quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Músicas sombrias nos trailers

Vídeo interessante do canal Entre Planos... Reparem como algo parece incomodá-lo nesse clichê de usar versões sombrias de músicas famosas nos trailers, além do simples fato disso ser um clichê e uma maneira fácil de conquistar o público. Porém ele não tem como ir no "x" da questão e criticar o pessimismo em si, o fenômeno do "Idealismo Corrompido" ou o "Anti-Idealismo" que discuto no livro, pois no fundo ele compartilha dessa visão negativa de mundo, então não tem base para rejeitá-la. Quando ele diz que as versões sombrias tornam as músicas mais "cinematográficas", com mais "potencial dramático", isso é o típico pacote de ideias que quer que você confunda sofisticação com pessimismo, com um senso de vida trágico (o que discuto no texto Pseudo-Sofisticação). 

No fim o vídeo dá a entender que o problema é só a falta de criatividade de Hollywood. Ele sugere que o elemento sombrio é apenas pra trazer algo de novo... Mas se esse fosse o caso, eles podiam fazer uma versão ultra-alegre da música original, e isso também seria novo (ou uma versão orquestrada, ou em outro gênero musical). O vídeo não percebe que o fato das versões serem sombrias é que é o essencial — que é a rejeição do Idealismo que revela algo importante sobre a cultura de hoje (assim como temos versões sombrias de contos da Disney, de filmes de super-heróis), não a tática de usar músicas conhecidas como "iscas" nos trailers, algo que já ocorria décadas antes dessa tendência particular.


6 comentários:

Leonardo disse...

Curioso vídeo. Foi justamente em 2010 que senti uma alienação completa com o cinema e rompi com os lançamentos durante algum tempo. Desde então, somente vejo trailers com o som desligado – isso quando eu os vejo até o fim. Exceções foram os Star Wars com a trilha do John Williams. Porém, em um nível pessoal me incomoda ainda mais os mini-trailers antes dos trailers.

Em adicional a sua explicação, acredito que em um nível psicológico não-percebido está a destruição do símbolo e de tudo o que é representado ao receptor da mensagem. Se uma música popular dos anos 80 era capaz de evocar emoções de alegria ‘per se’ e ser harmoniosa com o intelecto criativo, o ato de corrompê-las ao transformá-las em um ‘lugar-comum’ derivado e meramente adjacente para fins de evocação de conflito físico visual nada tem a ver com a falta de originalidade em Hollywood, mas com o seu detrimento e destruição. É o novo bigode na Monalisa, mas sem a Monalisa, somente a subversão.

Caio Amaral disse...

Exato Leonardo.. É um fenômeno diretamente ligado ao Idealismo Corrompido/Anti-Idealismo. E os mini-trailers são ridículos mesmo rs.. o cinema se rebaixando à mentalidade dos TikTokers. Totalmente anticlimático.

Korvoloco Aspicientis disse...

Eu também notei isso nesse vídeo. Confesso que gosto muito de alguns vídeos desse cara, ele tem muito talento, mas infelizmente não passa de um cinéfilo esquerdista ferrenho defensor dessas pautas progressistas que infectam o mundo do cinema. Fui no perfil do Twitter dele uma vez e falava mais de política do que de filmes em si. Um verdadeiro talento de ouro desperdiçado, na minha opinião.

Caio Amaral disse...

Exato.. o Max é excelente no que faz.. muito bom comunicador, pega sempre temas interessantes.. mas quase sempre discordo das avaliações dele.. em termos de valores, ele está muito mais em sintonia com a cultura atual. Eu cheguei a mandar meu livro pra ele, mas mandei com um pé atrás, pois ele dificilmente passaria do 2º capítulo, hehe.

Dood disse...

O canal entre planos tem seus momentos, mas como o Korvoloco salientou tem essa viés política que dificulta muito melhores observações. Será que ele um dia vai conseguir amadurecer quanto a isso? Porque vejo no entretenimento muitos assim

Caio Amaral disse...

Sou cético quanto a mudanças desse tipo.. mas se a pessoa tem pontos positivos o suficiente.. dá pra aproveitar o que ela tem de bom e deixar de lado o resto.