qualquer outra coisa. Não se trata de uma amizade baseada em interesses em comum, numa troca saudável de energia... Como Anna sempre se sentiu excluída por seus colegas, ela acaba ficando "viciada" na única menina que lhe dá atenção... Anna faz de Marnie um substituto pra autoestima, autoaceitação, e às vezes o filme quase cai pra um lado de auto piedade, coitadismo, mas Anna consegue manter em seu caráter certos elementos de força e independência que preservam sua dignidade.

O filme não chega a ser intenso ou inovador, mas é uma história bonita, que transmite um sentimento de paz, harmonia, é bem realizada em termos de animação, e tem um desfecho interessante. Destaque pra canção linda que toca nos créditos (Fine on the Outside), que resume bem o espírito do filme e podia ter sido indicada ao Oscar também.

When Marnie Was There / Japão / 2014 / Hiromasa Yonebayashi

FILMES PARECIDOS: Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar / Meu Amigo Totoro

NOTA: 7.0

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Horas Decisivas

NOTAS DA SESSÃO:

- Como já se espera da Disney, a produção é muito bem feita. O elenco também é de bom nível: Chris Pine, Erica Bana, Casey Affleck, etc.

- O romance não funciona e soa desnecessário - não é essencial pra história. Miriam é um personagem superficial - parece baseado em clichês de filmes dos anos 50. E o Chris Pine parece aceitar se casar com ela por pressão, pena, não por interesse próprio. Ela só vai servir no filme pra ficar em casa preocupada, enquanto o homem está "lá fora" enfrentando o mundo perigoso (aquela esposa clichê de filmes como Apolo 13, Evereste, etc).

- As cenas no navio são bem feitas em termos de ação, efeitos visuais, etc. Melhor que No Coração do Mar, por exemplo.

- SPOILER: Legal o momento em que descobrimos que o navio partiu ao meio.

- "Filme de serviço" - a ação é motivada apenas pelo senso de obrigação do herói. Ele vai ao mar apenas porque é seu trabalho, seu "dever" como cidadão - ele não está indo resgatar alguém que ama, caçar um tesouro, etc. Não há uma dimensão mais íntima na história, desejos pessoais envolvidos. E o filme acaba promovendo altruísmo: Pine é visto como herói pois ele não pensa na própria vida; está totalmente disposto a morrer pra salvar alguns estranhos.

- Um dos problemas do filme é que a história não é tão épica quanto o filme acha que ela é. Não é como Titanic - um desastre histórico envolvendo o maior navio do mundo. Ou mesmo Mar em Fúria, que convencia que estávamos vendo uma das maiores tempestades já registradas. O risco que os personagens correm aqui não parece tão intenso. A história deles não poderem usar o bote salva-vidas pra sair do navio pareceu totalmente forçada (o barco que o Chris Pine vai usar pra resgatá-los no fim não é muito maior).

- SPOILER: Tensa a cena em que eles têm que passar pelo banco de areia (a sequência de ondas gigantes). Ação eficiente.

- Um tédio essa namorada se fazendo de esposa sofredora, sendo que ela acabou de conhecer o Chris Pine. A cena em que ela fica repetindo "Por favor, chame-o de volta" é muito ruim. Ela não entende que esse é o trabalho dele? Que ele concordou em participar do resgate?

- Uma coisa boa é que o filme não foca na violência, no sofrimento, e sim nas atitudes positivas dos personagens. O filme é (ou tenta ser) sobre atos heroicos, e não algo desagradável sobre pessoas sofrendo acidentes (como O Regresso, por exemplo). Só que os personagens são superficiais, desinteressantes, e a ausência completa de violência acaba fazendo o filme parecer leve demais.

- Uau, mais pro final há uns planos de água espirrando em câmera lenta que ficaram incríveis em 3D (quando já estão todos no barco tentando voltar pra terra) .

- SPOILER: Final clichê, previsível. O filme tem um tom romântico que normalmente eu defenderia, mas que acaba soando vazio e superficial nesse caso. Esse romantismo aqui é baseado em valores conservadores como "honra", "fé", "dever", que além de vagos, nunca são bem concretizados na ação. No fim, Pine encontrou o navio por sorte, conseguiu salvar todo mundo por sorte, encontrou o caminho de volta por sorte. Nunca temos um senso de admiração real por ele, pois suas virtudes não foram bem representadas. O mesmo pode ser dito da relação entre ele e a garota. Tudo aconteceu rápido demais, não tivemos tempo de entender por que os dois se apaixonaram, quais as qualidades dela, etc. Vendo o filme ficamos apenas com uma sensação vaga de que o "amor é belo" e o "homem é corajoso", mas que não é sustentada por fatos, exemplos convincentes, portanto acaba não inspirando.

CONCLUSÃO: Bem produzido e com cenas de ação bem feitas, porém a história não é das mais memoráveis e a abordagem é convencional e cheia de clichês.

The Finest Hours / EUA / 2016 / Craig Gillespie

FILMES PARECIDOS: No Coração do Mar / Evereste / Capitão Phillips / Incontrolável / Mar em Fúria / Pearl Harbor

NOTA: 5.0

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Cinco Graças

NOTAS DA SESSÃO:

- Detestáveis a avó e o tio das meninas. Espero que o filme seja uma crítica a essa família repressora, e não apenas um retrato neutro de uma determinada cultura (como de costume em filmes Naturalistas).

