sábado, 20 de fevereiro de 2021

Rodgers and Hammerstein's Cinderella (1997)

Nunca tinha visto nenhuma versão do musical Cinderela, mesmo sendo fã de Rodgers & Hammerstein. Diferente dos outros musicais deles que foram escritos para a Broadway, Cinderela foi escrito originalmente para a televisão — um especial ao vivo estrelado por Julie Andrews que foi assistido por mais de 100 milhões de pessoas nos EUA em 1957 (bem antes de Julie ser imortalizada em A Noviça Rebelde, também de R&H). Houve uma outra produção em 1965, mas a mais conhecida hoje é o filme de 1997, também feito pra TV, estrelado por Brandy e produzido por Whitney Houston (que faz a fada madrinha). Como era algo feito pra TV — e pela capa já dava pra sentir que era uma produção de gosto duvidoso — acabei nunca dando uma chance, mesmo tendo curiosidade de conhecer as músicas. Agora o filme saiu no streaming pela primeira vez e resolvi assistir.

De fato ele é mal dirigido e meio tosco visualmente, o que me fez refletir sobre o papel crucial do diretor no cinema, pois mesmo essa sendo uma história clássica e infalível, tendo música de 2 dos maiores gênios do teatro musical, sendo uma produção de uma companhia como a Disney (ainda numa fase saudável ideologicamente) e com um elenco sólido, se tudo isso é colocado nas mãos de um diretor medíocre, o que tinha potencial pra ser um grande clássico se torna apenas uma Sessão da Tarde esquecida no tempo. Mas o lado meu que foi capaz de ignorar esses problemas, no fim ficou bastante encantado pelo filme. Quando existe talento escondido numa obra, isso sempre se revela mesmo com uma má execução. A primeira coisa que me fisgou foi a canção "In My Own Little Corner" que eu nunca tinha escutado... Poucos compositores além de R&H conseguem me tocar dessa forma apenas com uma combinação perfeita de acordes, melodia e letra. 

Mas além do lado musical, o filme pra mim já se tornou uma referência no debate entre Idealismo vs. Anti-Idealismo, pois ainda nos anos 90 ele foi capaz de trazer uma diversidade surpreendente pra produção, apresentar uma princesa Disney negra, um elenco "racialmente cego" — algo visto como inovador até hoje em séries como Bridgerton — só que Cinderela fez isso de maneira que não comprometeu a essência da história e nem feriu princípios Idealistas. Cinderela é tão bela e pura de espírito quanto a do desenho de 1950, a história é igualmente otimista e romântica... Os atores apenas têm características físicas diversas, o que nesse caso não afeta em nada a magia da história. Se fizessem uma adaptação assim na cultura de hoje, além da diversidade racial, teríamos também uma Cinderela menos bonita, menos positiva, veríamos relacionamentos mais conflituosos, o visual seria menos colorido, a música seria cheia de Rap e palavrões tipo Hamilton, etc. 

Cinderella / EUA / 1997 / Robert Iscove

NOTA: 7.5

4 comentários:

Ben 10.000 a ascensão disse...

Hamilton é MT bom, n é cheio de palavrões;-;

Caio Amaral disse...

Não sei se é CHEIO... é que depois do primeiro F*** e do primeiro SH** que vc ouve um Founding Father cantando num rap... pra mim já não faz tanta diferença a frequência, rs.

Ben 10.000 a ascensão disse...

tem um ou dois palavrões e mesmo assim é tipo "merda", ou é censurado...

Caio Amaral disse...

É possível.. Eu cheguei a postar uma breve crítica do Hamilton aqui no blog.. e lá eu nem cito esse detalhe dos palavrões. Minhas queixas foram outras, mais profundas.. recentemente vi outro musical do Lin-Manuel Miranda (Em um Bairro de Nova York) que só confirmou que as obras dele não conversam muito bem com os valores que defendo aqui. Talvez vc não esteja familiarizado com meus textos mais teóricos, etc.. Abs.