- SPOILERS: O homoerotismo às vezes beira a paródia. Há aquela teoria na internet que Top Gun (1986) seria uma história gay, que dá toda uma leitura alternativa pras cenas de vestiário etc. É como se o Luca Guadagnino tivesse ouvido essa teoria e pensado: que tal fazer um filme, mas que seja realmente sobre isso?! Aí criou uma história em que amigos supostamente heterossexuais conversam nus em saunas, têm uma intimidade mais que suspeita, estão sempre se entreolhando enquanto comem bananas e outras coisas de formato fálico etc. Até a câmera consegue tornar homoeróticos certos momentos que não seriam caso fossem filmados por outro ângulo — um plano, por exemplo, destaca desnecessariamente a proximidade do pé de um amigo em relação ao rosto do outro; o cúmulo é a cena em que o Art está conversando com a Tashi no quarto, e quando ele se debruça sobre a cama, a câmera faz um movimento inexplicável que dá a impressão que o cinegrafista queria voar direto pro traseiro dele mas no meio do caminho resistiu à tentação. E todo esse homoerotismo no fim parece gratuito, algo que existe só pro deleite do cineasta, já que Art e Patrick não parecem ser de fato bissexuais, e essa suposta atração não tem consequência narrativa.segunda-feira, 29 de abril de 2024
Rivais
- SPOILERS: O homoerotismo às vezes beira a paródia. Há aquela teoria na internet que Top Gun (1986) seria uma história gay, que dá toda uma leitura alternativa pras cenas de vestiário etc. É como se o Luca Guadagnino tivesse ouvido essa teoria e pensado: que tal fazer um filme, mas que seja realmente sobre isso?! Aí criou uma história em que amigos supostamente heterossexuais conversam nus em saunas, têm uma intimidade mais que suspeita, estão sempre se entreolhando enquanto comem bananas e outras coisas de formato fálico etc. Até a câmera consegue tornar homoeróticos certos momentos que não seriam caso fossem filmados por outro ângulo — um plano, por exemplo, destaca desnecessariamente a proximidade do pé de um amigo em relação ao rosto do outro; o cúmulo é a cena em que o Art está conversando com a Tashi no quarto, e quando ele se debruça sobre a cama, a câmera faz um movimento inexplicável que dá a impressão que o cinegrafista queria voar direto pro traseiro dele mas no meio do caminho resistiu à tentação. E todo esse homoerotismo no fim parece gratuito, algo que existe só pro deleite do cineasta, já que Art e Patrick não parecem ser de fato bissexuais, e essa suposta atração não tem consequência narrativa.quinta-feira, 25 de abril de 2024
Cultura: "O cinema acabou"
Esta fala do Jerry Seinfeld em uma entrevista recente repercutiu bastante, talvez por refletir o sentimento de muitos espectadores hoje:Há uma razão pela qual, numa casa, colocamos vidro nas janelas, mas o encanamento fica escondido dentro de paredes opacas. Talvez no passado, quando ainda se estava experimentando com planejamento urbano, alguém tenha tido a ideia de construir um sistema de esgoto totalmente exposto, passando pelo meio das casas e das ruas - mas ao longo dos séculos, a humanidade teve que aprender na prática que nem tudo que faz parte dela deve ficar à vista pra ser contemplado o tempo todo. Talvez um processo similar de aprendizado tenha que ocorrer num futuro próximo, só que em relação à informação. Pois é como se a internet e as redes sociais tivessem padronizado um sistema de esgoto na cultura que usa canos de vidro, por onde passa não o lixo físico, mas o lixo espiritual da população. Ou pior: um sistema no qual esgoto e água limpa fluem juntos pelos mesmos canos. Esse tipo de exposição criará suas próprias categorias de doenças, pestes, infecções, pras quais ainda não temos todas as vacinas inventadas.
terça-feira, 23 de abril de 2024
Ibsen, Rand e Tubarão
O Inimigo do Povo de 1978, com o Steve McQueen no papel de Stockmann, já é bem superior tanto em estilo quanto em conteúdo. Visualmente, a produção te transporta muito melhor para o universo da peça, e as mensagens também são bem mais próximas do texto original. Porém, as passagens que criticam a religião e a "maioria coesa" de forma mais aberta foram amenizadas, especialmente durante o discurso de Stockmann, que não chega nem perto do original em impacto, ainda que não subverta sua intenção básica.
