quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Vidro

Continuo batendo na tecla que o grande mal da carreira do Shyamalan é o fato dele não reconhecer suas limitações como roteirista, e insistir em escrever praticamente todos os seus filmes sozinho (como diretor acho ele bastante talentoso). Este Vidro - uma sequência que pretende explicar o link entre Corpo Fechado e Fragmentado - pra mim acabou resultando numa grande bagunça, um roteiro mal cozido que parece ter sido feito às pressas apenas pra Shyamalan não perder o embalo de Fragmentado, seu primeiro não-fracasso em muitos anos.

Aqui você entra no cinema esperando uma história dramática com super-heróis, ação, efeitos especiais caros, mas na maior parte do tempo o filme se passa num hospital, em ambientes pequenos, com os heróis sentados em cadeiras, divagando sobre seus problemas psicológicos (o filme custou só 20 milhões de dólares). E o conteúdo não é tão rico assim a ponto do filme se manter interessante só na base de diálogos. SPOILER: Pra piorar, o grand-finale que eles ficam anunciando, que seria uma sequência de batalha na inauguração do maior prédio da cidade, é cancelado de última hora e o filme acaba resolvendo o clímax num estacionamento comum de um prédio, usando poças d'água e elementos nada épicos como forma de intensificar a ação.

Até há uma mensagem interessante na história que é a ideia de existir uma conspiração mundial suprimindo os heróis, vilões disfarçados de pessoas comuns, de intelectuais, que manipulam os heróis e fazem com que eles duvidem de suas capacidades, deixem de exercitar suas virtudes - uma metáfora interessante pros tempos atuais que poderia ter elevado o material caso tivesse sido melhor explorada.

Glass / EUA / 2019 / M. Night Shyamalan

NOTA: 4.0

3 comentários:

Rodrigo E. disse...

Caramba Caio, esperávamos coisas bem diferentes do filme! haha. Como fã do primeiro filme desse universo, tudo o que eu não queria era um show de efeitos especiais e grandes batalhas, estilo Marvel.

Achei o roteiro um pouco bagunçado mesmo. Tudo tb me parecia pouco verosímil (aquela doutora já tinha visto do que eles eram capazes, mesmo com uma postura científica não tem como levar a sério a ideia de que eles eram apenas pessoas comuns com transtornos mentais), mas o final acabou explicando e me fazendo perdoar essa parte.

Achei Vidro bom a nível de Fragmentado. Pra mim ambos estão longe de funcionar tão bem como Corpo Fechado, mas considero bons filmes que provavelmente vou reassistir futuramente. Só espero que tenha acabado aqui, não faz sentido um quarto filme mais.

Pra mim é melhor que qualquer um dos filmes de super heróis lançados nesses últimos anos. Mas isso não quer dizer grande coisa tb, pq não consigo assitir até o fim nenhum filme da Marvel ou DC, acabo dormindo ou desistindo no meio mesmo, rs.

Caio Amaral disse...

oi Rodrigo, ah.. acho que qualquer filme que lide com heróis, super-poderes, com o sobrenatural.. naturalmente vc acaba esperando uma produção mais rica, que consiga criar um senso de espetáculo, escapismo.. Fragmentado tinha mais um clima de thriller, de filme de sequestro, serial killer.. então a dimensão mais intimista não me frustrou.. aqui ficou parecendo por falta de verba mesmo - até o efeito da caixa d'água estourando ficou mal feito apesar de parecer algo simples.. Mas não queria que fosse igual filme da Marvel não, que costumo achar bem ruins tb, rss. Mas enfim, minha reclamação maior é sobre o roteiro mesmo.. não achei nada interessante o trecho do sanatório.. aquela psiquiatra se fazendo de cética.. depois há cena após cena do James McAvoy mudando de personalidade, que parece mais exibicionismo do ator do que algo pra contar a história.. a menina sobrevivente do Fragmentado que não tem muito o que fazer no filme.. aliás, falta um protagonista pra história.. até mesmo o final eu não engoli, a ideia que o mundo todo iria se mobilizar assim que os vídeos caíssem na internet.. só por causa das demonstrações de força.. ainda mais hoje em dia que qualquer um pode fazer montagens, postar vídeos fake, etc.. abs!

Caio Amaral disse...

Tb não me empolga esse conceito de herói.. de que ser herói é nascer com um poder físico X.. os personagens em si não são admiráveis, interessantes.. o Samuel L. Jackson está quase catatônico boa parte do filme.. e é um vilão.. chama mais atenção a fragilidade dele do que o "poder" de ser inteligente.. que não chega a ser sobre-humano.. o poder do James McAvoy tb é terrível, parece mais uma doença que vc jamais iria querer ter... e o Bruce Willis só consegue levantar coisas pesadas, dobrar aço.. mas não é um personagem atraente como um todo.. sei lá, não vejo muita graça.. a não ser que vc seja fã de quadrinhos, goste das homenagens, referências, etc..