- Interessante o tema da sexualidade precoce, da repressão. A caracterização das meninas é sensível e realista psicologicamente (exemplo: a mais novinha que ainda não amadureceu sexualmente mas por causa das irmãs mais velhas já começa a ser exposta ao assunto, etc).

- SPOILER: Divertida toda a sequência em que elas fogem pro jogo de futebol (elas aparecendo na TV, as mulheres derrubando a energia pros homens não verem, etc).

- Que absurdos esses casamentos arranjados! Ou o fato da menina precisar provar que é virgem na noite de núpcias. É uma cultura horrível que não valoriza a liberdade, o prazer.

- É uma graça a irmã mais nova (ela cuspindo no café, tentando dirigir o carro). A atriz convence muito com esse jeito menos feminino, mais 'moleca'.

- SPOILER: Que horror o tio abusar das sobrinhas! O roteiro tem um estilo Naturalista (retrato de pessoas comuns sem uma narrativa estruturada) mas pelo menos não é monótono. Tem sempre coisas interessantes acontecendo.

- É interessante a ideia de mostrar as consequências negativas que a beleza pode trazer, principalmente pra mulheres nessa idade.

- SPOILER: Por que a menina se mata??? Isso me pareceu totalmente arbitrário, sem fundamento.

- Curioso que aos poucos o filme vai deixando de ser Naturalista... Eventos fora do comum começam a acontecer, a menina mais nova vai planejando uma fuga (deixa de ser uma menina normal e passa a ter atitude heroicas pro contexto dela), há suspense em relação aos abusos do tio, etc.

- SPOILER: Tensa a sequência final quando as 2 fogem na noite do casamento!

- SPOILER: Bonito o final, a chegada em Istambul, num lugar mais civilizado. Parece um paraíso perto daquele ambiente atrasado em que elas viviam.

CONCLUSÃO: Ótimo retrato de uma cultura conservadora, que se torna um drama envolvente na medida em que o roteiro se distancia do Naturalismo.

Mustang / França, Alemanha, Turquia / 2015 / Deniz Gamze Ergüven

FILMES PARECIDOS: Entre os Muros da Escola / À Deriva / Em Nome de Deus / Aos Treze

NOTA: 6.5

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Por Que a Esquerda É Mais Intelectual que a Direita

Recentemente o Yaron Brook fez um comentário interessante em seu programa de rádio: ele disse que as pessoas de esquerda nos EUA são mais instruídas e mais educadas do que as de direita, e que o motivo disso seria, na visão dele, o fato da direita estar associada à religião. Ou seja - já que pessoas mais intelectualizadas costumam se distanciar da religião, elas tendem a se distanciar da direita também, e a se aproximar mais da mentalidade da esquerda, que é não-religiosa. Brook parece achar que isso é algo aleatório; que se a direita não tivesse historicamente se associado à religião, que o caminho poderia ter sido outro. Eu já acho que existe uma relação natural e menos óbvia entre esses fatos. Acompanhe o raciocínio:

A direita está, de maneira geral, associada a conceitos como individualismo, ambição, à vontade de competir em busca de seus objetivos e de ser bem sucedida. Isso reflete uma certa dose de autoconfiança e otimismo.

A esquerda está, de maneira geral, associada a conceitos como coletivismo, igualdade, ao desejo de viver numa sociedade onde ninguém tenha mais vantagens que ninguém, ninguém seja mais bem sucedido que ninguém, onde suas necessidades básicas não dependam de suas habilidades. Isso reflete uma dose mais baixa de autoconfiança e otimismo.

Quando somos crianças ou adolescentes, normalmente todos nós temos sonhos e expectativas positivas em relação ao nosso futuro. Pensamos que somos indivíduos especiais com grandes coisas reservadas para nossas vidas. Nessa fase, estamos mais em harmonia com a autoconfiança da direita.

Mas nessa fase, boa parte de nossa autoestima e esperança são baseadas em irracionalidades, na "fé" de que algo irá tornar nossas vidas automaticamente fáceis e nossas felicidades garantidas - nós simplesmente fechamos os olhos e escolhemos acreditar em nossos sonhos, acreditar que somos especiais, melhores que os outros, sem considerarmos friamente os fatos da realidade: nossas reais virtudes e chances de sermos bem sucedidos.

Esta é a conexão entre misticismo, racionalizações - nosso lado mais cego e irracional - e sentimentos positivos como otimismo e autoconfiança (que estão mais em sintonia com a direita).

É daí que vem a expressão "ignorância é uma bênção". Quando você é ignorante, não está comprometido com a realidade e se sente livre pra acreditar no que quiser, é mais natural ser otimista, acreditar que você tem um grande potencial e que o universo conspira ao seu favor - mesmo que você não tenha nenhuma educação, dinheiro, saúde e que todos os fatos indiquem o contrário. A ignorância e a fé permitem que multidões cultivem sentimentos de esperança e autoestima; sentimentos que a maioria não teria se elas tivessem um nível mais elevado de consciência a respeito da realidade, pois lhes faltariam fatos pra sustentar essas ideias.

Na medida em que uma pessoa amadurece intelectualmente e passa a enxergar a realidade de maneira mais objetiva, ela muitas vezes tem que abandonar esses sonhos ilusórios da juventude, pois geralmente eles não estão baseado em fatos. E com isso - com a chegada do realismo intelectual - podem ir embora também os sentimentos de esperança e autoconfiança.

Esta é a conexão entre entre racionalidade, inteligência, e sentimentos de baixa autoestima, pessimismo (mais em sintonia com a esquerda).

