Ficção de Guillermo del Toro (de O Labirinto do Fauno, que além de dirigir também assina como produtor e roteirista) inspirada em filmes asiáticos antigos do gênero "kaiju", ou seja, filmes sobre monstros gigantes que em geral atacam cidades japonesas (a mais famosa dessas criaturas, claro, é o Godzilla).
O filme se passa nos anos 2020 onde os humanos estão em guerra contra criaturas que surgem de um portal interdimensional no fundo do Pacífico. Pra lutar contra esses monstros, os países se uniram e construíram os Jaegers - robôs enormes que são operados por 2 pilotos simultaneamente, que têm suas mentes conectadas por uma tecnologia avançada (esses pilotos são vistos como astros do rock do futuro e o protagonista é o melhor deles).
Apesar de adorar filmes de monstros e curtir a intenção básica do filme de reviver o gênero, fiquei bastante irritado durante a sessão e quis até ver o filme uma segunda vez pra entender o que tinha me incomodado.
A primeira coisa que notei é que não gostei de nenhum dos personagens. Achei o protagonista antipático, mal desenvolvido (não há muito conflito pra ele - ele já é o melhor do mundo, é o mais bonito, o mais sexy, o mais preparado, e em vez de ser grato e educado, ele está sempre com cara de invocado, desafiando os outros, agindo com certa agressividade - achei muito difícil de simpatizar).
A parceira Mako é mais gostável, mas não há muita química entre os dois (ainda bem que não chega a acontecer o romance que é sugerido no começo, pois nem como colegas os dois formam uma relação muito convincente).
Há 2 pesquisadores também que funcionam como alívio cômico que achei completamente forçados e irritantes (um deles fala sempre gritando sem um motivo aparente - lembrei do cientista gordo de Jurassic Park que também era bem caricato - mas lá era um estereótipo que todos entendem - o gordinho extrovertido que desenvolve uma personalidade chamativa pra compensar questões de autoestima. Aqui, o cara tem um comportamento que soa artificial pra ele e isso tira toda a graça da situação.
A outra coisa que me incomodou tem a ver com a natureza do escapismo. Quando vou ver filmes como este, Godzilla, Independence Day, ou coisa do tipo, é geralmente com a intenção de ser transportado pra um outro universo, viver uma aventura fantástica, etc - mas pra magia acontecer, eu preciso sentir que o filme está querendo me convencer que aquilo tudo é real.
Pegue os mestres do gênero, como Spielberg e Cameron, e veja a quantidade enorme de ciência e de bom senso que eles tentam incluir em suas histórias pra tornar reais seus dinossauros, aliens, etc. Aqui, del Toro parece estar indo na direção contrária - dizendo que o que diverte ele é justamente o fato desses filmes serem falsos e ilógicos.
Não só a premissa já soa improvável (com bombas e misseis à disposição, a ideia de que o governo construiria dezenas de robôs gigantes pra dar socos nos Kaijus não me parece muito realista) mas também há diversas sub-tramas e ações específicas que não fazem o menor sentido - e tudo isso parece feito de propósito, como se o filme quisesse deixar claro que ele não se leva a sério.
A crítica da Variety disse o seguinte sobre o filme: "de todas as fantasias apocalípticas do verão, Círculo de Fogo é a que se coloca mais agressivamente como um entretenimento 'livre de culpa', oferecendo um um espetáculo apocalíptico no espírito de diversão despretensiosa e sem remorso".
É sintomático que termos como "livre de culpa" e "sem remorso" tenham sido usados. Não ocorreria a um crítico dizer isso de um filme como Godzilla (1998) por exemplo - é óbvio que o filme não se sente culpado de nada. Mas no caso de Círculo de Fogo, a gente está constantemente pensando nisso ("Puxa, um dinossauro agarrou um robô de milhares de toneladas e conseguiu bater asas até a estratosfera, esse diretor realmente está honrando seu espírito juvenil!").
A ironia é que, ao fazer isso, o cineasta atinge justamente o oposto. Ele demonstra que no fundo ele sente culpa, e não acredita que esse tipo de entretenimento possa ser levado a sério - portanto ele precisa enfatizar os aspectos absurdos e deixar nítido pra plateia que ele está apenas brincando de ser criança ("vejam pessoal, eu ainda sou o Guillermo del Toro, um artista maduro e cult!").
Ou seja, pra mim o filme acaba surpreendentemente soando anti-escapismo e indo contra os filmes que ele parece homenagear. E não do jeito inocente de um Sharknado, que realmente foi feito por pessoas loucas, mas de forma auto-consciente.
Pra não falar apenas mal do filme, vou dizer que os efeitos especiais são realmente incríveis e o filme é cheio de detalhes visuais interessantes (a ideia que mais gostei foi a transição brilhante na primeira cena - os pontinhos brancos que você pensa serem estrelas, mas que viram aquelas partículas minúsculas que vemos embaixo do mar).
Pacific Rim (EUA / 2013 / 131 min / Guillermo del Toro)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Transformers, Gigantes de Aço, Super 8, etc.
