quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Missas e Benevolência

Acho que desde criança não entrava em uma igreja pra ver uma missa de domingo, mas outro dia acabei assistindo uma missa anglicana pra acompanhar uma pessoa e tive uma percepção diferente da que tive no passado. Quando criança, o ambiente da igreja me remetia a dever, obediência, submissão, luto... Na minha percepção infantil, parecia uma atividade extremamente chata, meio sem sentido — um lugar onde você era proibido de fazer qualquer coisa minimamente prazerosa e que estava repleto de pessoas tristes, pensando na morte... Por que as pessoas gostavam de ficar ali? Se tivesse que classificar a experiência no meu Mapa de Valores, valores negativos como Repressão, Fragilidade e Malevolência teriam sido os mais dominantes.

Já nessa última missa, ficou claro para mim que o valor principal que o evento queria oferecer era Benevolência. Numa cultura onde Benevolência é o mais negligenciado dos quatro valores positivos, foi até surpreendente ver um ambiente onde se falava em esperança, paz, harmonia, inocência, e isso era desejado e levado a sério pelo "espectador". Onde músicas com "acordes doces" e mensagens otimistas eram cantadas por homens barbados — algo bastante improvável fora daquele espaço. Embora eu continue não sendo religioso, consegui me identificar melhor com a motivação das pessoas ali.

Tive até uma percepção diferente da imagem de Jesus crucificado. Em vez de uma romantização do autossacrifício, a imagem me pareceu apenas um pano de fundo para as palavras positivas e reconfortantes do padre — o Contraste malevolente estratégico pra dar peso e respeitabilidade à mensagem benevolente (a "invasão nazista" de A Noviça Rebelde, os "1500 mortos" de Titanic, etc.).

Não sei até que ponto essa leitura se aplicaria a uma missa católica ou até a outras missas desta mesma tradição, mas a reflexão que tirei da experiência é que, apesar do Idealismo ter sido minimizado no entretenimento, outras instituições acabam sempre acabam dando um jeito de suprir as necessidades emocionais da população ligadas aos valores positivos. Assim como o esporte pode servir como uma fonte de Autoestima e Excitação pra muita gente — algo que a arte vem deixando de oferecer — a Igreja pode ter se tornado uma das únicas fontes de Benevolência.

2 comentários:

  1. Nunca participei de uma celebração Anglicana, sempre acompanhei minha esposa católica a Missa e vou também sozinho. Só que mais pela motivação do ambiente e alguns insights que utilizo em redes sociais para este público como forma de de conexão. Apesar do catolicismo levar muito o tema da culpa em cima de sua celebração e da homilia, sinto que as missas são mais flexíveis do que antigamente. A essência tá lá, mas tiveram que pegar mais leve (um pouco).

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    1. Eu lembro de uma linguagem mais formal/rebuscada, e de uma atitude mais intimidadora dos padres nessas missas católicas que vi na infância. Nessa anglicana, não havia esse elemento de repressão, e na hora das doações, o padre chegou literalmente a dizer "não façam nenhum sacrifício", dizendo pra contribuir só quem realmente pudesse. Então ficou bem claro esse elemento da benevolência, que nas outras que vi não existia, ou então estava soterrado embaixo das formalidades, ameaças, etc.

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