É por isso que a esquerda, de maneira geral, é mais instruída e mais intelectual que a direita - pois eles são aqueles que tiveram intelecto pra superar a fase da autoestima ilusória da juventude, e se tornaram inteligentes e maduros o bastante pra aceitarem melhor a realidade - que na grande maioria dos casos é menos colorida do que essas pessoas gostariam.

A direita em geral continua se agarrando ao misticismo, como forma de proteger a noção confortadora de um universo benevolente, ordenado, familiar, e de um valor próprio inquestionável - o que não é um grande convite à curiosidade intelectual.

Claro que as opções não se limitam a essas 2. Você também pode ser uma pessoa intelectualmente madura e ainda assim ter ambição, autoestima, otimismo. Mas isso dá muito mais trabalho - pois você tem que ter motivos concretos pra sustentar esses sentimentos, sem poder baseá-los em uma fé cega; nos sentimentos automáticos da infância. Você tem que ter a força pra abandonar o otimismo superficial e místico da juventude, e a capacidade pra reconstruí-lo na vida adulta com base em fatos e em suas reais qualidades, e essa é uma virtude raramente conquistada.

É por isso que, em geral, a direita representa uma massa autoconfiante, porém mais ignorante e religiosa (seu orgulho depende de uma boa dose de fé e racionalizações pra se sustentar) e a esquerda representa uma minoria mais intelectual, realista (em relação às limitações humanas, pelo menos), não-religiosa, porém com menos autoestima e com uma visão de mundo mais trágica (e inteligente o bastante pra manipular a maioria conservadora e chegar ao poder).

Algumas pessoas acham que conceitos como "direita" e "esquerda" são inúteis e não fazem mais sentido, pois eles não representam práticas políticas consistentes (e nessa área os 2 grupos são até parecidos). Mas os conceitos passam a ter relevância quando você entende que eles no fundo falam sobre psicologia e identidade social, e aí sim existe uma enorme rivalidade - 2 grupos que não têm um sentimento de valor próprio, e usam táticas opostas e antagônicas para lidar com este problema. Enquanto um está determinado a sentir superior, parte de uma "elite", mesmo que tenha que ignorar a realidade e viver num mundo de fantasias, o outro está tentando se conformar com o fato de que nunca conseguirá se sentir superior, e por isso precisa negar o conceito de virtude e a ideia de que o ser humano é capaz de atingi-la. No fim, ambos precisam negar a realidade em algum nível e formar racionalizações para se protegerem, porém fazem isso em níveis e em áreas diferentes.

Os que conseguem manter um grau elevado de autoestima e otimismo baseados na realidade (sem depender dessas racionalizações comuns) em geral não pertencem nem à direita nem à esquerda tradicionais — representam uma minoria menor ainda, incompreendida pelos 2 grupos maiores, e pequena demais pra influenciar as massas e mudar o curso da sociedade através da democracia.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Deadpool

NOTAS DA SESSÃO:

- O filme é esforçado e cheio de ideias desde os créditos iniciais, porém a intenção é obviamente a de ridicularizar o conceito de super-herói, servindo como um exemplo extremo do que eu comento na postagem Idealismo Corrompido. Depois dos sucessos de Homem de Ferro, Guardiões da Galáxia, Kingsman, Homem-Formiga, Perdido em Marte, podemos dizer que os americanos estão em uma "relação complicada" com os heróis tradicionais - e Hollywood é apenas um reflexo disso.

- Muitas frases tolas que tentam se passar por boa escrita, frases inteligentes.  Por exemplo: "O que um lugar como esse está fazendo em uma garota como você?". Ou então a piada sobre as pernas da menina serem o Natal e o dia de Ação de Graças - e ele querer "encontrá-la entre os feriados". Não chega a ser como nos filmes do Tarantino, que apesar dos personagens moralmente duvidosos, eu admito que costumam ter diálogos criativos e inteligentes.

- A mistura de humor com violência extrema é repulsiva. Me lembra o primeiro Kick-Ass.

- As constantes referências cínicas à cultura pop (Wham!, etc.) é uma das estratégias que cito na postagem Idealismo Corrompido.

- A história é uma bobagem. O cara se irrita com o Deadpool por ele tê-lo chamado por seu nome real (Francis) e isso é o que gera o conflito "épico" do filme! Sem falar que não faz sentido o Francis achar que matou o Deadpool (quando enterrou a barra de ferro nas costas dele), sendo que ele sabia que ele já tinha sofrido a mutação, e provavelmente sobreviveria ao ferimento.

- Em vez de salvar o mundo ou realizar algo glorioso, a meta do herói é recuperar seu visual sexy pra não assustar a namorada. Se o romance fosse bem desenvolvido e sensível, isso pelo menos poderia ter algum interesse.

- No meio das cenas mais dramáticas, o filme quebra a seriedade com piadas inapropriadas (quando Deadpool fala sobre seu câncer, ou quando a namorada é raptada pelo vilão, ou os bichinhos de desenho animado que surgem no meio da batalha final) - mais uma estratégia do Idealismo Corrompido.

- A luta final é um tédio. Não sabemos qual a força de cada personagem, que risco cada um corre, o que eles podem fazer pra destruir o vilão, etc. A ação não é boa.

- Por que a namorada não morre no final quando cai lá de cima da estrutura? O fato dela estar dentro da cápsula de vidro não anula o impacto.

