Desde os primeiros segundos você já percebe que está diante de um filme diferente, com um olhar próprio, e apesar dele partir da premissa não tão nova de pessoas espiando os vizinhos pela janela e se envolvendo em um mistério (a carga erótica e o tom excêntrico faz o filme lembrar mais Dublê de Corpo do que Janela Indiscreta) em nenhum momento ele parece estar seguindo fórmulas e clichês cegamente. Se A Mulher na Janela pecou pelo excesso de subjetivismo, este filme é um ótimo contraponto pra mostrar como uma trama é mais envolvente e divertida de acompanhar quando o cineasta respeita a objetividade do espectador (o fascínio que Michael Mohan demonstra por lentes e olhos não me parece acidental nesse sentido — o desejo de enxergar com precisão vem frequentemente do desejo de entender com precisão). Mesmo quando algumas coisas parecem forçadas, vemos uma preocupação incomum aqui em explicar cada desenvolvimento da narrativa, em deixar claro para o público cada ação dos personagens, o que traz um senso de presença pra cada cena (como na sequência onde eles precisam instalar o espelho no apartamento dos vizinhos, e depois refletir o laser de volta para terem o áudio das conversas). O filme não está livre de problemas, e o final não é dos mais satisfatórios emocionalmente. Mas, de qualquer forma, pra mim é sempre um prazer ver um filme que consegue entreter ao mesmo tempo em que demonstra um grau elevado de autenticidade e respeito pela consciência do público.
The Voyeurs / 2021 / Michael Mohan
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