(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão - um método que adotei para passar minhas impressões de forma mais objetiva.)
ANOTAÇÕES:
- Na postagem
A intenção de um filme eu listo como uma das "más intenções" quando o objetivo primário do filme é:
"amenizar a dor ou a baixa autoestima do espectador triste ou com senso de inferioridade, retratando personagens infelizes ou problemáticos de maneira positiva - não em prol do entretenimento, mas pra provocar um senso de "conforto" e identificação no espectador, mostrando que outros sofrem como ele, que ele não está sozinho em sua miséria" - então eu de cara já não embarco muito na história de
Tully porque esta é justamente a proposta do filme - dizer pra mães exaustas que a maternidade realmente é uma tortura, e que elas não devem se sentir culpadas por estarem infelizes, não conseguirem ser mães ideais, etc.
- O filme em geral é do tipo
Naturalista, mas às vezes ele tem umas atitudes
Anti-Idealistas ruins quando, pra "confortar" o espectador frustrado, ele se permite alfinetar pessoas felizes e bem sucedidas (como o irmão e a cunhada) sem justificativa alguma (retratando elas de maneira ridícula, caricata, como se felicidade fosse uma espécie de alienação).
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- Não gosto do
pessimismo e da vitimização. Se pelo menos o filme contrastasse os momentos difíceis com alguns momentos positivos entre ela e os filhos, pelo menos 1 sorriso dela direcionado ao bebê, mostrando a criança como algo de valor, o filme pareceria melhor intencionado... Mas não - é como não houvesse
nada de compensador na situação. O filme retrata o bebê como se fosse um pedaço de carne sem alma que está ali só pra gritar e arruinar as noites da Charlize Theron. É um filme com uma visão vazia e materialista da vida. E a pergunta que não quer calar: se ter filhos é tão infernal assim, por que o casal está no filho número 3? Somos obrigados a perpetuar a espécie? A seguir o mesmo roteiro que todo mundo?
- Quando chega a Tully (babá) o filme dá uma melhorada no tom. Mas espero que a mensagem final não seja tão rasa assim ("A vida está muito puxada? Então aceite dinheiro do seu irmão rico e contrate um empregado!").
- Há algo de suspeito na Tully. O filme quer que a gente a veja como a babá perfeita, como uma nova amiga da Charlize, mas há algo de sinistro e falso na personagem que torna as cenas incômodas. Não sabemos nada sobre a vida dela, ela não demonstra emoções autênticas, está sempre com uma atitude estranhamente positiva, altruísta, que soa manipulativa... E não faz sentido uma menina tão qualificada assim estar nesse emprego... A gente fica esperando baixar a Rebecca De Mornay nela a qualquer momento.
- SPOILER: Péssimo (e totalmente artificial) a Tully transar com o marido da Charlize pra "ajudar" na vida sexual do casal. Essa cena na cama chega a ser incômoda de ver. Ou então mais pra frente quando ela espreme o peito da Charlize no banheiro pra ajudar o leite a sair. Se fosse um filme de terror onde a babá fosse pra ser sinistra, seria perfeito. Mas o filme continua querendo mostrar a Tully como se fosse uma babá moderna, admirável, um anjo que caiu na vida da Charlize.
- SPOILER: Uma tolice a revelação final de que a Tully só existia na imaginação da Charlize. Na postagem
Simbolismo e Filmes Interpretativos eu discuto por que desaprovo filmes que vêm com uma "carta na manga" no último momento e com isso tentam consertar uma narrativa que foi inteira problemática. Se eu passei 1h30 de filme achando tudo mal escrito, sem realismo psicológico, a personagem estranha, sem carisma... Não adianta no fim dizer "supresa, era tudo simbólico!" e achar que o espectador sairá satisfeito. Isso é apenas a Diablo Cody (roteirista) tentando pagar de espertinha, colocando sua sacada "genial" acima de questões narrativas mais importantes. E a mensagem é uma chatice: "Vejam maridos, não existem Tullys na vida real, então tratem de ajudar suas esposas nas tarefas domésticas!". Reparem como o filme promove uma maneira destrutiva de se lidar com os problemas da vida: o desejo da Charlize no começo do filme é o de obter ajuda pra cuidar dos filhos, o que é totalmente compreensível (o desejo do protagonista é o que chamamos de a "espinha" da história). No fim, como é que a "heroína" conquista seu objetivo? Sendo responsável, assertiva, racional, criativa, buscando soluções de ganha-ganha, dando um exemplo inspirador pra plateia? Não: quase se matando num acidente de carro, até que seu marido finalmente fica convencido de que ela é incapaz, digna de pena, chegou no seu limite, e assim decide ajuda-la com base na culpa. E o irmão rico da Charlize também era imaginário? Ele não continua disposto a pagar por uma babá? Com 3 filhos pequenos (sendo 1 autista) isso ainda não seria uma ótima opção pro casal, mesmo que eles não achassem uma babá tão "mágica" quanto a Tully?
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Tully / EUA / 2018 / Jason Reitman
NOTA: 4.0