terça-feira, 28 de setembro de 2021

Cultura - Setembro 2021

28/9: Nova Brasil Paralelo

Vendo no YouTube o evento de lançamento da plataforma de streaming da Brasil Paralelo, fiquei com a sensação péssima de imaginar que algumas pessoas devem achar que minha visão de cinema é parecida com a deles... que eu faço parte dessa mesma "onda" de alguma forma. Pois de fato existem alguns pontos em comum, como a avaliação negativa do entretenimento atual, o desejo de resgatar certos valores da Hollywood clássica, etc. Mas é o velho problema de liberais serem confundidos com conservadores... Na área da arte isso não costumava ocorrer tanto, pois esses grupos raramente discutiam princípios estéticos explicitamente, como discutem política. Mas conforme essa tendência aumenta e as pessoas vão se conscientizando mais da relação entre cultura e política, a necessidade de diferenciar grupos vai se tornando importante na área do entretenimento também (sem querer sugerir que a minha visão represente a dos "liberais" — eu falo apenas por mim). Mas pra mim o mais incômodo nesse evento não é nem tanto o posicionamento político específico deles... E sim o fato deles estarem usando a arte como propaganda ideológica e se "apropriando" de certos filmes no processo — dá desgosto ver filmes como Lawrence da Arábia e Contatos Imediatos sendo exibidos naquele palco, como se fossem filmes que representam o "espírito conservador". Enfim, é o tipo de coisa que me dá desânimo de vez em quando, e faz com que eu queira me dissociar de assuntos políticos.


19/9: Menos sutil que Hollywood

Gravuras que você vê em destaque em praticamente toda banca da Av. Paulista (o que sugere que são as mais populares da categoria).



18/9: 13 de Junho de 2013

Folheando minha agenda de 2013, encontrei o dia exato em que a polarização política se tornou explícita pra todo mundo na internet (pelo menos no meu universo social): dia 13 de Junho, no 4º dia de protestos contra as tarifas de ônibus em São Paulo. Sempre digo que a cultura vem piorando desde o final dos anos 90, do 11/9, etc. Mas até esse dia de 2013, eu não fazia ideia que meu Facebook inteiro estava do lado oposto ao meu no espectro político. E isso faz uma diferença grande no nosso comportamento e na nossa percepção de mundo... Até então, havia uma certa inocência na maneira como nos expressávamos publicamente, interpretávamos os eventos ao nosso redor... Depois, tudo virou política. Tudo passou a ter que ser pensado 3x, passamos a ter mais receio de falar, a suspeitar mais dos outros... Eu tinha até certa ingenuidade em relação às mudanças no entretenimento. Apesar de criticar o cinismo e o tom sombrio dos filmes, eu ainda não via uma intenção tão sistemática e proposital de corromper o entretenimento. Quando saiu Frozen entre 2013/2014por exemplo, eu ainda tive certa dificuldade de articular o que me incomodava no filme, pois a "invasão Anti-Idealista" estava apenas começando a se tornar explícita. Então acho interessante estabelecer esse marco, pra diferenciar a primeira fase das mudanças culturais (finalzinho dos anos 90 até 2013), do estágio mais radical que veio depois.

Isso casa bastante com um gráfico que o Stephen Hicks mostrou recentemente em um vídeo, mostrando o aumento de palavras associadas a preconceito na mídia (racismo, sexismo, homofobia, etc.). Ele não explica o que causou esse aumento... Mas é interessante notar o quão pouco essas mudanças têm a ver com questões políticas concretas, como o presidente eleito, as tarifas de ônibus, etc... Obama já era presidente dos EUA desde 2009, o PT governava o Brasil desde 2003... Considerando isso, chega a ser estranho 2013 ter sido o ano em que a esquerda "saiu do armário" e começou a se rebelar nas ruas. E se fosse um fenômeno ligado a acontecimentos políticos do Brasil, a mesma coisa não estaria ocorrendo nos EUA praticamente ao mesmo tempo. 

Não sei dizer ao certo também o que provocou essa guinada nesse período... Mas se fosse pra chutar, eu diria que boa parte disso tem a ver com a explosão do uso de smartphones e de redes sociais baseadas em smartphones, especialmente o Instagram, que foi quando a vida das pessoas realmente começou a se tornar um reality show, e problemas de autoestima derivados dessa nova forma de existir socialmente começaram a se manifestar (levando em conta o que já falei sobre o sentimento de desilusão dos millennials).



