Dirigido por François Ozon (8 Mulheres, Swimming Pool - À Beira da Piscina) e roteirizado por ele próprio (adaptado da peça do espanhol Juan Mayorga), esse filme francês conta a história de um professor de literatura entediado com a mediocridade de seus alunos até que um deles começa a entregar redações brilhantes e revela um talento especial com as palavras. Nas redações, o garoto descreve suas idas à casa de seu melhor amigo (pra quem ele dá aulas de matemática) e seu interesse crescente pela mãe do garoto. O professor (e sua esposa, interpretada pela simpática Kristin Scott Thomas) vai se envolvendo cada vez mais com os textos e aguardando os próximos capítulos (e a gente na plateia também) como se fosse uma série de suspense - enquanto isso, ele vai ajudando o garoto a aprimorar seu estilo.
A situação é envolvente pois o garoto na casa é como se fosse um lobo em pele de ovelha. Ele se passa por um garoto comum e inocente, mas todos ficariam chocados se soubessem de fato o que se passa na cabeça dele. Ele faz um tipo intelectual, misterioso, e acha fascinante participar da rotina de uma família "normal", que ele parece admirar e desprezar simultaneamente (o garoto parece acreditar que as pessoas normais são felizes por serem menos inteligentes, e que uma inteligência superior leva sempre à angústia, forçando ele a invejá-las).
Essa coisa de espiar a vida dos outros nos lembra inevitavelmente de Janela Indiscreta, referência que se torna explícita na imagem final. Os franceses sempre adoraram Hitchcock e sempre filosofaram além da conta sobre seus filmes, buscando interpretações intelectuais complexas quando Hitch no fundo só estava preocupado em assustar o público. Aqui parece uma tentativa de fazer um filme de Hitchcock, mas da maneira em que os franceses os exergam - focando nessas metalinguagens e nas discussões sofisticadas sobre arte (coisa que Ozon já explorou em Swimming Pool).
Isso acaba tornando a história um pouco distante e artificial, pois ela parece mais interessada em suas próprias elaborações e auto-referências do que em fazer a gente acreditar no que está acontecendo. Mas não deixa de ser um filme interessante - uma boa dica pra quem quer sair do circuito mais comercial e ainda assim ver algo divertido e com uma trama envolvente.
Dans la maison (França / 2012 / 105 min / François Ozon)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Swimming Pool - À Beira da Piscina, Caché, A Janela Secreta, e o brasileiro Romance.
NOTA: 7.5
4 comentários:
Gostei bastante desse! E imaginei que você fosse gostar também, a parte dentro da casa gera um suspense acima do normal mesmo... Chega a ser claustrofóbico as cenas que ele está observando a intimidade.
Verdade.. vc tb lembrou do Hitchcock durante o filme? Abs!
Lembrou bastante! Me lembrou um pouco o outro do Ozon "Swimming Pool". Ele e bem esquizofrênico, quase nunca repete o gênero.
Hahah... Eu vi esse, Swimming Pool, 8 Mulheres e O Tempor que Resta... realmente ele não segue uma linha muito clara...
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