sexta-feira, 27 de julho de 2018

Missão: Impossível - Efeito Fallout

Um dos filmes mais eletrizantes da última década, que comprova não só a importância dos Set Pieces nos filmes (um princípio que é a essência da série Missão: Impossível), como também do realismo e da objetividade na direção de cenas de ação (noção clara da geografia, evitar cortes excessivos que confundem o espectador, stunts realistas, efeitos práticos, personagens com forças e fragilidades razoavelmente aceitáveis, etc). Outro elemento particularmente marcante nesse filme é a trilha sonora magnífica, que às vezes é tão poderosa que dispensa qualquer outro tipo de áudio (em pelo menos 2 breves sequências eles cortam totalmente o som ambiente, as vozes, e ficamos apenas vendo imagens ao som de música, lembrando quase o cinema mudo).

Não é o roteiro que torna esse filme acima da média - não há nada de especial aqui em termos de trama, personagens, diálogos, ideias originais, etc. O que realmente eleva o filme pra outro patamar é a direção, particularmente a direção desses Set Pieces de ação, que consegue através da trilha, da fotografia, da edição, transformar cenas que seriam até corriqueiras (por exemplo o carro-forte girando semi-submerso, ou Cruise perseguindo o vilão a pé dentro dos prédios, sendo guiado por rádio pelo parceiro) em um enorme êxtase audiovisual, daqueles que dão vontade de rever depois isoladamente apenas por apreciação estética. O clímax com os helicópteros então, são alguns dos minutos mais espetaculares já vistos num filme do gênero.

O único ponto fraco do filme talvez seja o fato que, quando não há ação, a trama se torna um tanto confusa - aquele senso de clareza e objetividade que temos quando estamos vendo Cruise pendurado em cordas e desfiladeiros, simplesmente desaparece e se transforma num jogo de xadrez impossivelmente complexo, onde há 15 coisas acontecendo ao mesmo tempo, nunca sabemos as verdadeiras motivações dos personagens, quais os próximos passos, quem está enganando o outro ou sendo enganado (algo que não ocorre num filme como Intriga Internacional de Hitchcock, por exemplo - sempre uma referência pra filmes desse tipo - onde as cenas de diálogos, de desenvolvimento de história e de personagens são tão ricas e fáceis de acompanhar quanto os famosos Set Pieces).

Mas mais uma vez tiro meu chapéu pra Tom Cruise (que me parece ser a grande mente por trás de seus filmes, apesar dele não ser o diretor) por conseguir mesmo nos tempos atuais nos apresentar um herói puro, "desenvergonhado", numa história intocada pelos valores Anti-Idealistas que dominam Hollywood hoje, e criar um entretenimento capaz de agradar 3 públicos raramente em sintonia: eu, o público em geral, e a crítica - provando que ele realiza missões impossíveis não só na tela como na vida real também.

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Mission: Impossible - Fallout / EUA / 2018 / Christopher McQuarrie

NOTA: 8.5

4 comentários:

Marcus Aurelius disse...

Olá Caio. Tenho acompanhado bastante mas comentado bem pouco. Se não tenho nada de construtivo a dizer, então não digo nada. Inclusive aqui não vou comentar sobre a postagem, mas perguntar o que houve com o seu outro blog, o Profissão Filósofo? Adorava aquelas postagens sobre música.

Caio Amaral disse...

Oi Marcus tudo bem? Eu tornei aquele blog privado e apenas "migrei" algumas postagens pra cá (O que nos Atrai à Arte, etc).. Aquele post da tabela de acordes estava lá apenas, mas agora que vc mencionou eu trouxe ele pra cá tambem :-P

https://profissaocinefilo.blogspot.com/2016/05/emocoes-e-relacoes-entre-acordes_26.html

Você que conhece bem essas postagens teóricas, tem alguma coisa que pra vc nunca não ficou muito clara.. algo que parece contraditório, ou um ponto importante que nunca abordei sobre os filmes? Se lembrar de algo me fala, tenho sempre uma listinha aqui de possíveis postagens pro futuro hehe. Abs!!

Marcus Aurelius disse...

Olá Caio. Tudo bem, e vc?

Que pena que tenha tornado o blog privado. Eu gosto muito dessas postagens. Como eu havia dito, são pensamentos e elaborações que eu sou incapaz de fazer, ou não consigo alcançar no mesmo nível. Mas não só isso, como simpatizo com o teor e o conteúdo das postagens, então é um ganho duplo. Que bom que migrou elas para cá.

Eu me lembro sim de várias coisas que eu sinto que ficaram incompletas, faltantes. Mas precisaria reler com calma e ver se uma certa questão está respondida em outro lugar.

Uma das coisas que até hoje eu me pergunto, é na sua postagem de Toni Erdmann. Vc havia dito que é um filme de uma piada só. Assisti o filme, mas o meu senso de humor é tão ruim que eu não consegui entender qual é essa piada e porque é uma só. Há outra questão também sobre cenas de ação, que me pareceu contraditório. Mas não me lembro qual o filme exato.

Essa é uma questão que não está em uma postagem técnica, mas em crítica de um filme. Talvez não se aplique. Mas sei que há várias coisas que eu sinto que não ficaram respondidas nas postagens técnicas. Vou procurar reler elas. Abraços!

Caio Amaral disse...

Sobre o Toni Erdmann... trace um paralelo com O Artista do Desastre, e como o humor vem todo do fato do James Franco ser uma pessoa sem-noção achando que está fazendo um filme sério... é apenas 1 incongruência, 1 sacada, e em cima disso são criadas 200 situações e piadas diferentes... Só que no caso do Toni Erdmann não é um humor tão universal... é uma daquelas coisas que ou "clica" ou não clica no espectador... pq senso de humor pode ser algo tão pessoal quanto atração sexual.. por isso não se prenda a esse filme, se vc não viu graça acho perfeitamente aceitável.. se o filme tem 1 defeito é justamente o de não ser universal o bastante, de não poder ser aproveitado por um público maior..

Isso das cenas de ação não faço ideia.. depois me fala..! Abs!