segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Setembro 2024 - outros filmes vistos

Robô Selvagem (The Wild Robot / 2024 / Chris Sanders)

Visual mais bonito que vi esse ano (assisti ao filme em uma sala com projeção laser, o que tornou tudo ainda mais impactante). A história remete a filmes como WALL·E, E.T., Dumbo, e é bem contada na maior parte, apesar de parecer mais uma reciclagem inteligente do que uma narrativa inspirada, com luz própria. O ato final tem alguns conflitos forçados e algumas mensagens duvidosas do eixo “misticismo-altruísmo-coletivismo”, mas nada a ponto de arruinar a experiência.  

Satisfação: 7 (Idealismo Imperfeito)



Silvio (2024 / Marcelo Antunez)

O que eu mais tenho aprendido vendo filmes brasileiros ultimamente é a apreciar a competência que existe por trás até de produções medianas dos EUA; qualidades que passam despercebidas, pois achamos que aquilo é o “normal” do cinema, algo automático, mas que na verdade já são reflexo de inúmeros cuidados. Em Silvio, os problemas começam no roteiro, que decide contar a história de Silvio Santos via flashbacks, usando o sequestro como moldura narrativa. Isso não funciona, primeiro porque não faz sentido Silvio começar a narrar sua história para um sequestrador naquela situação, o que torna todos os flashbacks artificiais. Depois, porque não há motivo para o Silvio ficar refletindo profundamente sobre sua vida, como se o sequestro tivesse algo a ver com sua trajetória, com escolhas que fez no passado. O sequestro no fim é um incidente aleatório que não tem relação alguma com a vida pessoal de Silvio Santos. Dramaticamente, faria mais sentido se víssemos flashbacks da vida do sequestrador ao longo do filme. É ele quem precisa tomar decisões importantes na trama, repensar seus valores, agir. Outro problema é que o sequestro não é particularmente dramático; não há desdobramentos interessantes, reviravoltas, um contexto cultural/político maior, e o desfecho é particularmente tedioso. Fica a impressão de que o sequestro foi usado como moldura só pra baratear a produção, já que desta forma, a biografia se passa na maior parte do tempo dentro de uma casa moderna, e as reconstituições mais elaboradas de época são reduzidas a umas poucas cenas. Além disso, o foco no sequestro dá ao filme aquele ingrediente indispensável do cinema nacional: bandidos e policiais falando palavrão e trocando tiros. Qualquer história que você queira contar aqui, parece que basta você passá-la pelo filtro Cidade de Deus / Tropa de Elite que o filme se torna automaticamente mais “comercial” (pelo menos na cabeça dos produtores). 

Tudo isso passaria batido pro público se a execução do filme fosse de primeira: se o casting fosse excelente, se a maquiagem convencesse, se o som e a fotografia tivessem num padrão internacional de qualidade. Mas o filme desliza em todos esses aspectos mais concretos também, especialmente na representação do Silvio Santos, que não lembra nem em aparência e nem em personalidade o apresentador alegre e visionário que todos conhecemos tão bem.

Satisfação: 2 (Idealismo Corrompido)



Rebel Ridge (2024 / Jeremy Saulnier)

Quando não gosto de um filme, é geralmente por eu achá-lo ruim esteticamente, ou então por achar a história mal intencionada, os heróis detestáveis, etc. O caso de Rebel Ridge é diferente, pois não só o filme é bem feito, como tinha tudo pra ser um suspense empolgante, uma versão mais Idealista de histórias de vigilante tipo John Wick — e o que o estraga é só uma questão de ênfase. A trama se encaixa na História Idealista #4 — a do personagem gostável que sofre uma injustiça e parte para corrigir a situação. Só que apesar do filme não relativizar bem e mal, e de parecer estar caminhando para um final feliz, o sentimento-chave de Rebel Ridge acaba sendo o de raiva, de indignação moral, pois os vilões são tão corruptos, odiosos (e realistas, o que é pior), e o filme cria tantas complicações e contratempos para o herói, que 1 hora filme adentro sua corrente sanguínea já está tão inundada de cortisol que nem uma vingança à la Dogville poderia te fazer sair feliz da sessão. É um ótimo lembrete de que o cinema deve ser tanto sobre a jornada quanto sobre o destino.

Satisfação: 2 (Idealismo Corrompido)

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DESISTÊNCIAS (comecei a ver e perdi o interesse):

- Feios (2024)
- Xógun: A Gloriosa Saga do Japão (2024) T1.E1

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