Segundo longa-metragem dirigido por Márcio Garcia, o filme é uma co-produção entre Brasil e EUA (falado em inglês na maior parte, exceto por algumas cenas onde a protagonista liga pro Brasil pra falar com a família), e conta a história de Angie (Camilla Belle, de À Deriva e 10.000 A.C.), uma bela brasileira na Califórnia que por algum motivo resolveu jogar tudo pro alto e vive alienada numa barraca no meio do mato.
Antes da sessão começar (fui ver numa pré-estréia onde estava parte da equipe), Márcio descreveu o filme como um road-movie e alertou que o gênero tem uma estrutura diferente - começa depois do início e termina antes do fim (ou algo assim), o que me pareceu mais um pedido de desculpa antecipado pelo fato da história não ser lá essas coisas (Thelma & Louise é road movie e começa no início e termina no fim). Quem é Angie? Por que ela rompeu com o mundo? O que ela busca? A gente passa quase o filme todo sem saber nada disso.
Alguns dos personagens coadjuvantes ficam dizendo que Angie é misteriosa, que ninguém sabe nada sobre ela - bem, nem a plateia sabe nada sobre ela, criando uma protagonista completamente sem vida e desinteressante (beleza não é o bastante pra criar empatia). Não sei dizer se o problema é mais do roteiro, da direção ou do elenco (ou de uma combinação disso tudo), mas o resultado é que os personagens parecem todos vazios e amadores (parte da estranheza é a dificuldade de se dirigir atores numa língua que não é a sua).
A garota começa isolada no meio do mato (às vezes trabalha num restaurante) mas de repente se revela uma artista plástica produtiva e aparece com uma exposição do nada, numa cidadezinha que nem galeria de arte devia ter (que horas ela organizou isso, de onde surgiram os convidados?). Os autores queriam criar uma figura enigmática, fascinante, mas pra plateia acaba parecendo uma menina antipática e pretensiosa que não sabe o que fazer da vida (o pior momento é quando ela briga com a mãe no telefone e daí sai revoltada jogando tintas numa tela, pra dar a ideia que ela é uma artista "complexa", cujas pinturas expressam suas emoções profundas...).
Juliette Lewis faz uma ponta e é uma das únicas que quando surgem na tela fazem algum sentido, mas isso porque ela empresta seu carisma pessoal pro filme e acaba trazendo um personagem familiar, que já vimos antes em outras produções.
Com uma história mal explicada e personagens que não convencem fica difícil salvar o filme. Mas talvez o mais constrangedor de tudo sejam os merchandisings enfiados na história com aquela sutileza digna de BBB (acho que nunca vi nada igual no cinema). Primeiro é uma música da Wanessa Camargo (o marido dela é co-produtor) que se encaixa tão bem no filme quanto Garota de Ipanema se encaixaria em Star Wars. Depois vem a propaganda da Gillette (um close na lata da espuma de barbear), que deram um jeito de integrar na trama pra parecer mais justificável, mas que gera uma reviravolta que é completamente absurda. Por fim, descobrimos que é possível voar dos EUA para o Espírito Santo de Korean Air! Gostaria de saber que tipo de retorno essas empresas esperam ter forçando seus produtos num filme pequeno como este. Será que não bastaria um logo nos créditos e o prestígio de estar incentivando o cinema?
Angie (Brasil, EUA / 2012 / 85 min / Márcio Garcia)
INDICAÇÃO: Na Natureza Selvagem, Na Estrada, Paraísos Artificiais.
NOTA: 2.0
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