11/9: Cinderela com Camila Cabello

Tentei assistir mas parei no meio por um misto de tédio e vergonha de estar perdendo tempo com aquilo. Tudo é tão malfeito que eu nem consegui me irritar com os valores da história sendo deturpados — como se a produção não tivesse o mínimo de inteligência necessário pra estar fazendo aquilo de propósito. Quando apareceu o James Corden na cena da carruagem, fique pensando que, se fosse um filme nacional, seria o equivalente a esses filmes que têm participações especiais da Anitta ou do Luciano Huck. Até aí, o mesmo poderia ser dito da versão com a Brandy de 1997, que eu vi com mais simpatia... Acho que, quando pobreza estética está associada a inocência e despretensão, pra mim se torna algo mais perdoável. Mas há algo de particularmente constrangedor em um filme tosco/convencional que acha estar sendo transgressor e inteligente. Além disso, no filme com a Brandy, apesar da produção ser ruim, a música era de Rodgers & Hammerstein. Aqui, a maior parte da trilha é composta por uma seleção duvidosa de músicas pop não originais (e rap, como eu havia previsto), dando mais a impressão de um especial de Glee do que de um musical legítimo.

26 comentários:

Korvoloco Aspicientis disse...

Sei que a pergunta que vou fazer não tem nada a ver com a sua postagem, mas o que você acha do filme A.I - Inteligência Artificial? Será que sou o único que detesta aquele filme com toda minha força? Até meu primo, que praticamente detesta todo filme que assista (embora ele veja muitos com bastante frequência, vai entender...), gostou desse. Sei que o filme tem seus méritos, mas aquele protagonista me deu raiva o tempo todo, e o fato dele ser um robô me fez ter ainda mais distanciamento e antipatia pelo personagem. Muitos que gostaram de A.I elogiaram o tema forte do amor sentido pelo robô pela mãe humana, que mesmo uma máquina pode amar e coisas do tipo, mas e se foi um bug? Um erro na programação que fez ele ter esse comportamento parecido com amor?
Sei lá, posso estar falando um monte de besteira, mas depois que vi na época, fiquei com uma certa mágoa do Spielberg por um tempo e considero este de longe o pior filme dele.
Vi em algum lugar que não lembro agora, e me corrija se eu estiver errado, que Stanley Kubrick se encarregou da parte mais sentimental do filme enquanto que Spielberg se encarregou da parte onde Kubrick tinha mais experiência, ou seja, uma troca de papéis.

Caio Amaral disse...

Eu vi A.I. umas 2 vezes, mas só na época do lançamento.. essa discussão filosófica sobre os "sentimentos" do menino eu não lembro direito como se desenrola pra poder julgar. De qq forma, eu nunca gostei muito do filme.. A parceria com Kubrick eu achei meio problemática, pois os estilos dos dois são incompatíveis. Kubrick achava que A.I. tinha mais a ver com a sensibilidade do Spielberg, por isso ofereceu o projeto pra ele dirigir (Kubrick só produziria). Spielberg já achava que Kubrick dirigiria melhor (o que eu concordo). Talvez o desafio de dirigir uma criança e retratar o afeto pela mãe tenha intimidado Kubrick, que é sempre muito adulto e anti-sentimental. Vai saber... Nunca li sobre essa troca de papéis.. Como Kubrick morreu e Spielberg acabou escrevendo o roteiro e dirigindo o filme sozinho, a influência de Kubrick sobre o produto final foi apenas indireta. Tudo passou pelo filtro do Spielberg.

Enfim, costumo elogiar muito o Spielberg, mas sempre seus sucessos até o meio dos anos 90.. É bom reforçar que depois dos anos 2000, quase nenhum filme dele me encanta de fato. Em geral me impressiono mais com o talento na execução, etc. Ele parece ter sentido a mudança na cultura, e começou a exercitar seu lado mais "adulto" no novo milênio - temáticas mais sombrias, políticas, etc.. que pra mim não é onde ele mais brilha.

Korvoloco Aspicientis disse...