CONCLUSÃO: Filme fraco de super-herói que tenta equilibrar este fato tirando sarro de si mesmo, o que o torna ainda pior. 

Deadpool / EUA, Canadá / 2015 / Tim Miller

FILMES PARECIDOS: Homem-Formiga / Kingsman: Serviço Secreto / Guardiões da Galáxia / Kick-Ass: Quebrando Tudo / Homem de Ferro

NOTA: 2.5

sábado, 13 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa

NOTAS DA SESSÃO:

- Produção, fotografia, figurinos - tudo muito bom.

- Alicia Vikander está ótima! Algo em Eddie Redmayne me incomoda um pouco. Ele tem um sorriso feminino, doce, mas que dá uma impressão de falsidade pois não combina com a dureza de seu olhar. Ele se daria muito bem fazendo papéis de vilões - desses que têm uma cara de bonzinho escondendo a maldade por trás. De qualquer forma, acaba sendo eficiente um ator tão exótico como Redmayne fazendo o papel de um transsexual - alguém que desafia nossos conceitos de identidade.

- Surpreendente a reação da Alicia quando vê o marido de vestido! Ela age com a maior tranquilidade e o aceita sem hesitar.

- Meio forçado ele querer ir na festa vestido de mulher! Ele era um cara convencional até pouquíssimo tempo atrás! Não tinha uma personalidade transgressora, ousada. A descoberta da identidade feminina dele aconteceu de uma hora pra outra - não é que ele já se via assim desde criança e só faltava se assumir pros outros. Ele não iria trocar de identidade tão rapidamente, se expor na sociedade sem ter passado por um processo de aceitação primeiro.

- Também é um pouco falso as pessoas na festa reagirem a ele como se fosse uma mulher belíssima, quando na verdade Eddie não fica tão atraente assim como mulher. O espectador tem que lembrar: "é só um filme".

- Impressionante a interpretação do Eddie Redmayne quando o amigo o beija na festa pela primeira vez! Mas é estranho a esposa ficar revoltada por ele ter beijado um homem! Se ela reagiu tão bem ao fato dele virar um travesti, por que essa surpresa agora?

- SPOILER: Chocado que o Henrik beijou a Lili sabendo que ela era o Einar.

- Por que nunca vemos a Alicia pintando os quadros da Lili? Isso parece tão central na história. O Eddie posa pra ela, ou ela faz tudo de memória?

- A relação do casal é bonita - o apoio genuíno que um dá pro outro, principalmente a maneira como a esposa lida com a situação. A personagem da Alicia Vikander acaba sendo mais fácil da gente se identificar do que o do Redmayne, até porque não sabemos muito sobre ele. É uma figura distante, misteriosa, que gera pouca empatia (embora a performance seja fantástica). As emoções dela já são mais transparentes e gostáveis. Sem falar que ele é desonesto às vezes. Por exemplo, quando o Hans chega na casa e ele está vestido de Lili: ele não está apenas se apresentando como mulher. Ele está tentando ser uma outra pessoa, com outra personalidade, outro passado, fingindo que não conhece o Hans, literalmente mentindo.

- Interessante o trecho em que ele vai procurar ajuda de médicos e todos acham que ele é louco. A história é bem estruturada, não fica monótona e sempre levanta discussões interessantes. Mas acho um pouco difícil de ficar animado com a decisão dele de mudar de sexo, não só pela natureza da cirurgia, mas pelo fato dessa descoberta ter vindo de uma hora pra outra, sem muito preparo do roteiro. Não era um grande sofrimento para ele antes ser homem. Ele parecia viver muito bem. Se fosse alguém deprimido, desajustado, talvez a cirurgia também soasse pro público como a "única esperança", como ele diz. Mas pra gente parece uma decisão apressada, perigosa, que não teve tempo de amadurecer.

- Alguns aspectos da história são mal explorados. Einar não tinha amigos, família, clientes? Quando ele vira Lili ninguém sente falta?

- SPOILER: Não esperava que ele iria morrer! Mas não é totalmente trágico, pois ele realizou seu sonho e estava feliz no fim. O final é forte e tem um tom positivo apesar de tudo.

CONCLUSÃO: Drama com um tema complicado e um personagem central nem sempre gostável, mas bem realizado, interessante e com performances impressionantes de Eddie Redmayne e Alicia Vikander.

The Danish Girl / Reino Unido, EUA, Bélgica, Dinamarca, Alemanha / 2015 / Tom Hooper

FILMES PARECIDOS: Carol / O Jogo da Imitação / A Teoria de Tudo / Kinsey - Vamos Falar de Sexo / Meninos Não Choram

NOTA: 7.0

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Brooklin

NOTAS DA SESSÃO:

- Saoirse Ronan é uma presença agradável, mas falta drama na história. A personagem anuncia do nada que vai pra América. Não houve um preparo do roteiro. Não sabemos quais as ambições dela, as frustrações, qual a importância dessa decisão, por que ela estava insatisfeita com sua vida na Irlanda, etc.

- Imperdoável mostrar a atriz passando mal, defecando e vomitando num balde. Daqui pra frente vou olhar pro rosto doce da Saoirse e pensar: diarreia.

- Alguns atores coadjuvantes estão mal, caricatos, e fazem a produção parecer pouco sofisticada: a chefe da Eilis na loja, as garotas que moram na pensão com ela (que são personagens detestáveis).

- Em termos de produção, direção, fotografia, o filme é decente mas não tem nada de notável (como Carol, por exemplo, que retrata uma época parecida).

