Minhas críticas aos filmes do Nolan são quase sempre as mesmas pois minha objeção em geral não está relacionada ao conteúdo particular de cada filme, mas à linguagem, ao Nolan em si, ao fato de eu achar ele roteirista/contador de histórias trapaceiro, não-objetivo, com vícios bem específicos que já fazem parte de sua marca registrada. Então não importa qual o tema da vez, todos os filmes passam pelo "tratamento Nolan" e terminam com as mesmas características que sempre detesto. Tenet não foi diferente. É o velho esquema: a premissa não tem a menor lógica, a narrativa é um absoluto caos, e o diretor usa a confusão da plateia e seu poder de manipulação pra tentar parecer científico, genial, profundo, complexo, sem ser nada disso. No meu livro eu falo mais a fundo sobre essa questão no capítulo "Emoções Irracionais" — um texto que foi tirado aqui do blog mas que foi incrementado e ganhou parágrafos extras nesse segmento sobre Nolan.
Tenet / Reino Unido, EUA / 2020 / Christopher Nolan
NOTA: 4.0
7 comentários:
Eu vi que nem mesmo os fãs de Nolan estão curtindo muito o filme. O Chris Stuckmann disse que o Nolan ainda não dominou a habilidade do som porque mal dá pra ouvir os diálogos dos personagens, como se o nolan mesmo não quisesse que a história fosse compreendida. Vários outros críticos dizem coisas parecidas, que o Nolan teve muita liberdade nesse filme e isso atrapalhou a experiência
Eu lembro que quando vi o trailer pela primeira vez, sem saber que se tratava de um filme do Nolan, quando os terroristas invadiram o concerto musical e pisaram no violino, eu pensei "isso tem cara de Nolan". Mas a minha impressão no final foi de que o filme fosse um daqueles filmes russos genéricos de ação, que tentam imitar os filmes de ação americanos
Ele já usa esse truque do som há um bom tempo.. é tudo muito barulhento mesmo.. às vezes estamos vendo uma cena mais casual ou feliz, os personagens velejando.. mas a trilha/efeitos sonoros estão no talo, como se fosse o fim dos tempos.. É o que já disse no passado sobre ele sobrecarregar/oprimir o espectador com estímulos sensoriais.. visuais imponentes, muito barulho.. e através disso tentar parecer importante e dramático.. disfarçar que as cenas em si não têm tanto conteúdo/lógica.
Dá a impressão que o Nolan usa alguma hipnose em seus filmes pra conseguir tantos adoradores. Quando assisti Interestelar, achei uma droga, A Origem então, nem se fala, mas basta dizer pra algum cinéfilo metido a cult que não curto os filmes do cara pra ser considerado um herege.
Por um lado eu até tenho um certo respeito pelo Nolan por trazer filmes mais autorais numa era em que superproduções se resumem a filmes da Marvel ou reboots, mas meu respeito termina quando ele mete essas pseudofilosofias tiradas de livros de autoajuda. E sem contar com as trilhas sonoras que não diferem em nada dos Transformers. E esse é um estilo dele que dificilmente vai abandonar enquanto houver uma massa que o idolatra.
Há um paralelo interessante que pode ser feito entre o subjetivismo/irracionalismo crescente no mundo (a rejeição da ciência, do jornalismo) e a ascensão de Nolan, a preferência das plateias por filmes que questionam a natureza da realidade, que discutem mais estados mentais do que fatos externos/objetivos.. Essa onda começou lá no fim dos anos 90: Matrix, Clube da Luta.. de repente as plateias começaram a questionar a realidade de maneira mais filosófica, pensar de forma diferente.. Só que esses filmes dos anos 90 ainda eram totalmente objetivos na comunicação, na linguagem.. Nolan foi uma "evolução" disso.. pois agora o subjetivismo não era apenas uma discussão curiosa que o filme levantava, agora ele fazia parte da própria narrativa, da experiência de assistir ao filme.
Sim, também gosto dele tentar trazer o elemento autoral para as superproduções etc. Por isso vou sempre empolgado pra uma estreia dele.. Mas em 30 min em geral já estou revirando os olhos, hehe.
Quanto A Origem mencionado pelo Korvoloco ele é alvo de uma piada em Rick & Morty justamente por ser uma produção sem sentido no episódio 2 da primeira temporada Rick diz:
"Morty vamos entrar no cérebro do seu professor de matemática enquanto ele dorme e fazer com que ele sempre te dê dez, vai ser como A Origem só que com sentido".
Rsss... nunca acompanhei esse desenho... mas alfinetada bem dada.
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