Ufa, que bom então que não sou o único que não gosta desse filme, hehehe.
Na época que eu assisti o filme me assustei com aqueles ET's aparecendo no fim do filme e me fez ter ainda mais desgosto, mas tempos depois soube que não eram ET's, mas outros robôs criados pelos humanos, mas mesmo assim isso não aliviou a barra. E não fazia sentido aquele ursinho ter escondido o cabelo da mão adotiva do menino robô no bolso todo esse tempo apenas pra ter uma solução pra lá de idiota pra poderem criar um clone dela, que durava apenas 1 dia apenas?
O menino robô era tão insuportável que eu estava torcendo pra ele ter um fim trágico, mas não, ao invés disso ele vive e a humanidade toda morre!
Enfim, eu poderia ficar horas aqui digitando todos os pontos negativos do filme, mas o filme todo é um erro do começo ao fim. Depois disso Spielberg se redimiu um pouco, mas como você falou, depois dos anos 2000 o cara perdeu a sua essência.

Caio Amaral disse...

Não lembro de buracos na trama, mas certamente achei bizarro esse salto de 2000 anos no final, rs.. acho que Kubrick teria feito esse estranhamento funcionar melhor, pois é um momento bem "2001". Não cheguei a ter essa repulsa ao menino.. apenas não me importei muito por ele.. Meu problema maior com o filme foi esse conflito entre "Idealismo crítico" e "Idealismo puro" no tom da produção, pelo fato do Spielberg estar tentando ser mais sombrio pra honrar a visão do Kubrick. abs!

y. disse...

Oi Caio tudo bem? Esses dias minha professora de português estava explicando um pouco sobre o neorrealismo e disse que esse movimento ficou mais popular graças ao cinema. Pelo pouco que eu pesquisei sobre vi que é um movimento anti-idealista mas possui muitos filmes que as pessoas consideram clássicos. Não vi nenhum filme ainda que seja neorrealista mas existe algum que valha muito a pena ver? Mesmo que for só para entender como o movimento funciona e tals.

Caio Amaral disse...

Oi y.! O termo neorrealismo no cinema normalmente se refere ao Neorrealismo Italiano que ocorreu nos anos 40/50 — não sei se sua professora estava sugerindo que o neorrealismo se expandiu pra fora do cinema depois, enquanto movimento artístico. Até onde sei, realismo não era novidade na literatura, na pintura.. mas os italianos do pós-guerra foram os primeiros a se destacarem com essa estética no cinema. Foram os popularizadores do que chamo de Naturalismo aqui.. De fato, o neorrealismo foi um movimento que surgiu pra contestar a estética "idealista" de Hollywood, que era o que dominava na época... Portanto já dá pra adivinhar que não sou muito fã da maioria desses filmes. Os filmes neorrealistas mais "raiz" tipo Roma Cidade Aberta eu acho bem crus e chatos (Rossellini não me atraía em nada).. os do Fellini desta fase também não curto muito.. Agora alguns cineastas como o Luchino Visconti ou o Vittorio de Sica já conseguiam me interessar em alguns aspectos. De Sica tem o Ladrões de Bicicletas que tem certo apelo emocional.. ele fez um filme tb chamado Milagre em Milão que misturava temas de pobreza com comédia e fantasia, e é bem diferente.. lembro de ter dado risada até.. os filmes do Visconti em geral têm fotografias super bonitas, atores glamourosos.. e ao longo das décadas ele foi ficando cada vez mais elegante, e menos "neorrealista".. desse universo ele é provavelmente o diretor que eu respeito mais. Mas muita coisa eu preciso rever.. Lembra do meu texto Superando o Guilty Boredom? Todos esses filmes eu vi naqueles anos.. e minha tendência ainda era dar notas bem altas, apesar de saber que não era exatamente o tipo de cinema que eu mais gostava. Ainda assim, vale lembrar que, comparando com certos filmes naturalistas de hoje.. que literalmente não têm história alguma, a fotografia é totalmente amadora.. filmes como Ladrões de Bicicletas podem acabar parecendo bastante "clássicos" e bem dirigidos.. tenho curiosidade de rever alguns pra ver qual será minha impressão: se, por entender melhor as premissas do naturalismo, vou abaixar minhas notas antigas.. ou se, por poder contrastar com o naturalismo amador de hoje, os filmes da época vão ganhar certa respeitabilidade, rs.

Anônimo disse...

Esse tipo de arte retratando os heróis em posições comuns e degradantes é antigo já no mundo nerd e geek. Sempre achei estranho que os nerds descaracterizassem e tirassem sarro daquilo que eles mesmos gostam em vez de tentar proteger ou melhorar. Lembro que lá em 2010, 2011, com o boom dos blogs e do facebook, tinham posts assim pra todo lado. Aparentemente os artistas eram inspirados e comissionados para fazer esse tipo de coisa e os blogs lucravam com visitas a posts do Darth Vader e o Luke vivendo como pai e filho, indo ao parque, o Luke dando o primeiro beijo, etc. O Superman passando aspirador no carpete, a Mulher Maravilha com cólica menstrual, o Hulk com dificuldades para abrir uma lata de pepino, o Batman sem dinheiro trocado para o flanelinha ou tendo seu batmóvel guinchado. Ou até o Indiana Jones idoso em uma cadeira de rodas, o Tubarão no dentista com cárie e o ET sem crédito para colocar em seu “telefone”.