- A história é muito chata, sem estímulo. Apenas mostra a vida de uma menina comum que resolveu se mudar para os EUA, mas nada de excepcional acontece. Vemos ela trabalhando, recebendo cartas da Irlanda, vivendo sua rotina na pensão... Como se o propósito do filme fosse puramente histórico: retratar como viviam em média os imigrantes irlandeses em Nova York naquela época. Não contar uma história excepcional. E o filme tem uma visão pequena e coletivista do homem. Eilis não é um indivíduo único... Ela é uma típica irlandesa, uma imigrante, representante de uma tribo, de uma classe, parte de uma família, etc.

- O romance não é dos mais empolgantes, mas é fofo o namorado italiano que ela arruma. Os dois têm uma química agradável.

- O filme é vazio de intelecto e emocionalmente distante. Minha sensação vendo o filme é a de estar conversando com uma tia avó distante numa festa de família, com a qual você não tem a menor intimidade: os assuntos têm que ser os mais genéricos e superficiais possíveis - quem casou com quem, quem morreu na família, quem está trabalhando onde, quem começou tal curso, etc.

- Quando ela conhece o Domhnall Gleeson, pelo menos surge algum conflito na história (ela tem que decidir com qual dos dois vai ficar). Mas como ela é meio apática, não parece apaixonada e nem tem uma grande afinidade com nenhum dos dois, isso não cria um grande interesse pro público. Os dois não representam um conflito forte de valores. Eles parecem pessoas igualmente decentes. Só estou torcendo um pouco mais pelo italiano porque eles já estão casados, e porque ele sofreria mais por perdê-la (ele parece mais apaixonado que o Domhnall). Mas se ela tivesse conhecido o outro antes, talvez eu estivesse torcendo mais por ele.

- SPOILER: O ápice emocional do filme é ela se despedindo da mãe pra voltar pra América - sendo que isso já aconteceu no começo do filme quando ela foi embora pela primeira vez. Por que isso é mostrado como um clímax? Ela apenas resolveu voltar pra onde já tinha ido.

- Eilis no navio dando conselhos pra jovem imigrante: eles tentam fazer como se a Eilis estivesse transformada, fosse uma mulher sábia por ter vivido um drama épico, quando nada de extraordinário aconteceu nesses anos.

- SPOILER: Bonito o reencontro final com o italiano. Fiquei feliz por ele!

CONCLUSÃO: Saoirse está simpática mas o filme é sem sal e não tinha que estar entre os indicados ao Oscar.

FILMES PARECIDOS: Carol / As Sufragistas / Sr. Turner

NOTA: 4.5

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Filho de Saul

NOTAS DA SESSÃO:

- Impactante a cena inicial. A câmera apenas no rosto do personagem mostrando os horrores do nazismo nos cantos da tela, como se fosse algo banal, cotidiano.

- Médico sufocando o menino que sobreviveu: uma das cenas mais terríveis dos últimos tempos.

- SPOILER: O menino morreu? Saul vai tentar reanimá-lo?! Não acredito a história vai ser apenas sobre Saul tentando enterrar o corpo. Premissa péssima. Pelo visto o cara nem conhecia o garoto (e mesmo que conhecesse, com ele morto a história não seria muito mais interessante). A plateia não tem nada de bom pra esperar dessa situação.

- Achei que a técnica de deixar a câmera no rosto do personagem seria apenas pra fazer um plano-sequência inicial de impacto. Mas fazer o filme inteiro assim deixa tudo muito monótono, cansativo. O cineasta parece estar se escondendo atrás dessa única ideia pra não precisar mostrar se sabe contar uma história direito, utilizando mais recursos cinematográficos.

- Naturalismo: narrativa solta, desestimulante, sequências longas e realistas que não movem a história adiante, caracterização superficial (não sabemos quase nada sobre Saul, suas motivações, etc), retrato do homem como uma vítima indefesa, sem poder sobre seu destino.

- Não acho muito admirável o que Saul está fazendo: arriscando a própria vida e a vida de outras pessoas pra "salvar" alguém que já morreu.

- Que tédio! 90% do filme são imagens de Saul seguindo ordens, sendo submisso, fazendo seu trabalho, sendo vítima dos nazistas opressores. E daí de vez em quando ele faz algum movimento em busca de seu humilde objetivo, que não é interessante em termos de narrativa - não é que ele está armando um plano de fuga excitante, tentando salvar uma vida real, querendo se vingar dos nazistas, etc.

- SPOILER: Confuso o final. Como exatamente eles escaparam? A história é mal contada, até por causa da câmera que só fica na cabeça do protagonista.

- SPOILER: Depois disso tudo Saul ainda perde o corpo do garoto? Dessa maneira tão banal?? E no fim todo mundo morre??! Por que o detalhe do menino loirinho aparecendo? Deu a impressão que ele que iria entregar os fugitivos, mas não é isso que acontece, então ficou sem sentido.

CONCLUSÃO: História tediosa com um protagonista desinteressante, cuja intenção parece ser a de contemplar o homem como uma vítima indefesa.

Saul fia / Hungria / 2015 / László Nemes

FILMES PARECIDOS: Ida / Timbuktu

NOTA: 2.0

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O Quarto de Jack

NOTAS DA SESSÃO:

- Premissa original e intrigante. A mãe e o garoto têm uma relação convincente e gostosa de ver.

