domingo, 21 de fevereiro de 2021

Fevereiro 2021 - outros filmes vistos

Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah / 2021): 6.0

É fácil criticar as fórmulas e clichês dos filmes de super-heróis, das animações infantis, mas nesse último ano se você for pensar, o clichê mais abusado de todos foi esse de pegar histórias reais passadas nos anos 60 sobre líderes negros, conflitos sociais, pra traçar aquele paralelo "surpreendente" com a atualidade, etc. Diferente de Uma Noite em Miami (2020) que pelo menos tenta promover uma discussão equilibrada, esse aqui é explicitamente pró-socialismo, retrata os Panteras Negras como grandes heróis, então não vai agradar a todos... Lembra muito Mangrove (2020), mas é melhor cinematograficamente. É o Infiltrado na Klan (2018) deste ano.



Music (2021): 3.5

Música tem um efeito poderoso no cinema; quando bem usada, pode transformar uma cena banal em um momento inesquecível. O perigo é que quando combinada com mau gosto, o efeito potencializador é o mesmo — talvez por isso pareça haver algo de transcendental na ruindade de filmes como Cats (2019). Music não está no mesmo nível de desastre, mas em alguns momentos chega perto. Maddie interpretar uma autista não sendo autista é o menor dos problemas... O problema mesmo é a tentativa de tornar deficiência mental, vício em drogas e AIDS temas apropriados pra um musical pop, especialmente quando as sequências são mal dirigidas, o elenco parece errado, algumas das músicas são bem fracas... Sia disse numa entrevista que odeia musicais (embora ela goste de La La Land, o que faz sentido). Sendo o gênero mais difícil de dirigir, e ela nunca tendo dirigido nenhum filme antes, foi meio que pedir pra dar errado.



Eu Me Importo (I Care a Lot / 2020)

Achei tão repugnante que não consegui ver mais que 1 hora. No começo ainda tive a esperança da história virar uma espécie de crítica ao governo, por permitir violações de liberdades tão revoltantes (e reais) quanto as ilustradas pela história, o que teria sido interessante. Fiquei na expectativa da personagem da Rosamund Pike ser claramente identificada como a vilã, da Dianne Wiest dar a volta por cima e preparar uma vingança genial... Mas aos poucos o filme vai provando que tem uma bússola moral podre, que na verdade sua simpatia está mais pro lado da vilã, e até onde vi não há condenação alguma do governo — para os críticos, o filme na verdade é uma crítica ao "capitalismo tardio" (a noção popular que o capitalismo seria um jogo de soma-zero que cria uma sociedade de predadores e presas, etc.). Tolice minha esperar algo diferente do cinema atual.



Saint Maud (2019): 5.0

Um desses pseudo filmes de terror da A24 (A Bruxa, Midsommar), onde o elemento sobrenatural é apenas uma metáfora para uma discussão mais pretensiosa sobre psicologia, religião (a diversão do filme é criar uma caricatura de fanáticos religiosos pra mostrar como eles são perturbados — um alvo pouco clichê e seguro demais pra um filme que quer parecer "avant-garde"). Gostei das atrizes e tecnicamente o filme é bem feito, mas infelizmente há muito daquilo que discuto nos textos sobre simbolismo e pseudo-sofisticação.



Malcolm & Marie (2021): 6.5

Drama de relacionamento sobre um diretor de cinema e sua namorada que voltam da pré-estreia de seu novo filme e entram em uma série de brigas e discussões pesadas ao longo da madrugada. Pra mim pareceu como se um adolescente estivesse tentando fazer algo na linha de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1968) mas sem a experiência de vida necessária pra sustentar o material. Mas apesar do texto não ser tão maduro e genial quanto gostaria de ser (o elenco jovem/descolado também não ajuda), há bastante conteúdo psicológico, diálogos fortes, e os cinéfilos em particular devem se divertir com as discussões sobre a indústria do cinema (embora o filme não seja exemplo de Idealismo, ele tem uns discursos curiosos contra o Naturalismo, contra a politização do cinema, etc.).



Cena do Crime - Mistério e Morte no Hotel Cecil (Crime Scene: The Vanishing at the Cecil Hotel / 2021): 7.0

Série documental da Netflix sobre o desaparecimento misterioso de Elisa Lam em 2013 que levou a internet à loucura. Vi alguns documentários parecidos recentemente (como o primeiro episódio de Mistérios Sem Solução e o documentário Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha) mas a história de Elisa e do Hotel Cecil são tão fascinantes que o fato do gênero estar um pouco saturado não chegou a atrapalhar. Além de envolvente e satisfatória como puro entretenimento, a série ainda tem um papel de sutilmente educar o espectador e combater certas irracionalidades que dominam a cultura atual como a cultura do cancelamento e as teorias da conspiração. É incrível ver como somos atraídos facilmente por narrativas fantásticas, como queremos muitas vezes que o impossível seja real, como as pessoas precisam sempre de um bode expiatório pra justificar todos os males, e como tudo isso pode ser abalado facilmente por um pouco de informação e fatos simples — como entender a funcionalidade de um botão de elevador, ou saber se algo estava tampado ou destampado em determinado momento.



Framing Britney Spears (2021): 7.5

Documentário do New York Times sobre a situação de Britney Spears, que desde o colapso emocional de 2007/2008 vive sob a tutela do pai e não tem controle sobre sua vida e seus bens. Uma história triste que reflete o pior do ser humano e me lembrou muito do artigo da Ayn Rand sobre como a sociedade "assassinou" Marilyn Monroe.




A Escavação (The Dig / 2021): 6.0

Carey Mulligan faz uma viúva britânica que contrata um arqueólogo (Ralph Fiennes) pra escavar áreas de sua propriedade onde ela acredita haver alguma antiguidade enterrada — uma história real que levou a uma das maiores descobertas arqueológicas da história do Reino Unido. O filme é um tanto morno, está mais preocupado em recontar os fatos históricos do que em proporcionar uma experiência emocionante para o público, em passar uma mensagem interessante etc. Se existe alguma reflexão profunda aqui sobre a vida, morte, guerra, fica tudo num subtexto que não chega a ser suficiente. Ainda assim, as imagens bonitas, os personagens elegantes e a história curiosa tornam o filme levemente agradável (serve talvez como um descanso da histeria e da negatividade do cinema atual).





2 comentários:

Korvoloco Aspicientis disse...

Eu assisti esse documentário investigativo do Hotel Cecil e da Elisa Lam e gostei também. Eu já sabia do caso da Elisa há algum tempo por vídeos no Youtube desses canais ''especializados'' em mistérios, mas nunca mencionaram o hotel, da história por trás daquilo tudo e nisso o documentário acertou em cheio. Gostei da forma como produziram, dando a entender que havia algum mistério maior por trás daquilo, que talvez havia alguém com ela e etc. pra no final acabar com a alegria daqueles aficionados por teorias conspiratórias. Mas o fascinante mesmo é ver como a morte de uma moça qualquer com problemas psicológicos graves numa cidade grande pode criar um clima paranoico nas pessoas em escala global.

Caio Amaral disse...

Eu não ouvi nada sobre esse caso na época... não sei como, pois eu já vivia no Facebook, YouTube, etc. Mas curti.. mesmo eliminando o sobrenatural e as conspirações, ainda é uma história bem estranha.. abs!