A associação com a produção que eu consigo pensar é a série Frango Robô, que tira tanto sarro dos personagens populares que chega a passar do nível de paródia e vira um ataque direto. O pior é que a série sempre recebe aprovação dos criadores quando o elenco original de Star Wars ou os dubladores dos heróis reprisavam seus papéis na série. Até George Lucas participou nisso.

As crianças também cresceram nos anos 2000 com videogames lego ou cartoons que faziam exatamente esse tipo de coisa. Nos anos 90 já tinham os quadrinhos do Deadpool e cosplayers dançando funk em comic cons. Eu na verdade estou achando demorado o cinema virar inteiro uma postagem de blog ou uma thread popular no twitter.

Caio Amaral disse...

Percebo também essa atitude ambivalente no mundo geek..
Até consigo imaginar paródias divertidas envolvendo heróis, mas nesse caso das gravuras é algo tão simplório que quase não dá pra classificar como "humor".. pra mim está mais pra algo que serve uma necessidade psicológica séria de parte da população.. aquela que tem problema com "ideais".. É tipo o que fizeram com o Wolverine em "Logan", por exemplo.. ou o que leva um livro infantil como este a se tornar popular: https://www.amazon.com.br/At%C3%A9-as-Princesas-Soltam-Pum

Caio Amaral disse...

Este Frango Robô eu nunca vi..

Dood disse...

Vou fazer meus comentários por partes.

18/9: 13 de Junho de 2013: achei interessante sua colocação, eu somo ao fato do mundo estar muito dominado por ideias de esquerda como coletivismo, empatia que se criou uma fissura na justiça social. Como exemplo no Brasil onde a esquerda se instalou mais culturalmente e nos maios de comunicação. Meio que a juventude criada com esse pensamento ficou perdida e acabou adotando ideias totalitárias com relação a coisas como opiniões, foi quando houve a dominância que aconteceu a ruptura. Isso se observa em outros países como no próprio EUA que é o espelho do mundo, ainda mais de nós e de muitos da esquerda que adoram alfinetar o imperialismo americano, mas na hora de agir é o mesmo modus operandi do que vem de fora. O incidente com a estátua do Borba Gato é um prova desse fenômemo.

Ás vezes penso que estamos num processo de mudança ainda.

Dood disse...

19/9: Menos sutil que Hollywood - Esses quadrinhos são bem famosos por aqui, mas não com tanta evidência nesse estilo de colocar super heróis e momentos humanamente vergonhosos. Isso vem de como os heróis tem perdido o timing com o Idealismo e flertado com o naturalismo/antidealismo. Outra o retrato de como super heróis são modismo, coisa de momento. Então vale tudo, até esse contexto que visa colocar essa "humanidade" na frente do "ideal" é exageradamente explorado.

Citaram o Frango Robô, que é uma obra que quer subverter a cultura pop dos anos 80/90 com pequenos curtas envolvendo violência e humor duvidoso, um subproduto da revista MAD que, ao menos essa última, parodiava com um pouco mais de inteligência mesmo que rebaixasse o produto da paródia.

Caio Amaral disse...

Eu acho curioso mesmo como o Brasil é dependente culturalmente e intelectualmente dos EUA.. Fico lembrando de coisas do passado como bandas que faziam carreiras de sucesso por aqui apenas regravando hits americanos.. ou programas de auditório que eram cópias de coisas da TV americana (sempre numa versão um pouco mais tosca, claro). O mesmo fenômeno acho que acontece em outras áreas (Trump abrir a porta para Bolsonaro, etc.). Quando os EUA estavam em bom estado, essa imitação era boa até.. e refletia um desejo de progredir. Se é pra termos um modelo, que sejam os EUA — mas agora copiamos as coisas ruins de lá também.. Há uns anos, lembro que sempre que um novo termo ficava popular nos EUA, como "virtue signaling", eu contava os dias até se tonrar um tema debatido por aqui também.