- Fascinante o retrato da vida deles dentro do quarto. Cheio de detalhes interessantes e realistas psicologicamente.

- O filme levanta umas questões filosóficas legais. Até que ponto nossa percepção da realidade pode ser distorcida pelo ambiente em que crescemos? Lembra um pouco O Show de Truman e O Enigma de Kaspar Hauser.

- A interpretação do Jacob Tremblay é chocante (ele devia ter sido indicado ao Oscar também!). Brie Larson também está excelente.

- Essa mãe é uma maluca por mentir tanto pro filho! Só não ficamos com raiva dela porque apesar de tudo o menino parece saudável, tem uma boa relação com ela, e também porque ainda não entendemos o motivo deles estarem nesse quarto - então damos um voto de confiança.

- Demais quando a mãe começa a tentar explicar pro Jack sobre o mundo real. As reações e as perguntas dele são muito boas (ele perguntando se tartarugas existem, se os filmes e desenhos também são reais).

- SPOILER: A mãe não pode sair do quarto também? O Nick prendeu os dois? Ela foi vítima de estupro? Muito legal a maneira como a história é contada... Nós vamos juntando pequenas informações e entendendo a situação aos poucos, sem que o filme explique tudo de maneira óbvia.

- SPOILER: Meio improvável, mas aterrorizante a sequência em que Jack escapa no tapete!! O filme é muito bem dirigido e fotografado: a câmera subjetiva mostrando tudo fora de foco nas primeiras imagens externas, pois o menino nunca viu tanta claridade, nunca viu objetos a tantos metros de distância, etc.

- SPOILER: A cena da policial perguntando as coisas pra ele é muito aflitiva! O menino não lembra nem do nome da mãe! Como eles vão ajudá-lo?

- SPOILER: Lindíssima a cena do reencontro. Enxugando as lágrimas. :´(

- Adoro a ideia do filme de contar essa história horrível mas pelo ponto de vista ingênuo do garoto, focando nas questões cognitivas, na relação entre mãe e filho - sem ficar apelando pro desagradável. De qualquer forma, não dá pra perdoar ou entender totalmente a mãe pelo que ela fez com a mente do menino, dizendo que o mundo consistia apenas daquele quarto. Ela prejudicou o desenvolvimento dele. Teria sido mais natural dizer que havia um mundo lá fora, mas que por algum motivo eles só teriam acesso a ele no futuro, quando o menino fosse maior, etc.

- O conflito do avô (William H. Macy) com o menino ficou um pouco mal desenvolvido. Queria entender melhor a situação.

- SPOILER: A mãe tentou se matar? Teve uma convulsão? É desesperador porque ela some da história e o filme não diz o que houve! Às vezes parece que ela morreu e ninguém teve coragem de contar pro Jack. O que é apropriado em termos de direção, porque o filme é contado pelo ponto de vista do garoto, que sem dúvida não estaria entendendo muitas dessas situações (os adultos sempre ocultam o lado pesado da realidade das crianças).

- SPOILER: Mais lágrimas na cena do cachorro! E depois quando Jack corta o cabelo pra dar pra mãe. E depois na cena do segundo reencontro. E depois quando eles voltam até o quarto pra se despedir. Uma cena bonita após a outra.

CONCLUSÃO: Drama comovente com uma história imaginativa, sensível, muito bem contada, e performances incríveis de Brie Larson e Jacob Tremblay.

Room / Irlanda, Canadá / 2015 / Lenny Abrahamson

FILMES PARECIDOS: Tão Forte e Tão Perto / Uma Prova de Amor / A Lula e a Baleia / Terra de Sonhos / A Escolha de Sofia

NOTA: 8.5

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O Regresso

NOTAS DA SESSÃO:

- Começo sensacional: as locações são deslumbrantes, a fotografia é excelente (a nitidez da imagem, o uso de planos-sequência e as lentes grande angulares tornam tudo muito imersivo, como se nós estivéssemos ali presentes na ação). A sequência do ataque dos índios é tensa e muito bem feita.

- SPOILER: Chocante o ataque do urso!!! Quando você acha que já acabou, a situação consegue piorar mais um pouco. Tecnicamente brilhante. Mas na hora que DiCaprio é encontrado pelos amigos (que começam a tratar os ferimentos) a violência do filme começa a ficar apelativa.

- Em termos de narrativa o filme é simples, quase minimalista, mas tem o básico pra deixar a gente interessado até o final (luta pela sobrevivência num lugar inóspito, e mais tarde o tema de vingança, etc). E a caracterização do DiCaprio também é simples, mas funciona, pois sabemos o mínimo pra simpatizarmos por ele: é um cara "do bem", e não merecia estar passando por isso.

- SPOILER: Imperdoável matarem o filho do DiCaprio dessa forma depois de criarem empatia por ele. A relação do DiCaprio com o garoto era a única coisa mais positiva na história. O filme começou a me perder a partir de agora.

- SPOILER: O ataque inicial dos índios já foi cruel, depois veio a cena do urso, depois matam o filho do protagonista, agora tentam enterrar ele vivo... O filme é um exemplo extremo do que eu chamo de Culto à Dor. O filme parece ter sido feito não porque havia uma boa história pra ser contada, mas porque o personagem sofreu intensamente, e isso pro cineasta já é o bastante em termos de conteúdo. Já justifica a existência do filme. Até então meu exemplo favorito desse fenômeno era Biutiful, outro filme do Iñárritu, o que nos diz algo a respeito desse diretor.