NOTA: 4.0
O filme se passa nos anos 2020 onde os humanos estão em guerra contra criaturas que surgem de um portal interdimensional no fundo do Pacífico. Pra lutar contra esses monstros, os países se uniram e construíram os Jaegers - robôs enormes que são operados por 2 pilotos simultaneamente, que têm suas mentes conectadas por uma tecnologia avançada (esses pilotos são vistos como astros do rock do futuro e o protagonista é o melhor deles).
Apesar de adorar filmes de monstros e curtir a intenção básica do filme de reviver o gênero, fiquei bastante irritado durante a sessão e quis até ver o filme uma segunda vez pra entender o que tinha me incomodado.
A primeira coisa que notei é que não gostei de nenhum dos personagens. Achei o protagonista antipático, mal desenvolvido (não há muito conflito pra ele - ele já é o melhor do mundo, é o mais bonito, o mais sexy, o mais preparado, e em vez de ser grato e educado, ele está sempre com cara de invocado, desafiando os outros, agindo com certa agressividade - achei muito difícil de simpatizar).
A parceira Mako é mais gostável, mas não há muita química entre os dois (ainda bem que não chega a acontecer o romance que é sugerido no começo, pois nem como colegas os dois formam uma relação muito convincente).
Há 2 pesquisadores também que funcionam como alívio cômico que achei completamente forçados e irritantes (um deles fala sempre gritando sem um motivo aparente - lembrei do cientista gordo de Jurassic Park que também era bem caricato - mas lá era um estereótipo que todos entendem - o gordinho extrovertido que desenvolve uma personalidade chamativa pra compensar questões de autoestima. Aqui, o cara tem um comportamento que soa artificial pra ele e isso tira toda a graça da situação.
A outra coisa que me incomodou tem a ver com a natureza do escapismo. Quando vou ver filmes como este, Godzilla, Independence Day, ou coisa do tipo, é geralmente com a intenção de ser transportado pra um outro universo, viver uma aventura fantástica, etc - mas pra magia acontecer, eu preciso sentir que o filme está querendo me convencer que aquilo tudo é real.
Pegue os mestres do gênero, como Spielberg e Cameron, e veja a quantidade enorme de ciência e de bom senso que eles tentam incluir em suas histórias pra tornar reais seus dinossauros, aliens, etc. Aqui, del Toro parece estar indo na direção contrária - dizendo que o que diverte ele é justamente o fato desses filmes serem falsos e ilógicos.
Não só a premissa já soa improvável (com bombas e misseis à disposição, a ideia de que o governo construiria dezenas de robôs gigantes pra dar socos nos Kaijus não me parece muito realista) mas também há diversas sub-tramas e ações específicas que não fazem o menor sentido - e tudo isso parece feito de propósito, como se o filme quisesse deixar claro que ele não se leva a sério.
A crítica da Variety disse o seguinte sobre o filme: "de todas as fantasias apocalípticas do verão, Círculo de Fogo é a que se coloca mais agressivamente como um entretenimento 'livre de culpa', oferecendo um um espetáculo apocalíptico no espírito de diversão despretensiosa e sem remorso".
É sintomático que termos como "livre de culpa" e "sem remorso" tenham sido usados. Não ocorreria a um crítico dizer isso de um filme como Godzilla (1998) por exemplo - é óbvio que o filme não se sente culpado de nada. Mas no caso de Círculo de Fogo, a gente está constantemente pensando nisso ("Puxa, um dinossauro agarrou um robô de milhares de toneladas e conseguiu bater asas até a estratosfera, esse diretor realmente está honrando seu espírito juvenil!").
A ironia é que, ao fazer isso, o cineasta atinge justamente o oposto. Ele demonstra que no fundo ele sente culpa, e não acredita que esse tipo de entretenimento possa ser levado a sério - portanto ele precisa enfatizar os aspectos absurdos e deixar nítido pra plateia que ele está apenas brincando de ser criança ("vejam pessoal, eu ainda sou o Guillermo del Toro, um artista maduro e cult!").
Ou seja, pra mim o filme acaba surpreendentemente soando anti-escapismo e indo contra os filmes que ele parece homenagear. E não do jeito inocente de um Sharknado, que realmente foi feito por pessoas loucas, mas de forma auto-consciente.
Pra não falar apenas mal do filme, vou dizer que os efeitos especiais são realmente incríveis e o filme é cheio de detalhes visuais interessantes (a ideia que mais gostei foi a transição brilhante na primeira cena - os pontinhos brancos que você pensa serem estrelas, mas que viram aquelas partículas minúsculas que vemos embaixo do mar).
Pacific Rim (EUA / 2013 / 131 min / Guillermo del Toro)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Transformers, Gigantes de Aço, Super 8, etc.
NOTA: 4.0
Um comentário:
Achei esse filme uma chatisse, tb senti que não tinha porque gostar do protagonista, e achei que ia contra Evangelion, anime que o filme supostamente queria homenagear tb :s
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