O enredo de Um Inimigo do Povo só conseguiu encontrar seu caminho para o sucesso no cinema quando passou por uma série de metamorfoses, foi despido de seus elementos mais socialmente incômodos, e teve o antagonista modificado — em vez da "maioria coesa", passou a ser os "burocratas corruptos": o resultado foi Tubarão (1975), um filme que não é uma adaptação direta, mas que é frequentemente citado como uma modernização da peça de Ibsen.sexta-feira, 19 de abril de 2024
Guerra Civil
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Cultura: Tongue-in-cheek vs. Straight Face
quinta-feira, 11 de abril de 2024
Haters do YouTube
Do vídeo sobre Idealismo Corrompido:
Claro que meus vídeos tiveram pouco alcance. Alguém com centenas de milhares de seguidores certamente deve receber críticas de pessoas mais interessantes. Mas essa experiência já serviu pra mostrar que aquela noção que eu tinha, que seria confrontado por argumentos fortes e válidos sempre que postasse algo impopular, se provou algo muito mais hipotético do que eu poderia ter previsto.
terça-feira, 9 de abril de 2024
A Primeira Profecia
Estreia notável da diretora Arkasha Stevenson, que só tinha dirigido curtas e séries de TV até agora. O filme não é livre dos clichês irritantes do gênero — as alucinações que só servem pra gerar um jump-scare inútil, os desenhos infantis que sempre revelam algo sinistro etc. — só que o resto do filme é tão autêntico pros padrões atuais, tão cheio de detalhes e decisões ousadas, que você conclui que esses clichês devem ter vindo mais das exigências do estúdio do que de uma falta de imaginação da própria cineasta. Nas mãos de um diretor mais comum, o filme seria apenas o que ele aparenta ser à distância — mais uma produção de "pedigree" duvidoso que só existe pra lucrar em cima de uma franquia popular. Mas em vez de entrar no piloto automático, Arkasha Stevenson (que me parece acima do material artisticamente) decidiu levar o filme a sério e aproveitar a oportunidade pra mostrar seu potencial como realizadora. A primeira coisa que me chamou atenção foi que o filme traz uma epistemologia bem mais racional que de costume pro gênero. Não há aqui, por exemplo, aquele clima tenebroso constante que dá a impressão que os personagens já sabem desde o início que estão num filme de terror. Há diálogos descontraídos e até bem humorados na introdução, que criam um universo crível e personagens mais fáceis de gostar. A religião também é mostrada por uma lente mais real — a igreja aqui existe dentro de um contexto político/histórico reconhecível, está sujeita a erros, corrupções, as noviças são mostradas como jovens devotas, mas que ao mesmo tempo questionam a igreja em certas áreas, têm vida privada, impulsos sexuais normais etc. O elenco também é um destaque. A protagonista Nell Tiger Free está muito bem, mas me chamaram a atenção especialmente alguns coadjuvantes como a amiga dela interpretada pela Maria Caballero — uma atriz com uma presença marcante e um rosto que a tornaria perfeita para um biopic da Elizabeth Taylor ou da Viven Leigh. Sônia Braga como freira do mal foi outra escolha de casting inusitada que funcionou melhor do que se poderia esperar. O material não permite que a cineasta salve completamente o filme, mas mesmo os clichês ela faz uma espécie de alquimia cinematográfica pra tentar transformar em algo mais interessante. Há uma cena de parto, por exemplo, que acaba não passando de uma dessas alucinações bobas — mas que apresenta uma das imagens mais horríveis (no bom sentido) que vi no terror recentemente. Em outro momento, a personagem precisa ficar fazendo aqueles contorcionismos nonsense de mulher possuída, e a cena poderia muito facilmente ter caído no ridículo, pois dura vários segundos e foi filmada em plano aberto, com poucos cortes, o que evidencia qualquer defeito. Mas a cena acaba funcionando por conta da direção cuidadosa, e se tornando até intrigante do ponto de vista técnico/"coreográfico". Acabei procurando uma entrevista depois com a Arkasha Stevenson pra saber quem era ela, e o que ouvi só confirmou minha impressão de que o filme, apesar dos problemas, tinha sido feito por um cineasta mais inteligente e autêntico que a média, com boas premissas cinematográficas (o oposto do que senti quando vi entrevistas com o David Gordon Green depois de O Exorcista: O Devoto).
The First Omen / 2024 / Arkasha Stevenson
Satisfação: 7 (Idealismo Imperfeito)








