domingo, 31 de janeiro de 2021

Janeiro 2021 - outros filmes vistos

Druk (2020): 6.5

Maior sucesso de Thomas Vinterberg desde A Caça (2012), o filme é o representante oficial da Dinamarca ao Oscar de filme internacional deste ano, e conta a história de um grupo de professores que resolvem testar uma teoria que diz que o ser humano tem uma deficiência de álcool no sangue, e que o mais natural seria beber uma certa quantia ao longo do dia para obter resultados melhores no trabalho, nos relacionamentos, etc. Na comparação inevitável com Lars von Trier, Vinterberg sempre me parece menos radical, imaginativo, brilhante — ele não chega a fazer para o álcool o que Ninfomaníaca fez para os sexo, por exemplo. Ainda assim, vale pela premissa divertida e pelo tom politicamente incorreto que não se vê no cinema americano.



Relatos do Mundo (News of the World / 2020): 4.5

Tom Hanks interpreta um veterano da Guerra Civil que aceita a missão de viajar centenas de milhas através do Texas pra levar uma garotinha de 10 anos, criada por uma tribo indígena, de volta para sua família original. O filme é superficial na construção dos personagens, das relações, e os incidentes ao longo da viagem não transformam a história em algo além de uma carona — ainda assim, o filme tenta parecer "poético", provocar grandes emoções no final, sem ter substância pra isso. Dizer que os protagonistas sofreram traumas e têm "demônios pra enfrentar pela estrada" não torna nenhuma história profunda. É como se a simples contemplação do cenário, filtrado por valores conservadores (um senso de respeito pela "terra", pelos ancestrais, pela América do passado — além do altruísmo, da visão trágica de existência) já fossem o suficiente pra satisfazer a plateia.



Estranho Passageiro - Sputnik (Sputnik / 2020): 6.0

Produção russa sobre um astronauta que volta do espaço com um parasita alienígena dentro de seu corpo, e uma médica que precisa descobrir como salvá-lo da criatura. Como venho dizendo, o “Idealismo Corrompido” hoje em dia se manifesta muitas vezes nesses filmes que pegam um gênero escapista, popular no passado, e daí o transformam em algo mais sombrio, melancólico, psicológico. Esse aqui pelo menos não elimina totalmente a ação e o terror, e ainda serve pra expor os horrores do regime Soviético. Tem sido comparado a Alien (1979), mas está mais para um O Céu da Meia-Noite (2020), A Chegada (2016), ou Vida (2017).



Pieces of a Woman (2020): 7.0

Se você quer um drama pesado sobre luto que te faça passar pela experiência de uma mãe perdendo o bebê, este é o filme. Parcialmente Naturalista e certamente malevolente, o filme parece se orgulhar da capacidade de causar desconforto, estimular sentimentos conflitantes, fazer o espectador encarar os detalhes mais brutais de cada situação. Não é uma intenção que admiro, mas há talento/sensibilidade o bastante na produção e alguns pontos positivos em termos de mensagem que me fizeram ter certo respeito.



Promising Young Woman (2020): 3.0

Carey Mulligan interpreta uma mulher traumatizada por eventos do passado envolvendo abuso sexual que se torna uma justiceira feminista se vingando de homens, abusadores em potencial, pessoas que tenham sido coniventes com algum caso de estupro, duvidado de relatos de vítimas, etc. A cultura hoje é motivada por ódio, e cada ódio particular é uma oportunidade para um novo filme/série que consiga capturar esse sentimento e proporcionar uma experiência definitiva de vingança, expurgo da raiva acumulada. Filmes como Destacamento Blood e Bacurau fizeram isso pelo ódio dos conservadores, das "elites", e agora Promising Young Woman faz o mesmo pelo ódio da "masculinidade tóxica". É uma atualização de Menina Má.com, mais sofisticada certamente, com um roteiro afiado, uma performance memorável de Mulligan, mas não muito superior em intenção.


Minari (2020): 6.0

Deve concorrer ao Oscar este filme sobre uma família de imigrantes coreanos tentando a vida nos EUA nos anos 80. É um filme Naturalista, mas com mais substância, sensibilidade e roteiro do que um filme oco como Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, por exemplo — e com uma atmosfera mais agradável também (os personagens são gostáveis, a atriz que faz a avó é ótima e gera uma série de momentos cômicos). Mas não deixa de ser mais um (!) conto anticapitalista, anti-EUA, chegando pra coletar prêmios da crítica. O diretor/roteirista Lee Isaac Chung é filho de coreanos e o filme foi parcialmente baseado em suas memórias de infância — sua família se mudou pobre para os EUA, e hoje ele é um cineasta premiado, indo para o seu 5º longa. Isso não o impediu de fazer um filme condenando os EUA, menosprezando a cultura americana (todos os americanos que aparecem no filme são patéticos), expondo a crueldade do "sistema", a ilusão do american dream, etc. É um First Cow com uma roupagem diferente, ou um Parasita com menos sangue.



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