quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Elle

NOTAS DA SESSÃO:

- Isabelle Huppert está ótima e a personagem é divertidíssima. A maneira como ela reage ao estupro, se relaciona com o filho - é tudo muito anti-convencional e de certa forma libertador. É engraçado ela ser uma mulher séria, sofisticada e ao mesmo tempo produzir video games vulgares, levando esse trabalho a sério (é meio como o diretor Paul Verhoeven, que dirigiu Showgirls, Tropas Estelares, mas parece ser um artista com mais peso que isso).

- O flashback mostrando a cena do estupro com mais detalhes é ótimo, chega a dar susto o cara na janela.

- Hilário ela indo comprar armas, depois batendo no carro pra fazer a baliza. O comportamento dela é sempre inesperado, beirando o absurdo. Só não parece ilógico porque há certa justificativa psicológica pra ela ser assim. Aos poucos vamos entendendo o passado da família dela, a história do pai, etc. Não é apenas o diretor fazendo bizarrices pra divertir a plateia. Ela sente que é uma pessoa má, culpada pelo que houve, portanto acha quase compreensível alguém violentá-la, a mulher jogar a bandeja em cima dela, etc.

- O filme não tem uma narrativa forte (é mais focado em caracterização), mas tem mistério o suficiente pra deixar a gente interessado na história (queremos saber quem é o estuprador, se é alguém do trabalho, quais segredos ela guarda, etc). Sem falar que o filme é uma cena inesperada após a outra, como a história do bebê negro, o acidente de carro, etc. Não é um filme naturalista monótono (como disse sobre Aquarius, onde haviam muitas cenas de rotina meio arrastadas).

- SPOILERS: O público conservador irá detestar, mas eu me divirto com o tom subversivo do filme, a desconstrução dos conceitos de família, maternidade, religião, tradição (o jantar de natal surreal, a mãe dela namorando o garoto de programa, a Isabelle Huppert se masturbando enquanto os vizinhos montam o presépio, etc).

- Ótima a cena quando ela conta pro vizinho a história completa de como ocorreram os assassinatos.

- SPOILERS: Depois que descobrimos quem é o estuprador a história perde um pouco o pique, pois não temos muito mais expectativas (até a relação dela com o pai que era outro ponto de interesse se perde pois ele se mata na prisão).

- SPOILER: Faz sentido o filho estar ali pra salvá-la quando ela está sendo atacada pela última vez? O final não é ruim, mas não há muito senso de conclusão, afinal a história era mais uma exploração do personagem do que um enredo estruturado. Mas a imagem final é forte e simbólica - ela e a amiga andando pelo cemitério descontraídas, planejando morar juntas (apesar de uma ter traído a outra recentemente). Ou seja, no meio de mortes, traições, relações destrutivas (visualmente representadas pelo cemitério), a protagonista segue em frente tranquila, pensando no futuro, sem se deixar abalar.

------------------

CONCLUSÃO: Estudo de personagem interessante, divertidamente subversivo, com uma performance memorável de Isabelle Huppert.

Elle / França, Alemanha, Bélgica / 2016 / Paul Verhoeven

FILMES PARECIDOS: Aquarius (2016) / Mommy (2014) / Ninfomaníaca (2013) / Anticristo (2009) / Caché (2005) / A Professora de Piano (2001)

NOTA: 7.5

4 comentários:

Dood disse...

Anotado para pegar quando sair em DVD.

Caio Amaral disse...

Legal.. é um filme pesado (apesar de eu ter me divertido bastante) não sei se é seu estilo.. dá uma olhada nos filmes que coloquei em FILMES PARECIDOS pra sentir o clima, hehe. abs.

Dood disse...

Eu sei.

Particularmente não tenho preconceito com filmes assim, porque sou do tipo que assisto de tudo, raramente tenho bloqueio pra isto.

De todos os filmes analisados aqui esse, Café Society e Florence: Quem é essa mulher? São os que mais quero ver.

Caio Amaral disse...

Legal. Todos esses 3 eu recomendo, por qualidades diferentes..!