A história é tão confusa e mal contada que nenhum espectador deve se enganar que a intenção do filme é de fato te envolver com o suspense, provocar sustos, criar tensão através dos acontecimentos em si (como faziam os slashers). O terror aqui é apenas um pano de fundo irrelevante pra diretora mostrar como ela é cool por modernizar o gênero inserindo toques progressistas na história, falando de conflitos de classes, relações LGBTQIA+, insegurança geek, colocando atores que não parecem astros como protagonistas (o tipo de "casting naturalista" que é popular hoje), etc. O espectador não participa ativamente da narrativa. Fica apenas assistindo os personagens virem a cada 5 minutos com uma nova teoria nonsense para explicar os assassinatos, e depois bolando estratégias igualmente incompreensíveis para escapar deles. Pegue, por exemplo, a cena em que a garota na van diz para os amigos que o monstro está perseguindo eles por causa do sangue respingado na camiseta de um dos garotos (que convenientemente nunca troca de roupa). Como ela chegou a essa conclusão? Não temos ideia. É apenas mais uma hipótese arbitrária que o espectador tem que aceitar passivamente, sem base alguma pra acreditar — e com base nessa ideia, eles então partem para a próxima fase do plano, que é igualmente sem nexo, nos deixando cada vez mais desconectados da ação (o momento onde um dos personagens traça um paralelo entre o monstro e o Tubarão do filme de 75, pra prever seu comportamento já que ambos gostam de sangue, é a mais péssima das tentativas do filme de enfiar referências a clássicos nas conversas).
Como falei de Luca, é um filme que só funciona pra um tipo de espectador que já perdeu a capacidade de se encantar com o cinema, de "suspender sua descrença" pra acreditar momentaneamente no fantástico (o que exige muita inteligência e persuasão por parte do filme), e agora assiste filmes apenas pra avaliar as ideias sócio-políticas sendo sinalizadas pela história, checar se aprova ou não o "conceito" do diretor, não pelo prazer real de assisti-los.
Fear Street Part 1: 1994 / 2021 / Leigh Janiak
3 comentários:
Fico triste com filmes indo por esse caminho de panfletagem.
Então não fui o único a notar problemas de elenco nos filmes dos últimos anos. Esses dias vi alguns filmes com atores negros nos anos 90 e notei como eles realmente pareciam personagens, tinham o rosto, a maquiagem e o penteado adequado para o papel e eles pareciam fazer parte do mundo da história. Hoje em dia os atores étnicos todos tem cara de revoltados ou de vítimas, se vestem como se fossem revolucionários, tem penteados e características físicas cada vez mais próximas de tribos (todo personagem árabe agora tem que usar pano na cabeça e mostrar que o islã não é tão cruel como os americanos dizem, por exemplo) e mais distante do espectador "mundial" e acabam parecendo mais com caricaturas do que com pessoas.
Também achei estranho usar o visual dos anos 80 como se fosse dos anos 90. O que demonstra que o público mais jovem já atingiu uma fase de ignorância e de falta de senso crítico no campo do cinema que fica difícil aceitar que eles são o futuro da racionalidade quando criticam pessoas mais velhas que negam a pandemia e a vacina.
Dood - é o que dá prestígio hoje né :-/
Anônimo - pretendo fazer um post em breve comentando esse fenômeno.. mas realmente, o entretenimento hoje é muito mais preocupado em ser politicamente correto, inclusivo, representativo, do que em ser prazeroso, talentoso, etc. E mesmo quando não existem essas caricaturas étnicas.. existe a tendência de evitar atores que projetem uma imagem muito superior à média da população.. como se a velha noção de astro de cinema fosse opressora, não inclusiva, etc. abs.
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