(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão - um método que adotei para passar minhas impressões de forma mais objetiva.)
ANOTAÇÕES:
- Todo o conceito das pessoas encolherem por questões econômicas é uma ótima premissa (claro que não faz muito sentido e seria desastroso a longo prazo, mas pra um filme despretensioso de fantasia é uma boa sacada).
- A introdução do filme é divertida; o anúncio da descoberta, a apresentação dos primeiros "pequenos", a noção de como seria a vida do casal em Leisureland, a mansão em que eles viveriam, etc.
- O problema é que o filme não tem um clima tão divertido quanto a sinopse pede. É como se ele quisesse ser uma ficção-científica escapista do tipo
Jurassic Park,
Querida, Encolhi as Crianças (ou talvez uma comédia high-concept como
O Primeiro Mentiroso) mas fosse dirigido por uma pessoa que só soubesse fazer filmes
Naturalistas, não-comerciais, sobre personagens comuns e problemas da vida real (o que faz sentido quando você lembra que o filme é do Alexander Payne, diretor de
Sideways - Entre Umas e Outras,
As Confissões de Schmidt e
Os Descendentes).
- O começo é um pouco arrastado e sem empolgação. O casal tem uma relação chata, demora meia hora até eles irem fazer o encolhimento, e até agora não sabemos que rumo a história irá tomar, o que eles farão da vida após o encolhimento.
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- Os preparativos pro encolhimento são horríveis (eles arrancando as obturações dos dentes, etc). Há algo de cru na fotografia que simplesmente não combina com o tom escapista da trama (o contraste bizarro entre a trilha sonora alegre que lembra de desenho animado, com as imagens hospitalares realistas).
- A cena em que o Matt Damon acorda depois do encolhimento e vai checar o pênis pra ver se está tudo bem é um toque que funcionaria num filme do Adam Sandler, mas aqui soa totalmente artificial, pois não combina com o personagem nem com o clima que o diretor criou pra história (o diretor parece não saber que tipo de filme está fazendo).
- Divertido a Kristen Wiig desistir do encolhimento e largar o Matt Damon lá sozinho. Agora pelo menos surgiu um conflito central que pode dar um rumo pra história. Ela vai mudar de ideia? Ele tentará reverter o processo pra voltar ao tamanho normal? Eles tentarão manter um relacionamento com tamanhos diferentes (isso seria interessante de ver!).
- O filme não explora bem Leisureland. Quando o Matt Damon encolhe, ele já está totalmente deprimido por estar sem a namorada, e acaba nem aproveitando o lugar. Não vemos ele vivendo a "vida ideal" primeiro, curtindo seus novos luxos, pra daí algo dar errado. Já começa tudo uma enorme frustração. O diretor parece mais interessado em desenvolver o conceito do encolhimento, os impactos disso na sociedade, mostrar como ele refletiu sobre a ideia, do que em aproveitar a situação pra proporcionar uma aventura interessante pro público. O filme é sem vida, sem emoção.
- O roteiro abandona totalmente a Kristen Wiig... Em vez dessa reviravolta criar um objetivo pro Matt Damon, ele parece simplesmente aceitar que perdeu a namorada, e agora o filme fica mostrando o dia a dia dele em Leisureland numa série de situações chatas que não caminham a lugar algum: ele saindo em dates desinteressantes, indo em festas e conhecendo pessoas novas, experimentando drogas (qual a necessidade de mostrar aquela viagem de ácido?), talvez pra tentar provar que dinheiro não traz felicidade.
- Qual a necessidade dessa empregada vietnamita pra história? A história da prótese da perna? A amiga que tem câncer de estômago e precisa de cuidados? O filme deu uma guinada totalmente absurda agora na metade... Abandonou totalmente a história original. Não só a Kristen Wiig já não importa mais, como o fato deles terem encolhido também parece irrelevante. Se no fim o filme ia ser sobre um homem abandonando seus objetivos pessoais pra passar a se dedicar aos necessitados, isso é uma história que poderia ter ocorrido na vida normal do personagem. Nenhum aspecto do encolhimento é relevante e fundamental pra essa narrativa, então parece algo simplesmente mal escrito, uma história onde as "partes" não se integram ao "todo".
- Agora está claro o propósito do filme (e por que ele estava tão bizarro e mal feito no começo). A intenção nunca foi criar um bom entretenimento. É como
A Forma da Água e tantos filmes atuais - o cineasta apenas se infiltrou num gênero comercial pra conseguir transmitir sua mensagem política pra plateia. Mostrar como o capitalismo é "malvado", como os ricos maltratam os pobres, como o altruísmo é nobre, e o egoísmo é mau (já devia ter desconfiado, afinal o Matt Damon está no filme!).
- Ridícula essa personagem da faxineira. Até parece que uma mulher tão pouco sofisticada seria uma ativista política reconhecida mundialmente.
- Agora Matt Damon vai com o vizinho e a faxineira viajar pra Noruega?! Encolhidos? Passear de barco? Não faz o menor sentido pessoas encolhidas saírem por aí na natureza selvagem, a colônia original ser um lugar totalmente desprotegido de animais, etc. É certamente um dos roteiros mais nonsense dos últimos tempos.
- Agora Damon abandonou sua namorada, sua vida luxuosa, e está iniciando um romance com uma faxineira vietnamita perneta na Escandinávia (o paraíso dos socialistas) enquanto debate os perigos do aquecimento global com intelectuais pretensiosos.
- SPOILER: Ridícula a história do fim do mundo, a "arca de Noé" que irá salvar apenas os encolhidos, que viverão na sociedade comunista ideal - uma cidade totalmente planejada, composta apenas de pessoas "pequenas", niveladas por baixo, com comida e recursos naturais pra milhares de anos sem que ninguém tenha que trabalhar de fato, etc.
- SPOILER: Se são tão poucas pessoas que irão entrar na "arca", certamente seria possível construir uma gruta do gênero pra pessoas de tamanho natural. É outro desenvolvimento péssimo da história que não depende em nada do conceito do encolhimento (sem falar que é ridículo a ciência ser tão avançada a ponto de poder encolher pessoas, mas não conseguir ainda proteger as pessoas do clima!).
- SPOILER: O final é um tédio. Matt Damon decide não salvar a própria vida, declara seu amor pela faxineira vietnamita perneta, e os dois partem juntos na missão de ajudar os necessitados e os "sem teto" de Leisureland (o roteirista deve ser débil mental pra pensar que em tão pouco tempo existiriam tantos pobres e mendigos em Leisureland, sendo que a única razão das pessoas encolherem é justamente porque elas teriam segurança financeira pra vida toda).
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CONCLUSÃO: Parte de uma premissa curiosa, mas se desenvolve numa narrativa caótica, ilógica, pouco divertida, cujo objetivo é promover ideologia política e valores deturpados.
Downsizing / EUA / 2017 / Alexander Payne
FILMES PARECIDOS: Elysium (2013) / O Preço do Amanhã (2011)
NOTA: 2.0