quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Han Solo e Leia: Quase Corrompidos

É uma pena que eu ainda não tivesse visto o documentário Império dos Sonhos: A História da Trilogia Star Wars (2004) quando fiz o vídeo sobre The Acolyte, pois ele contém uma ilustração excelente da questão dos relacionamentos conflituosos e das expressões faciais que discuto no vídeo. O documentário mostra que O Império Contra-Ataca quase teve uma cena entre Han Solo e Leia que teria um clima mais cínico e pessimista como o das produções atuais. A cena chegou a ser filmada, mas na edição os produtores sentiram que havia algo de errado, e resolveram refilmá-la.

Os comentários do Gary Kurtz (produtor) no vídeo abaixo sugerem que os cineastas não tinham uma compreensão muito clara de qual era o problema da cena. Ele diz que a atitude dos atores parecia “óbvia demais”, e que depois eles refilmaram a cena de forma “mais sutil”, o que não tem nada a ver com o real problema. O que eles estavam fazendo, sem saber, era “descorromper” a cena e alinhá-la de volta com o Idealismo, dando aos personagens uma aura de benevolência e pureza de caráter. Ainda assim, intuitivamente, eles perceberam que a cena destoava do resto do filme, e fizeram os ajustes certos.

Na cena deletada, Han Solo começa fazendo um comentário meio hostil e cínico sobre o jeito de Leia se vestir, ofendendo a feminilidade dela. Depois vemos ela olhando pra ele em silêncio, desconfiada. No diálogo sobre Lando, há uma clara desarmonia entre os dois. Enquanto conversam, Han Solo avança pra cima de Leia, tentando beijá-la, e ela vira a cara. Mas no fim, ela acaba o beijando mesmo assim, apesar deles não terem resolvido o conflito de fato, o que torna o beijo meio sujo e melancólico.


Contraste isso com a cena regravada. A discussão quando Han Solo entra na sala já é muito mais leve — a voz exaltada, mais veloz e teatral, cria a impressão de um atrito não-sério desses de comédias românticas clássicas, onde a dupla obviamente se gosta e o desentendimento é superficial. O beijo na testa apenas confirma isso, quebrando qualquer senso de hostilidade. O diálogo depois também é mais amigável, o que se reflete nas expressões faciais. Ainda existe um conflito, mas não há mais o toque malevolente. Han Solo parecer triste e abaixar a cabeça no final, quando Leia fala sobre ele querer partir, revela um anseio por união, por harmonia, que faz a gente torcer para que eles fiquem juntos — algo bem diferente da aceitação do conflito e da incompatibilidade que o beijo da outra cena comunicava.

(No vídeo acima eles editaram a parte do beijo na testa, no clipe abaixo dá pra ver a cena final completa.)

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