- Os primeiros 15 minutos são bastante intrigantes pois o filme esconde dados da plateia; mostra o interrogatório da Natalie Portman, o meteoro caindo, o marido "morto" que reaparece, os papos sobre a origem da vida - peças interessantes de um quebra-cabeça que ainda não podemos começar a montar.
- Felizmente o filme não vai pelo lado do Subjetivismo, e logo após essa introdução nos revela exatamente o que está acontecendo (ou pelo menos nos revela o que os protagonistas sabem sobre o que está acontecendo, o que é melhor ainda, pois o mistério sobre o fenômeno é preservado, nos mantendo presos até o final - como foi feito em 2001: Uma Odisséia no Espaço).
- O elenco é ótimo, os diálogos são inteligentes - acreditamos que essas pessoas são cientistas, pertencem a esse universo, o flashback da Natalie Portman e do Oscar Isaac na cama mostra uma relação positiva, convincente, etc.
- Legal a Natalie Portman decidir entrar no "Brilho" com as outras. O roteiro é bem estruturado pois quando elas atravessam a fronteira do Brilho, nada muito revelador acontece ainda.. A situação vai se intensificando aos poucos, ficando mais e mais estranha conforme elas caminham pro farol.
- Interessantíssimo esse conceito das mutações genéticas (a cena do crocodilo). É uma ideia diferente, nova, que foge dos clichês dos filmes do gênero.
- Essa ideia dos dias passarem sem elas perceberem é bem intrigante (lembra o Bruxa de Blair de 2016). Embora pareça um obstáculo meio aleatório (não é explorado de novo na história, não tem tanto a ver com a ideia das mutações, etc).
- Há algo de Idealismo Corrompido no filme, pois apesar dele querer proporcionar uma aventura empolgante, cheia de surpresas, monstros, etc, ele mantém tudo sob uma atmosfera meio deprimente - os personagens parecem estar sempre entediados, sérios, as relações são negativas, há um senso de que a vida é trágica e os seres humanos são autodestrutivos (meio como A Chegada ou, indo mais longe, filmes do Tarkovsky como Stalker e Solaris). Mas ainda assim diverte.
- A jornada é pontuada por cenas marcantes e novas informações que mantém a história se movendo (o vídeo da missão anterior que elas encontram, etc).
- A floresta, os prédios abandonados, o design das plantas e das mutações - toda a parte visual do filme é muito interessante.
- Alguns elementos da trama parecem mal desenvolvidos. Por exemplo: por que exatamente a Natalie escondeu que era casada com o Oscar Isaac? Não vejo por que isso tornaria as outras desconfiadas - acaba servindo só pra gerar confusão mais tarde com a Anya. Os flashbacks que mostram o caso da Natalie com aquele homem negro também não parecem servir pra muita coisa.
- SPOILER: Medonho o urso que invade a casa! Essa é uma daquelas cenas com potencial pra virar um momento clássico do cinema cult.
- SPOILER: A Josie virando planta na sequência também é bem sinistro. É interessante que o "vilão" do filme não é uma pessoa ou um bicho, e sim algo metafísico: o caos, a desordem em si... Algo alien que cai no nosso mundo trazendo o irracional, destruindo as leis da física, etc.
- O final no farol pretende ser um grande Set Piece surrealista, mas não chega a ser tão brilhante e satisfatório quanto os dos filmes do David Lynch, ou o final de 2001, por exemplo. Aqui o filme parece apelar pro Subjetivismo e pro Pessimismo pra parecer mais profundo, o que nos remete mais a coisas do Christopher Nolan.
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CONCLUSÃO: Apesar de alguns elementos insatisfatórios, o roteiro é muito bem fundado e resulta numa das ficções mais criativas e assustadoras dos últimos anos.
Annihilation / Reino Unido, EUA / 2018 / Alex Garland
FILMES PARECIDOS: Vida (2017) / A Chegada (2016) / Ex Machina (2015) / Corrente do Mal (2014) / Sunshine - Alerta Solar (2007) / 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)
NOTA: 7.5
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