- DiCaprio apenas grita, faz cara de dor, se mostra sujo e feio. Mas não é de fato uma grande atuação (o roteiro não permite que ele faça muito além disso).

- DiCaprio come restos de carne podre do esqueleto, depois põe fogo no corte do pescoço pra cicatrizar, depois tem que entrar na água congelante e acaba caindo na cachoeira... A estratégia do filme é mostrar algo violento a cada 5 minutos pra compensar a falta de imaginação e manter a plateia impressionada.

- Tanta coisa é inventada nesse roteiro que é desonesto vender o filme como se ele fosse uma história real. Por que a insistência na ideia de que esta é uma história real? Porque se fosse tudo ficção, as pessoas iriam perceber que o cineasta é sensacionalista, apelativo, mal intencionado. Mas sob o pretexto de que "isso realmente aconteceu", o filme subitamente ganha certa respeitabilidade. O espectador se sente impelido a acompanhar a história até o fim em respeito ao sofrimento que este homem passou na vida real.

- Com o que o DiCaprio se alimentou esse tempo todo? Quando ele começa a caçar peixes e comer as primeiras coisas mais nutritivas, ele já está relativamente bem, a perna que estava quebrada agora está boa... Devem ter se passado semanas. Como ele não morreu de fome antes?

- É legal que o Fitzgerald mente pro capitão que ele enterrou o DiCaprio. O interesse da história não está apenas na sobrevivência do protagonista, mas em desmascarar o vilão e acertar as contas. É uma narrativa bem básica, sem muita inovação ou surpresa, mas eficiente.

- Alerta Vermelho: o filme tem um tom de crítica ao capitalismo e ao homem branco, que estupra as índias, caça os animais, destrói a natureza, coloca o dinheiro acima da vida (Fitzgerald abandona DiCaprio) - e tem certo prazer em vê-lo sendo punido por sua "ganância" (os índios contra-atacam, o urso ataca o DiCaprio, etc).

- SPOILER: Um exagero ele cair do precipício com o cavalo. O personagem já estava começando a ficar bem, então agora o cineasta precisava de um novo acidente pra mantê-lo agonizante até o fim do filme. A cena dele tirando os órgãos do cavalo e entrando dentro pra se aquecer chega a ser ridícula. Ele está há meses sobrevivendo nesse lugar, tem roupas quentes, por que de repente a necessidade de entrar num cavalo pra se aquecer??? Simples: porque é grotesco e irá mostrar pra plateia como o filme é de "macho".

- O filme é longo demais e começa a ficar repetitivo depois de 1 hora e pouco.

- Esse lado onírico, meio Terrence Malick (as visões do protagonista) não se encaixam bem no filme. A história não é sobre questões internas, espirituais, filosóficas... É apenas uma experiência física, bruta. Essas cenas ficam deslocadas.

- A ideia do cantil do DiCaprio ser roubado e depois reconhecido pelos amigos parece meio forçada (ainda mais numa história que pretende ser verídica). E a forma que eles encontram o DiCaprio depois parece fácil demais.

- SPOILER: No final vira um filme de vingança, o que prende a atenção, mas não deixa de ser um apelo pra violência, brutalidade. Não há nada de positivo pra se esperar, apenas mais sangue (mesmo que ele mate o cara, o DiCaprio continua com o corpo mutilado, sem filho, com a vida destruída). O pôster do filme diz "Blood Lost. Life Found." - há 1 frase em excesso aí.

- SPOILER: A ideia do DiCaprio colocar o capitão montado no cavalo como se fosse ele parece um pouco forçada. Toda vez que o roteiro sai do minimalismo e tenta algo mais engenhoso ele mostra que não é tão brilhante assim (pelo que li, essa parte não tem nada a ver com a história original, pois o Glass não se vingou do Fitzgerald). A luta final é apenas mais uma oportunidade de chocar com violência, mas a essa altura eu já não me impressiono com mais nada.

CONCLUSÃO: Produção impecável visualmente, tecnicamente, mas patética em sua tentativa de substituir conteúdo por violência.

The Revenant / EUA / 2015 / Alejandro González Iñárritu

FILMES PARECIDOS: Os Oito Odiados / Beasts of No Nation / Mad Max: Estrada da Fúria / Onde os Fracos Não Têm Vez

NOTA: 4.5

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

The Beach Boys - Uma História de Sucesso

NOTAS DA SESSÃO:

- Confuso o começo. As imagens do Brian compondo quando era jovem, depois a sequência de créditos resumindo o sucesso dos Beach Boys, depois a cena de Brian já mais velho conhecendo a Elizabeth Banks. Qual será o foco da história?

- John Cusack não está muito carismático nesse papel - não cria um personagem gênio/perturbado gostável como em Uma Mente Brilhante por exemplo - parece apenas um cara inconveniente e meio pretensioso. Paul Dano também.

- Narrativa ruim. O filme fica pulando aleatoriamente entre 2 épocas desinteressantes da carreira deles. No passado, o filme pega uma fase em que os Beach Boys já estavam no auge (não mostra a trajetória de sucesso deles; já começa depois que eles explodiram - ao contrário do que sugere o título nacional). E depois com Wilson mais velho, o filme foca num romance que parece superficial e sem muito futuro. O filme age como se o público já soubesse tudo sobre os Beach Boys, e só se propõe a mostrar algumas curiosidades sobre as gravações de Pet Sounds e sobre a vida pessoal de Wilson. Ele não serve pra contar a história dos Beach Boys, e nem é um estudo fascinante de personagem (como foi Steve Jobs, por exemplo, que também decidiu focar na personalidade do protagonista e não contar a história inteira).

