31/3 - Como já disse, sempre que termino um trabalho novo (seja uma música, curta, o livro, etc.) eu entro numa fase de desânimo, mas também cheia de insights, onde recalculo rotas, amadureço, repenso minhas prioridades, objetivos etc. Minha vontade de produzir mais coisas nessa área artística é quase nula agora. Ano passado tive um momento onde o desejo de trabalhar com cinema, dirigir, voltou à tona, mas hoje acho que é uma rota que só levará a frustração e stress. Ironicamente, o que inspirou essa música nova foi em partes esse desejo de me reaproximar do universo inspirador da arte, tirar o foco dos assuntos pesados, do meu lado "crítico"; mas talvez esse impulso tenha vindo só como combustível pra criação deste trabalho em particular, não como algo que se sustentará para sempre — até porque conforme eu me deparo com a realidade da cultura, do público (o que fica ainda mais evidente quando eu estou na posição de criador/artista), se torna antinatural manter essa atitude benevolente (imagine um marido que continua trazendo flores pra esposa todos os dias, mesmo depois de descobrir que está sendo traído). Então esse papel de inspirar, criar experiências positivas com arte, acaba sendo extremamente ingrato no meu caso (que tenho valores diferentes dos do público em geral — e mesmo numa escala pequena já é possível entender muito sobre o público e prever o que ocorreria em escalas maiores). E se esse impulso vai embora, eu fico refletindo sobre o que seria mais frutífero — que papel me cairia melhor: o de "educar" (que seria o 2º mais otimista depois do de inspirar/entreter, mas que às vezes me parece igualmente infrutífero)? O de atacar/criticar (que é apropriado, mas desgastante)? Ou o de simplesmente me abster? Fico em dúvida se essa última seria a opção mais pessimista de todas, ou a mais sábia... Mas são por esses "moods" que eu transito, e influenciam o que eu produzo ou deixo de produzir.
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Nível de Satisfação: 5
Categoria B/C: Idealismo com fraquezas na história e alguns toques de Idealismo Corrompido
Filmes Parecidos: Assassinato no Expresso do Oriente (2017) / Entre Facas e Segredos (2019)
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Nível de Satisfação: 7
Categoria A: Idealismo crítico
Filmes Parecidos: Apresentando os Ricardos (2021) / Casa Gucci (2021) / Um Lindo Dia na Vizinhança (2019)
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25/3 - Ontem fui ao cinema ver Drive My Car, o último que faltava dos indicados a Melhor Filme, mas acabei indo embora na metade. Minha paciência pra filmes Naturalistas "estrangeiros" nunca foi muito grande, mas ela vem diminuindo, e apesar de eu ter entrado na sala sabendo que o filme tinha 3 horas, achei que pudesse me surpreender com base em alguns comentários que ouvi (imaginei que pudesse virar algo mais intenso, tipo Parasita), mas a história é bem tediosa, pontuada por acontecimentos aleatórios que não parecem caminhar pra lugar nenhum. É o típico filme que ganha prestígio em Cannes, mas que antigamente seria considerado chato demais até pra categoria de filme estrangeiro no Oscar — as indicações pra Melhor Filme / Direção pra mim são completamente absurdas. Então quando deu 1h30 e acabou meu combo pipoca-Coca-Mentos, o programa perdeu o sentido e fui embora. Outro que já comecei a ver 2 vezes e acho que não vai rolar é o The Worst Person in the World... Então da lista completa de indicados, só pretendo ver The Eyes of Tammy Faye e Cyrano ainda, mas não sei se a tempo da cerimônia.
7 comentários:
puxa, eu não enxerguei o filme como naturalista meeeesmo. e acho que a guinada ocorre justamente na segunda metade do filme - principalmente o final, onde na minha visão qualquer tipo de naturalismo na trama (principalmente em relação aos dois personagens principais) é totalmente destruído.
Que guinada é essa? A prisão do ator? O Yusuke assumir o papel do Vanya? A viagem pra casa de infância da Watari? O fato dela terminar com o carro? Você não deve ter lido minha definição de Naturalismo pra colocar tantos Es no "mesmo", pois Naturalismo como descrevo não significa ausência de eventos dramáticos na história.. até filmes como Parasita ou Minari, que no quesito trama são bem mais estruturados que este, eu ainda coloquei mais pra categoria de Naturalismo.. tem muito mais a ver com o realismo, com o aspecto comum / não-heroico do protagonista, com o fato dele ser vítima das circunstâncias e da história ser definida tantas vezes por eventos aleatórios, não pelas ações/desejos dele (a morte da esposa, o glaucoma, a briga com o fotógrafo que resulta na prisão do ator etc etc). Sem falar em questões como fotografia, trilha, estilo de atuação.. que você bate o olho na tela e em uma fração de segundo já sabe que não está diante de um filme motivado por entreter o público. Agora se no final ele vira Idealista.. não posso afirmar, mas daí relembro aqui do que disse no post sobre o Princípio da Ascensão:
"Lembrando que não adianta ter uma narrativa monótona, entediar o espectador por horas, e só no final vir com um momento surpreendente e arrebatador. Desde o começo já deve haver a promessa de algo desejável no horizonte. Uma isca — ou diversas iscas — que gere certos desejos no espectador que serão satisfeitos aos poucos pelo artista."
Fiquei curioso com esse Os Olhos de Tammy Faye, vou colocar na lista.
Geralmente os filmes que eu acabo achando os mais decentes são esses que aparecem discretamente nas premiações.. e os críticos tratam como se fossem fracos, coadjuvantes na disputa rs.
De todos que eu vi nos trailers eu achei o mais interessante mesmo.
Assisti Os Olhos Tammy Faye, ele dosa bem a crítica e mostra o televangelismo americano e até de onde muito os movimentos neopentecostais de lá tem muito a ver com os daqui.
O interessante e ver como Tammy é carismática e se conecta com o público. Provavelmente intencionava algo maior, mas a rigidez da religião travava isso.
Pois é, não duvido que ela teria conseguido fazer sucesso na música ou na TV mesmo sem a religião.. É um bom exemplo de personagem com "falha trágica" mas ao mesmo tempo gostável.
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