Pode ser que os super-heróis sejam modismo, mas se forem, seriam um dos mais duradouros de todos.. pois a febre começou lá pra 2000 e pouco né. Pra mim já é um gênero oficial de filmes, que mereceria sua própria prateleira nas locadoras se elas ainda existissem.. mas vamos acompanhar..

Quando a paródia é inteligente.. mesmo questionando a intenção, ainda dá pra se divertir com o elemento criativo né.. mas isso é raro nessas paródias atuais que costumo citar.

y. disse...

Então me indicaram um filme desse Luchino Visconti chamado 'O Leopardo' que tem o Alain Delon. E em falar nele eu assiti a 'Le Samouraï' recentemente e achei o filme bem interessante, ele é um pouco parado mas gostei do personagem e da história rs
Não sei dizer se o filme é anti-idealista já que o personagem principal é praticamente um antiheroi que no final acaba se sacrificando. E você gostou desse filme?
Também estou assistindo ao filme brasileiro mudo 'Limite' e também estou achando interessante, ainda estou nos primeiros 20 minutos porque é um filme bem parado e ainda não estou muito acostumado em ver filmes mudos e vou assistindo ele aos poucos.

Caio Amaral disse...

O Leopardo é provavelmente o filme mais popular do Visconti.. e já é algo mais próximo de uma produção hollywoodiana.. meio David Lean / E o Vento Levou (claro que com uma pegada mais europeia, menos espetacular).. o protagonista inclusive é o Burt Lancaster.. então não vale como referência de Neorrealismo. Pra isso seria mais indicado Obsessão.. A Terra Treme.. os filmes mais do início da carreira dele. Mas claro que O Leopardo é um filme central pra quem tem interesse na filmografia do Visconti em si.

Le Samourai eu vi.. junto com 2 outros desse diretor que também são mais ou menos nessa linha (O Círculo Vermelho / O Exército das Sombras). Lembro de ter achado interessante o visual, o estilo.. a figura do Alain Delon.. mas como thriller não chegou a me empolgar tanto quanto esperava.. Chamar de anti-idealista acho que é exagero.. preciso rever, mas o mais comum no cinema europeu é o "não idealismo"; filmes que priorizam o estilo do autor, mensagens políticas/intelectuais.. e não o prazer do público. Por isso a característica mais comum deles é a de serem parados, meio tediosos em comparação aos americanos. (Claro que movimentos como o neorrealismo ou a nouvelle-vague já têm mais elementos anti-idealistas, pois surgiram justamente como uma reação contrária ao cinema de Hollywood.)

Aff.. Limite é o típico filme "lição de casa" que só estudante de cinema vê, hehe. Eu me recordo muito pouco.. mas é o tipo de coisa que combina um senso de vida trágico com uma linguagem experimental/não-objetiva pretensiosa.. coisa que eu não costumo curtir nem quando é feita hoje, com cor e som (tipo A Árvore da Vida, do Terrence Malick). Enfim, mas tudo isso eu acho válido assistir.. pois é importante ter referências. Mesmo que não sejam filmes da minha lista de favoritos..

Dood disse...

@Caio provavelmente com a supremacia de um pensamento mais de esquerda o pessoal ficou com esse conceito de Justiça Social a mais ferro e fogo do que nunca. Acho que isso foi catalizador do que observamos de 2013 pra cá.

Quanto as paródias lembro que a Revista Mad era de sacanear a si mesma, ela tinha aquele espírito 5 série com um tom mais crítico, sem ser muito apelativa não dizendo que ela não tinha apelação.

Lembro das paródias de filmes e programas em quadrinhos que faziam que tinham piadas como furo no roteiro em X-Men o filme ou zombando de obras que estão sendo feitas por serem extremamente comerciais como Harry Potter.

Caio Amaral disse...

Sim, mas a questão que estou discutindo é: o que exatamente mudou na sociedade em 2012/13 pra explicar o fortalecimento desse pensamento de esquerda? Dizer que o conceito de justiça social veio da supremacia da esquerda não explica por que esse pensamento de esquerda se tornou tão mainstream e militante nesses anos..

Eu só abria a revista Mad pra dobrar a última página e ver a figura que formava.. mas do resto do conteúdo eu não lembro direito!

Muita gente acho que adota essa atitude de zombar de tudo pois é maneira mais fácil delas parecerem superiores.. uma psicologia meio "Beavis & Butthead", rs.

Dood disse...

