Vencedora de 8 Emmys esse ano incluindo Melhor Minissérie e Melhor Atriz pra Nicole Kidman, a série conta a história de 3 mães que apesar de terem vidas privilegiadas num aspecto mais externo (são jovens, saudáveis, bonitas, têm um bom padrão de vida), enfrentam diversos dramas em suas vidas emocionais. A série foi adaptada de um livro por David E. Kelley (criador de Ally McBeal) e dirigida pelo canadense Jean-Marc Valée (dos bons C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, Livre, e Clube de Compras Dallas). Foi uma das melhores coisas que vi esse ano até agora. O grande destaque vai pros personagens, todos escritos com inteligência, sensibilidade psicológica, além de serem interpretados por um elenco extraordinário (Laura Dern, Reese Witherspoon, Shailene Woodley, etc). Há também bastante humor, e um certo suspense na narrativa - desde o primeiro episódio já é apresentado um mistério de assassinato que ajuda a criar uma linha de interesse até o episódio final. Apesar da premissa poder soar desse jeito, a intenção da série não é a de desglamourizar a vida dos ricos de forma cínica e ressentida, mas simplesmente mostrar 3 mulheres lutando por suas felicidades, por uma vida mais equilibrada, algo que não é garantido apenas pelo fato delas terem dinheiro. Apesar delas terem uma série de problemas, as protagonistas são sempre mostradas com dignidade, estatura, fazendo seus dramas parecerem até atraentes e divertidos de certa forma.
A mesma dignidade já não é oferecida pros personagens masculinos, e essa atitude anti-homem é a única coisa moralmente suspeita na série. Nicole Kidman é uma dona de casa que sofre agressões físicas regularmente do marido. A filha pequena da Laura Dern sofre agressões físicas regularmente na escola de algum garoto. A Shailene Woodley foi estuprada no passado, e seu filho Ziggy (um ator mirim incrível chamado Iain Armitage) é fruto desse estupro. Isso não é feito de maneira totalmente caricata, irracional - nem todas as mulheres na história são santas e nem todos os homens são monstros. Ainda assim, há um senso de que os homens são a fonte de todos os problemas mais graves do universo. Isso fica ainda mais evidente no episódio final (SPOILERS a partir daqui). Quando Perry começa a agredir a Nicole Kidman e as amigas na festa, a cena é intercalada por imagens de ondas quebrando em rochas, trazendo toda uma noção de que a agressividade masculina é uma espécie de força da natureza, algo inevitável, e não uma característica desse homem em particular, resultado de seu caráter. Há uma sugestão constante também de que a violência masculina é transmitida geneticamente - que filhos de pais violentos também tendem a ser violentos. Outro detalhe que traz um elemento político suspeito pro episódio final, é o fato de Perry ser morto justamente pela Bonnie, a única mulher negra da história. No contexto da trama, faria sentido a Nicole Kidman ou a Shailene Woodley matarem Perry, mas jamais Bonnie. Bonnie cometer o ato só faz sentido se você enxergar a série como uma espécie de vingança simbólica das feministas/progressistas contra o machismo/conservadorismo. Daí sim - como Bonnie representa a mulher moderna (usa rastafari, faz yoga, só come comida natural, defende liberdade sexual - ou seja, é a mais hippie e esquerdista da série) meio que faz algum sentido ser ela que mata Perry. Mas é algo que foge da lógica da história e acaba parecendo forçado. Depois que Perry é morto, há toda uma cena numa praia belíssima, onde todas as mães estão felizes, reunidas com seus filhos, brincando na areia - e nenhum dos maridos está presente (nem mesmo os maridos bonzinhos). É uma nova versão do paraíso: um lugar onde há apenas mulheres e crianças, e o homem foi finalmente eliminado da face da Terra.
Mas isso é apenas um elemento ruim dentro de uma história que fala de questões mais amplas e tem diversas outras riquezas que merecem ser aproveitadas.
2 comentários:
Eu lembrei de Pretty Little Liars que cheguei a assistir quando passava nas madrugadas do SBT, é do mesmo autor?
Não tem nada a ver não.. além do título, rs.
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