Antologia de terror na linha de Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019) que conta várias histórias envolvendo mortes e eventos sobrenaturais, aparentemente desconectadas, mas que aos poucos se mostram partes de um mesmo universo. O filme foi baseado em livros escritos por Clive Barker entre 84–85 que já tiveram uma adaptação para o cinema em 2009 mas não fez muito sucesso. Comecei o filme animado, principalmente por questões estéticas: as locações atraentes, a direção de arte, a escolha da atriz da primeira história — tinha algo meio anos 80 na produção (a biblioteca no início parecia o começo de Os Caça-Fantasmas, a heroína parecia uma "final girl" de filmes como Sexta-Feira 13 ou A Hora do Pesadelo). Achei que o filme conseguiria fazer o que O Homem Invisível (2020) fez — parecer atual, mas resgatando alguns ingredientes indispensáveis de filmes do passado que foram sendo esquecidos. Em termos de direção o filme até traz um pouco disso, o grande problema aqui é que as histórias me pareceram extremamente arbitrárias e mal resolvidas. Uma coisa que me incomoda profundamente em histórias de terror é quando o filme falha em estabelecer uma justificativa para o sobrenatural, o porquê de subitamente coisas sobrenaturais começarem a acontecer, já que no mundo em que vivemos nada disso ocorre normalmente. Pra mim é importante que o sobrenatural tenha uma causa, e que o filme seja consistente em relação a isso. Por exemplo: em Brinquedo Assassino, o sobrenatural ocorre pois um serial killer usa vodu haitiano para transferir sua alma para um boneco. Então tudo o que ocorre de sobrenatural no filme está conectado à essa premissa do vodu haitiano funcionar. Outros filmes podem usar extraterrestres, cemitérios indígenas, religião, bombas atômicas, o poder do cérebro e diversas outras coisas como causa. O importante é ser consistente e não misturar categorias. Se em Brinquedo Assassino, além do boneco ganhar vida, o garotinho fosse aterrorizado por vozes vindo pelas paredes, isso seria um fenômeno de outra natureza que não poderia ser explicado pela premissa do vodu/transferência de alma. Books of Blood faz isso o tempo todo. E o pior pra mim é quando um filme borra a linha entre eventos sobrenaturais ocorrendo no mundo externo, com visões/alucinações ocorrendo apenas na mente do personagem. Há uma cena na primeira história, por exemplo, em que a protagonista está num ônibus, e ao olhar pra cima (onde há um painel com ventilação, botões etc.) ela enxerga 2 olhos através do painel (olhos que jamais poderiam estar ali). Então você conclui que 1) ela está alucinando, ou 2) é um filme sobre fantasmas, aparições, entidades não-físicas. Mas conforme a história se desenvolve, o horror da trama no fim tem a ver com um casal de psicopatas que enterram pessoas em sua residência e as mantêm semi-vivas dentro de paredes, sob o piso etc. As peças não se encaixam direito, as histórias levantam expectativas que nunca são satisfeitas, e às vezes elas parecem simplesmente tolas, mal escritas. Algumas cenas isoladas conseguem provocar arrepios (adorei o menininho com leucemia, por exemplo, e essa trama do médium pra mim foi a mais interessante), e talvez essa habilidade de imaginar acontecimentos ou cenas sinistras seja o grande mérito da obra original (que eu não li pra poder julgar). Mas no filme, esses são apenas momentos eficazes isolados dentro de uma narrativa estranha e insatisfatória.
Books of Blood / EUA / 2020 / Brannon Braga
NOTA: 5.5
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