Tenho pra mim que existe um desejo latente das pessoas se sentirem importantes, de tornar o mundo um lugar melhor. Isso se mistura com esse conceito, as pessoas piamente acham que estão fazendo para o bem e/ou se sentir injustiçadas. Sempre questionei a falta de uma formação filosófica nas pessoas. Não sei quanto a você, mas sinto que a maioria pessoas se guiam muito pelas emoções irracionais e isso acaba prejudicando a análise imparcial e nem todos tem essa cultura de questionar a si mesmo, analisar seus pensamentos. Ser crítico.

Caio Amaral disse...

Sem dúvida! É toda aquela discussão do texto sobre racionalizações.. Se as pessoas tivessem mais capacidade de analisar e questionar suas motivações.. de serem auto-críticas.. muitos desses problemas culturais evaporariam.

Anônimo disse...

Jesus Cristo! Plataformas de streaming viraram a nova mina de ouro. Já vi uma Cristãoflix (não lembro o nome), uma Netflix canadense só com produções do Canadá (pq lá parece que eles tem uma lei tão pesada sobre produções nacionais, que não fica viável assinar Netflix), uma plataforma de Bollywood, uma com produções chinesas, uma só com desenhos, uma pra assistir pessoas jogando videogame, uma aqui do Brasil com as novelas da Globo, a Globoflix.... agora o Brasil Paralelo aparece com mais uma motivada pela política. Quando a Gina Carano foi demitida da Disney, ela disse que iria fazer filmes "conservadores". Essas coisas todas sinto mais vergonha do que otimismo.

É como se a mesma crise dos videogames na década de 1980 e o excesso de filmes western estivessem se repetindo nas criptomoedas, nas produções de super-heróis e nas plataformas de streaming (e com certeza em mais um monte de coisas que eu nem estou sabendo agora).

Caio Amaral disse...

Eh.. acho que muitas dessas vão acabar morrendo.. se fundindo.. e eventualmente pode sugir uma espécie "NET" dos streamings, oferecendo todas as plataformas principais dentro de um pacote só.. pois agora é como se estivésseos pagando mensalidades separadas para cada canal de TV (além da TV por assinatura que muitos ainda assinam). Eu acho meio preocupante mesmo essa pulverização dos serviços.. antes tínhamos só algumas contas básicas todo mês.. luz, TV, telefone.. agora você já tem até blogueiro de Instagram oferecendo conteúdos exclusivos via mensalidade.. talvez o futuro seja a gente ter 90 contas menores em débito automático, rss.

Dood disse...

O meio de entretenimento acabou tomando esse rumo político, o que é desgastante e chato. Agora cada ideologia quer pegar uma obra pra si para utilizar como material panfletário.

Caio Amaral disse...

Na esquerda é mais fácil.. não falta material panfletário hehe. Já a direita não costuma ser tão explícita ideologicamente. Daí as pessoas ficam confusas na hora de fazer essa curadoria.. rs.

Anônimo disse...

Acho que essa sensação q vc sente de querer se distanciar culturalmente do Brasil Paralelo é a mesma coisa que os capitalistas sentem em relação ao Bolsonaro e aos empresários nacionalistas, que recebem dinheiro do governo, etc. Por outro lado, a vantagem que este "lado" tem em relação ao "outro lado" é que a esquerda não quer se distanciar da União Soviética, Coréia do Norte, do autoritarismo nem do "pacotão" de idéias que cada cabide do governo de esquerda resolve inventar que é a pauta do momento (negros, LGBT, direitos trabalhistas, censura, etc). Então quando vc coloca que pensa diferente dos conservadores e dos liberais e que é mais individual, isso já te coloca em um nível muito diferente dos chamados "idiotas úteis" da esquerda ou da direita socialista.

Caio Amaral disse...

É, com o tempo eu tenho achado as desvantagens de me associar a grupos/movimentos muito grandes. Pois pelo menos no meu caso, todo grupo exige que eu endosse coisas que vão contra algum valor importante pra mim.. portanto se torna prejudicial a associação. Agora se a pessoa está 95% em harmonia com as ideias do grupo.. nada contra se "rotular" como isso ou aquilo.. desde que você preserve o senso crítico e não siga os outros cegamente, etc. Abs!

Dood disse...

Você pode se identificar como algo, mas tem que evitar se coletivizar porque isso mata a tua indvidualidade. As pessoas tão deixando morrer isso para ídolos e a aceitação de ideias sem uma boa racionalização como base.

Caio Amaral disse...

Sim.. quando a gente sente que não domina uma área então.. fica ainda mais fácil aceitar tudo o que uma autoridade/grupo diz..