segunda-feira, 20 de março de 2017

Fome de Poder

NOTAS DA SESSÃO:

- O filme é bem narrado, envolvente, até por contar uma história de sucesso tão extrema e sobre algo tão familiar pra todos nós. Curioso o filme focar na história do Ray Kroc e não na dos irmãos McDonald que realmente criaram o restaurante. Mas os flashbacks mostrando como eles desenvolveram o conceito do McDonald's são fascinantes (a cena na quadra de tênis, etc)! Eles eram verdadeiros cientistas, inventores, inovadores.

- A comparação que o Michael Keaton faz entre o McDonald's e as igrejas é ótima. Apesar dele ser um personagem meio vulgar, ele realmente tem talento pro marketing. Ótima a sequência em que ele está indo atrás de financiamento, e todos se lembram dele da época em que ele estava vendendo produtos medíocres (o que tira toda sua credibilidade).

- Interessante o conflito entre os irmãos McDonald e o Ray Kroc. Os irmãos eram quase artistas, estavam preocupados com qualidade, valores, integridade, não queriam colocar propaganda nos menus, etc. E o Ray Kroc só pensando em expandir o negócio, mesmo às custas da qualidade. É um conflito entre 2 extremos - talvez nenhum dos 2 lados esteja 100% certo sozinho, mas o equilíbrio que surgiu dessa tensão foi o que permitiu o sucesso estrondoso da rede.

- Não fica muito claro como o Ray resolveu o problema do controle de qualidade quando começaram a surgir novos restaurantes. No começo ele estava selecionando os franqueados a dedo, mas e depois?

- O roteiro é bem estruturado. Mantém o interesse mesmo depois do sucesso dos restaurantes, pois o Ray ainda está com problemas financeiros, tem conflitos com os irmãos McDonald, ainda não teve a sacada do mercado imobiliário, etc. É uma aula de empreendedorismo.

- SPOILER: Odioso o Michael Keaton passar a perna nos sócios e colocar o sorvete instantâneo, quebrando o contrato. O personagem vai ficando cada vez mais desprezível e assustador. O filme acaba confirmando a noção que as pessoas têm de que o capitalismo desperta o pior nas pessoas, recompensa a desonestidade, a ganância, a falta de escrúpulos, etc. Isso só não prejudica o filme porque o personagem não é retratado como se fosse um herói; a performance do Michael Keaton não tenta romantizá-lo, etc (mas acho que o filme peca por não exaltar o bastante os irmãos McDonald - eles acabam parecendo meio que 2 losers).

- Legal a noção de que o nome "McDonald's" foi um fator importante pro sucesso do negócio. Mas uma coisa ainda mais básica que o filme não explica é em relação às receitas e ao sabor dos lanches. Dá a impressão que o McDonald's fez sucesso simplesmente pela velocidade do atendimento, pelo novo conceito de fast-food, por ter um nome catchy, etc. Mas e a comida? Eu sempre achei que o grande diferencial do Mc é que eles realmente têm um sabor único, um ingrediente secreto que atrai as pessoas que nem formiga ao açúcar.

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CONCLUSÃO: História de sucesso interessante e bem contada, embora o protagonista seja um tanto desprezível.

The Founder / EUA / 2016 / John Lee Hancock

FILMES PARECIDOS: Joy: O Nome do Sucesso (2015) / Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013) / Jobs (2013) / A Rede Social (2010)

NOTA: 7.3

7 comentários:

Dood disse...

Olá Caio, assisti aqui na Paulo Coelho esse filme, achei bem interessante.

Eu acho interessante o caso do Kroc com os Irmãos Mc Donalds, não sei se ele tivesse agido de outra forma ele teria êxito e transformar o Mc Donald's no que ele é hoje. Mas para mim em particular o filme passa duas mensagens: se quiser mudanças precisamos de ousadia e por mais que você faça alianças existe a competitividade em jogo, talvez se os irmãos tivessem selado o cardo dos 1% com um aperto de mão eles não teriam perdido o nome do Restaurante no final. Mas isso tô especulando também. Mesmo porque quando um dos irmãos adoece ele vai e o visita no hospital.

Mas como você disse essa dualidade entre ser conservador, não arriscar dos Mc Donald's e persistir até conseguir do Kroc é muito interessante para quem deseja empreender.

Dood disse...