- A grande "sacada" do filme é dizer que a genialidade de Wilson vem da loucura e do sofrimento - então o filme retrata as perturbações dele de maneira positiva, afinal são elas que permitem que ele seja brilhante (na teoria do filme).

- Discordo da visão que Pet Sounds é um álbum superior por ser mais dissonante, ter melodias depressivas, barulhos experimentais, sons de bichos, etc... Sou mais as coisas antigas da banda.

- Será que ele mudou o estilo musical só pra imitar os Beatles? O que ele escrevia antes era uma fraude e agora é que Wilson está sendo autêntico musicalmente? Ou ele passou por uma transformação pessoal e mudou de gosto? O filme não se aprofunda nisso.

- Ridículo o amigo do Brian dizendo que já trabalhou com Sinatra, Elvis, mas que ele é mais especial que todos. Maneira barata de tentar engrandecer o personagem. O filme não mostra pra plateia o real valor dele; fica tentando criar impressões através de elogios de personagens secundários. O cineasta bajula o artista de uma maneira meio constrangedora, como se fosse um fã "vendido" que não enxerga o ídolo objetivamente.

- Não há muitas expectativas em relação ao lançamento do álbum Pet Sounds. Eles já são um sucesso. Não é como se fosse a história de uma banda decadente tentando se reerguer. Eles apenas estão passando por uma mudança de estilo pra acompanhar as tendências da época. Mas não há muito drama ou empolgação na história. A intenção do filme é mais a de mostrar as loucuras de Wilson.

- SPOILER: O disco finalmente é lançado, fracassa comercialmente, e ficamos sabendo de tudo através de um diálogo?!?! Além de ter uma história pouco empolgante, o filme pula os momentos mais essenciais. Good Vibrations depois é um sucesso e também só ficamos sabendo porque alguém comenta casualmente. O filme não dramatiza os momentos interessantes.

- A Elizabeth Banks pelo menos tem um bom momento no final, quando enfrenta o Paul Giamatti (que faz um personagem detestável).

- Como o romance é superficial, sem muita química, a cena final (quando toca Wouldn't It Be Nice) não empolga tanto quanto tenta.

CONCLUSÃO: Filme desperdiça uma história interessante focando nos momentos errados da carreira dos Beach Boys e retratando as perturbações de Brian Wilson como se fossem características invejáveis.

Love & Mercy / EUA / 2014 / Bill Pohlad

FILMES PARECIDOS: Jersey Boys: Em Busca da Música / Quase Famosos / The Wonders - O Sonho Não Acabou

NOTA: 4.0

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Os Dez Mandamentos - O Filme

NOTAS DA SESSÃO:

- Narrativa bagunçada, apressada - parece que a história começou do meio ou que estamos vendo um trailer. É como se a intenção fosse apenas apresentar os fatos da história: 1) Moisés é colocado no rio, 2) Fulana encontra o cesto - sem criar uma experiência narrativa coerente pra plateia. Os personagens são mal apresentados, mal desenvolvidos, o que impede a gente de se envolver direito no drama.

- A produção tem certo apelo popular, mas não tem nenhum requinte artístico. Sem dúvida eles gastaram bastante dinheiro pros padrões nacionais, mas é tudo muito grosseiro em termos de direção, trilha sonora, interpretações, etc.

- O começo do romance entre Moisés e a Giselle Itié é um pavor (a passagem de tempo com a canção romântica de fundo). Soa infantil demais e irreal.

- Tirando o lado místico, a analogia da semente é bonita!

- As cenas são muito apelativas! Tipo produção da Índia... O Paulo Gorgulho gritando pra Deus que eles são suas ovelhas e depois abrindo a camisa. Parece um monte de gente louca, fanática. O filme só funciona pra quem é religioso e leva isso tudo a sério... Não é feito de uma forma que seja interessante e aceitável para todos (como o clássico de 1956, por exemplo).

- Que bizarro os guardas também conseguirem transformar os cajados em cobras! Quer dizer que Deus também é "colega" dos vilões?

- Acho sempre um absurdo essa parte das pragas. Só é divertido visualmente, quando os efeitos especiais são muito bem feitos (o que não é o caso aqui). Mas não há nada de admirável nas atitudes de Moisés/Deus. É um grupo de bárbaros lutando contra outro grupo de bárbaros. Parece que Deus só quer exibir seus poderes, e não resolver os problemas das pessoas.

- Abertura do Mar Vermelho: é sempre um clímax interessante, mas os efeitos especiais estão muito abaixo do que se espera pros padrões de hoje.

- A ética de Deus é bem discutível... Basicamente ele quer que todos sejam submissos, não questionem nada, a obediência é a maior das virtudes, etc.

- Por que Moisés briga com todos que estavam festejando, dizendo que eles desobedeceram às leis de Deus? Ele não tinha acabado de descer da montanha com os mandamentos fresquinhos? Como eles iriam saber antes quais eram as regras?

CONCLUSÃO: Produção de baixo nível técnico e artístico que só deverá agradar quem for mais religioso e tiver uma memória afetiva em relação à história.

Os Dez Mandamentos - O Filme / Brasil / 2016 / Alexandre Avancini

FILMES PARECIDOS: Deus Não Está Morto / Maria, Mãe do Filho de Deus

NOTA: 3.5