quinta-feira, 11 de abril de 2024

Haters do YouTube

Depois da postagem 6 momentos que me fizeram desgostar da Rainha Elsa de "Frozen", minha crítica em vídeo do filme Close foi provavelmente a que gerou o maior debate. Já respondi todos os argumentos que surgiram na seção de comentários YouTube, mas os comentaristas continuam trazendo de volta os mesmos pontos. E há uma grande semelhança entre este debate e o de Frozen: nos dois casos, o que incomodou as pessoas foi o fato de eu não ter achado convincente o sofrimento do personagem, a ponto deste sofrimento justificar seus atos destrutivos. Pra mim, a questão de Close era mais de credibilidade, roteiro, tanto que eu reclamo igualmente de filmes que não são convincentes ao retratar o heroísmo de algum personagem. Mas as pessoas ficaram tão tocadas com o drama do garoto Remi, que parece que se ofenderam com meu olhar "frio" sobre a história. Um pouco, quem sabe, como eu me sentiria se alguém ficasse apontando inconsistências na caracterização de um Indiana Jones, que colocassem sua estatura em xeque. Só que neste caso, o que me levaria a ficar na defensiva seria meu desejo de preservar a visão heroica que tenho do personagem. Já no caso de Close/Frozen, as pessoas ficam na defensiva pois querem preservar o status dos personagens como vítimas indefesas — é isto que eu estou colocando em xeque quando questiono a depressão de Remi. O debate acaba servindo como uma boa ilustração dos 2 tipos de espectadores (os que buscam inspiração na arte vs. os que bucam conforto) que discuto no texto O que é Idealismo.

Falando em "haters", uma coisa que me surpreendeu no YouTube foi a ausência de críticas sérias às minhas análises. Quando tocamos em assuntos polêmicos ou temos opiniões que vão contra o mainstream, às vezes ficamos com receio de colocar essas ideias no mundo e testá-las com o público, pois sabemos que há sempre uma chance de estarmos errados e de alguém trazer à tona algum fato inesperado que invalide nossas conclusões. Mas não só isso nunca aconteceu durante este ano todo que fiz críticas em vídeo (os comentários negativos em geral só expressavam reprovação, mas não tentavam contra-argumentar) como percebi também uma tendência curiosa: praticamente toda vez que chegava um comentário mais agressivo, confiante, de mais de 1 linha, tentando esboçar um quase-contra-argumento, a pessoa era tão sem-noção que só de entrar rapidamente no perfil dela eu concluía que era inútil perder meu tempo respondendo. Alguns exemplos que fiz questão de salvar:

Do vídeo sobre Som da Liberdade (2023):






Do vídeo sobre Idealismo Corrompido:



...daí entrando no canal pessoal do autor do comentário (um professor) me deparei com este vídeo dele ⬇



Os comentários no vídeo de Close foram os mais honestos, tanto que parei pra responder vários, mas mesmo assim, ninguém disse nada realmente convincente (quando revi o filme pra ter certeza do que estava falando, fiquei chocado de ver que minhas impressões iniciais eram ainda mais óbvias do que eu lembrava, e que o público estava fazendo um malabarismo incrível pra acreditar que certas cenas mostravam um quadro depressivo grave). Mas tirando este caso, os 3 comentários acima foram talvez os ataques mais "desafiadores" que recebi esse tempo todo.

Claro que meus vídeos tiveram pouco alcance. Alguém com centenas de milhares de seguidores certamente deve receber críticas de pessoas mais interessantes. Mas essa experiência já serviu pra mostrar que aquela noção que eu tinha, que seria confrontado por argumentos fortes e válidos sempre que postasse algo impopular, se provou algo muito mais hipotético do que eu poderia ter previsto.

6 comentários:

Dood disse...

Tem uns aí que nem assistiram o video todo da crítica do Som da Liberdade para falar essas coisas e entender o seu lado. As pessoas tão muito presas a convicções e quaisquer exercício crítico mais complexo e profundo as agride.

Caio Amaral disse...

A pessoa parece que vê o vídeo com 1 pergunta em mente: "esta pessoa pertence à minha tribo?" - quando percebem que não, acaba o interesse.

Dood disse...

Isso vai cada vez mais ser comum, não para. São poucos os que enxergam fora da Janela de Overton (Discurso polarizado), muitos vão dropar sem ver o que você tem a dizer só porque criticou obras, que para eles, são imaculadas.

É o diferencial do seu trabalho: você não tem culpa se os outros não conseguem perceber uma crítica, entender seu lado e avaliar - não precisando concordar também, apresentando argumentos bons, não essas avaliações simplistas demais.

Acompanho seu trabalho desde 2016, e fico admirado com sua retórica e me ajudou a enxergar o entretenimento de um outro prisma. Isso me impactou, e devem existir muitos assim também. Lembro de ter visto elogios nos comentários de seus vídeos.

Você é incrível, sua percepção me ajudou a fundamentar bases filosóficas num momento que ainda estava sentido pela morte da minha mãe também. Tenho muito a te agradecer.

Caio Amaral disse...

Legal Dood, fico feliz de ter tido um impacto positivo.. Uma das coisas ruins de moldar seu conteúdo pra aumentar views é que você perde justamente essa capacidade.. começa a falar só aquilo que todos já estão acostumados a ouvir, o que reduz as chances do seu conteúdo ter um impacto significativo. abs!

Dood disse...

Nem é o fato de moldar, você está conseguindo a meu ver fazer um bom trabalho. Você tá no mesmo nível da Boscov em questão de produção de vídeos. Teu formato funciona bem.

Caio Amaral disse...

Ah, não quis dizer que eu tinha me moldado já, apenas que essa seria uma das consequências, caso fosse pelo caminho que discuti na postagem "Update: YouTube" em Fevereiro. Acho que em termos de formato e produção, o que eu estava fazendo em vídeo já estava bom o suficiente mesmo.. minha filosofia é o que realmente destoava dos canais mais populares na minha visão. abs!