Assim como a série da TV, esse é um típico caso de "guilty pleasure" - aquelas coisas que a gente sabe que são ruins mas a gente gosta mesmo assim. Se eu postasse as anotações que fiz no cinema aqui, 90% delas seriam reclamando da má qualidade do filme - da maneira tola como os personagens se conhecem e vão se transformando em heróis, de como o filme é mal dirigido e cenas importantes são mal encenadas, etc. Mas por baixo disso tudo havia um espectador entretido, se divertindo com as caras da Rita Repulsa (Elizabeth Banks está ótima e parece ter a melhor arcada dentária pra risadas maléficas) e aguardando com interesse o momento em que aqueles 5 adolescentes se transformariam nos Power Rangers e lutariam contra algum tipo de monstro gigante. Demora quase 1 hora e meia pra isso acontecer, mas o filme entrega o prometido na sequência final, com direito a Megazord e tudo mais.
Essa aliás é uma das virtudes do filme que provavelmente a maioria dos críticos ignoraria - ele respeita perfeitamente o Princípio da Ascensão (uma das postagens mais importantes que eu ainda não fiz aqui no blog, mas que basicamente diz que os bons filmes reservam o melhor pro final; criam uma linha ascendente onde a energia vai se acumulando ao longo da narrativa, em vez de se manter igual ou ir decaindo como de costume).
Outro ponto positivo é a natureza idealista da transformação dos personagens. Todos os filmes de super-heróis de certa forma falam com esse nosso lado que deseja força, auto-aperfeiçoamento (e magia, é claro), porém hoje em dia a tendência é sempre focar nas fragilidades dos heróis - a armadura do Homem de Ferro tem que ter problemas técnicos, as garras do Wolverine enguiçam e têm que ser puxadas à mão, etc - e isso rouba do espectador a satisfação de ver aquele momento "Popeye pós-espinafre" onde o herói finalmente atinge seu estado de excelência e parece imbatível.
Claro, o filme não está totalmente livre dos valores irritantes da atualidade: o momento-chave do treinamento que leva os adolescentes a finalmente se transformarem em Power Rangers é uma grande ode ao coletivismo, ao auto-sacrifício - um momento de negação do ego que contradiz a experiência que o filme está tentando provocar no espectador. Ainda assim, há o bastante pra se divertir depois. É um entretenimento bem intencionado, mas que precisaria de mais cérebro pra tirar o "guilty" tão frequentemente associado aos melhores "pleasures".
Power Rangers / Canadá, EUA / 2017 / Dean Israelite
5 comentários:
Fiquei com certo receio desse revival dos Power Rangers, até porque eles são adaptações de seriados nipônicos inicialmente chamados Super Sentai (Super Esquadrão). Ele ser meio coletivista é meio que essência dessas produções. Afinal, com a união deles em luta eles formam um robô. Não tem como fugir muito disso.
Nesse caso eles fizeram sem base nenhuma de um produto pronto, como no caso o primeiro filme de 1995 e o segundo de 1996 (este último tão mal produzido que na verdade é um episódio esticado da nova fase deles da época - Turbo).
Na prática acho que o filme acaba fazendo um péssimo argumento a favor do trabalho em equipe.. É muito idiota na hora que eles viram o Megazord, que cada Power Ranger seja responsável por um pedaço do robô.. Quando o Megazord dá um chute, por exemplo, todos parabenizam o Power Ranger responsável pela perna direita, e assim por diante, rsss. Não fica parecendo uma forma muito eficaz de lutar.
Sim, verdade. Isso tinha na versão original de certa forma em alguns momentos, era muito característico. Na série Sentai eu nunca via esse tipo de comportamento, até porque mesmo que eles fossem uma equipe ali você via motivações, personalidades distintas. Não era uma coisa tão descarada, nem mesmo agora que essas séries que eles adaptam que são mais infantis.
No geral os fãs adultos gostam do produto japonês mais que o produto Power Rangers, salvo algumas exceções como Power Rangers SPD que os "especialistas" dizem ser melhor que o original (Dekaranger).
É, há um certo coletivismo, mas não o bastante pra eu colocar o filme na categoria "herói envergonhado" por exemplo.. afinal eles todos têm força, habilidades especiais, são eficazes individualmente, há um líder no grupo, o que dá um senso de hierarquia.. não é como nesses filmes de animação atuais onde são todos personagens comuns, frágeis, sem autoestima, sem nenhuma habilidade especial, e que magicamente vencem o inimigo depois que se juntam..
AHH quanto às séries antigas já não faço ideia do que que é o que.. eu só via aquele Power Rangers que passava na Globo em 95, por aí.. hehe. abs!
"É, há um certo coletivismo, mas não o bastante pra eu colocar o filme na categoria "herói envergonhado" por exemplo.. afinal eles todos têm força, habilidades especiais, são eficazes individualmente, há um líder no grupo, o que dá um senso de hierarquia.. não é como nesses filmes de animação atuais onde são todos personagens comuns, frágeis, sem autoestima, sem nenhuma habilidade especial, e que magicamente vencem o inimigo depois que se juntam"..
Exatamente, isso que é a essência dessas séries Japonesas: você tem a união dos personagens, mas eles funcionam sozinhos.
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