Quanto ao seu comentário final é a soma de tudo, sim focaram no conceito de fast food que era um novo modelo de negócio criados pelos irmãos. A gente sabe que o valor agregado também vinha da comida, porque no início mesmo o Kroc criticava os restaurantes Drive Tru pela demora do pedido e pelo desleixo com atendimento. Por conta dos irmãos padronizarem tudo, mesmo que fosse um pedido único (sanduíches) o diferencial era o todo: atendimento rápido x lanches preparados com qualidade. Eram dois problemas sendo resolvidos, Mc Donald's acabou sendo um sucesso e tendo seu nome relacionado a isso. Pelo menos ao meu ver.

Mas aí temos os concorrentes, alguém na época tentou aplicar o sucesso dos irmãos em uma franquia própria que deu esse sucesso? Talvez não se ousasse porque eles tinham o diferencial a receita do molho...

Existe essa possibilidade, mas o filme não quer tratar disso por ser irrelevante. Eu acho

Caio Amaral disse...

No mundo da arte, essa tensão entre o lado criativo e o lado business também já foi responsável por muitos sucessos.. que talvez um lado sozinho, sem contraposição alguma, não tivesse atingido.. De qualquer forma, acho sempre errado trapacear.. esse equilíbrio deveria vir de comum acordo.. o McDonald's fez muito sucesso depois sem os irmãos McDonald, mas vai saber o que teria ocorrido se eles tivessem chegado a um acordo melhor e os irmãos tivessem permanecido na empresa.. Talvez a rede não tivesse expandido tanto, tão rapidamente.. mas talvez tivesse atingido uma reputação ainda melhor.. hoje em dia, fast-food é algo mal visto culturalmente.. como algo que não faz bem pra saúde.. um símbolo do capitalismo "malvadão".. pouca gente se orgulha de trabalhar no Mc.. Agora pegue a Disney ou a Apple, que cresceram preservando os valores do criador.. já existe um respeito maior pelos produtos, eles são capazes de vender coisas por preços mais altos, atrair profissionais e serviços melhores.. O Mc, quem sabe, poderia ser um restaurante prestigiado hoje, algo que as pessoas comem com orgulho, não como um guilty-pleasure.. Então não vejo essas artimanhas do Kroc como um mal necessário pra atingir o sucesso. Abs!

Dood disse...

Pois é... O fato dele não ter respeitado as vontades do criador meio que tirou a humanidade que o negócio dos irmãos tinha... Mas mesmo que se grite aos quatro ventos que lanches são nocivos... Eu encaro mais como experiências: já comi em diversos restaurantes dos mais caros e baratos, claro que sou pobre quem bancava era um amigo meu depois do trabalho, eu comentava que a gente não paga muitas vezes pelo valor da comida e sim pela experiência do local. E a por nos termos esse papo gastronômico ele gostava da minha companhia.

Acho fast food a mesma coisa, o conceito que os irmãos tinham era algo familiar, frugal. Comer Hambúrguer, batata frita e refrigerante como se comprasse pipoca. Um conceito similar aos podrões que tem aqui no Rio de Janeiro como a Batata de Marechal (nunca comi nesse).

Mas é engraçado que o título em Português tem mais conexão com a proposta do filme que o título em Inglês. No mais Kroc foi um cara visionário, mas não da maneira justa. Demostrou uma certa humanidade pelos irmãos no final quando um adoeceu, pelo menos ele tentou parecer.

Caio Amaral disse...

Sei que não era pra virar um restaurante chic.. mas os irmãos tinham uma preocupação maior com qualidade.. não estavam dispostos a piorar algum produto só pra expandir. Talvez isso tivesse, a longo prazo, resultado numa imagem um pouco mais nobre. Mas enfim, de qq forma eu sou fã dos lanches do Mc.. não estou falando que deu errado. Acho que o sucesso da rede, além da questão da experiência, etc, tem muito a ver com a comida em si (até porque hoje os restaurantes ficaram daquele jeito bege, sem graça, nem oferecem mais uma experiência divertida, e o povo continua indo mesmo assim).

Dood disse...

Isso é um fato: eles eram mais artistas que Kroc, que era mais empreendedor. Porque desde o desing até a comida era algo extremamente pensado. Os irmãos tinham uma visão maior para o negócio, só que estavam com dificuldade de aplicar isso. O próprio design dos Arcos Dourados no restaurante denuncia isso.

O sucesso de um negócio é a soma de tudo e de um público que sustenta o mesmo, Mc Donald's, apesar das críticas, se mantém forte até hoje. É muito difícil ver uma franquia fechar por aqui, enquanto seus concorrentes nem sempre tem a mesma sorte.

Caio Amaral disse...

Vida longa ao Mc!