terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Como Salvar o Cinema: Minhas Sugestões

Brincando de ser prefeito de Hollywood, vou listar abaixo minhas recomendações para revitalizar o cinema.

De certa forma, meu livro e este blog inteiro são minhas sugestões de como melhorar o cinema. Mas neste post, vou apresentar uma estrutura resumida pra que fique um pouco mais claro como implementar essas ideias. 

Na minha visão, pra que uma indústria saudável e próspera exista, algumas condições são fundamentais:

Ambiente político favorável: uma sociedade livre politicamente, onde as pessoas possam produzir sem grandes impedimentos do governo.

Talentos: uma indústria que priorize qualidade e esteja sempre cultivando e colhendo os melhores talentos da população.

Valores culturais/estéticos positivos: um clima cultural (público, intelectuais, instituições) que aprecie e incentive habilidade, prazer, benevolência, racionalidade, beleza — valores que promovam a felicidade.

Com liberdade, talentos e uma cultura positiva, acho que o cinema naturalmente prosperaria. Quando o cinema está em crise, é porque essas condições estão sendo minadas de alguma forma.

Considerando a crise atual do cinema americano, vou listar algumas mudanças que, na minha visão, são necessárias para que ele volte a ter a força que já teve no passado.

É importante ressaltar que, assim como o surgimento da televisão impactou o tamanho do público de cinema, novas formas de conteúdo e entretenimento, como YouTube e redes sociais, também são competidores legítimos de longas-metragens (que, para muitos, são só um passatempo). Com mais opções de entretenimento, é natural que filmes sejam vistos por menos pessoas e com menos frequência do que no passado. Mas isso não significa que a qualidade do que é produzido precise diminuir. O número de filmes produzidos e de espectadores em salas de cinema caiu bastante nos anos 50, mas a qualidade dos filmes não foi piorando progressivamente. Se a qualidade decaiu tanto na última década, não acho que seja por uma redução do público.

A crise atual do cinema é consequência de vários fatores culturais e econômicos interligados. Vou listar abaixo os principais problemas que vejo destruindo as condições listadas acima, e também uma breve indicação de como solucioná-los:

FALTA DE LIBERDADE E LIVRE COMPETIÇÃO

Nos EUA, ainda há liberdade suficiente para que o cinema prospere. Embora greves e outras questões atrasem a indústria, o governo não me parece ser o principal problema de Hollywood. (Se eu estivesse dando dicas para a indústria brasileira, a discussão já começaria aqui.

CULTURA ANTI-IDEALISTA E POLÍTICAS DEI

Meritocracia sufocada pela filosofia DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão)
: ao colocar inclusão e diversidade acima de excelência, o mecanismo complexo que cultiva grandes talentos na indústria entra em curto-circuito.
Solução: contratar e reconhecer profissionais com base em excelência, resultados e compatibilidade com o projeto (vale para o Oscar e outras premiações).

A morte dos astros: astros de cinema são importantes para uma indústria vibrante. Parte do declínio dos astros tem a ver com as redes sociais e a banalização da fama provocada por essas novas tecnologias. Mas uma grande parte vem de tendências como a do Casting Naturalista, que age contra a criação de astros.
Solução: escalar atores com base em uma combinação ideal de talento, carisma e "star quality" — e preservar um mistério sobre a vida pessoal das celebridades.

Influências do Não Idealismo em produções comerciais: tanto em aspectos estéticos, que matam o escapismo e o glamour do cinema (como a fotografia naturalista), quanto em aspectos temáticos (filmes que buscam relevância por suas mensagens sociais, desconstruções estilísticas, etc.).
Solução: realinhamento com a estética Idealista e com a Primazia do Espectador (vale também para o Oscar).

Idealismo Corrompido dominando o entretenimento: Senso de Vida Malevolente e anti-heróis destruindo a leveza e o poder de inspiração dos filmes, que se tornaram mais sombrios, mais focados em sofrimento, conflitos, fragilidades humanas, etc.
Solução: realinhamento do entretenimento com princípios Idealistas.

Politicamente correto sufocando sex-appeal, humor e franqueza nos filmes.
Solução: liberar as grandes produções para que elas voltem a lidar com temas que realmente provoquem e surpreendam o público.

"CAPITALISMO PREDATÓRIO" E MERCANTILIZAÇÃO DO CINEMA

Falta de talentos e de liberdade criativa: grandes produções hoje são frequentemente criadas por comitês, empresários, não por artistas autênticos, o que reduz os talentos na indústria e a qualidade dos filmes.
Solução: resgatar o equilíbrio do passado que criava o "Gênio do Sistema" — a tensão produtiva entre escritores/diretores de talento excepcional, que protegiam a integridade artística do trabalho, e o produtor (alguém também educado artisticamente — não apenas um investidor), que protegia a viabilidade comercial do projeto.

Streaming: sistemas de assinatura que priorizam a atratividade da plataforma, não a de obras individuais, promovem uma "coletivização do entretenimento" que reduz a qualidade dos filmes.
Solução: tirar filmes novos de pacotes de assinatura, para que o sucesso comercial de cada filme volte a depender de transações individuais (ingressos de cinema, aluguéis e vendas digitais ou de mídias físicas).

Sequências, remakes e reboots: a fórmula de lucrar em cima de propriedades intelectuais estabelecidas, não no mérito de filmes individuais, também leva a uma deterioração da qualidade.
Solução: priorizar qualidade, originalidade, obras autocontidas, e reduzir o número de filmes que dependem de IPs.

Esta não é uma lista definitiva, e há outros problemas que poderia acrescentar no futuro, mas a maioria deles é consequência desses problemas mais fundamentais (que geralmente estão ligados à "cobiça dos fracos" ou à "cobiça dos fortes" — como boa parte dos problemas do mundo).

Não acho que seja possível algum poderoso revolucionar a indústria cinematográfica mexendo nesses fatores um a um, de forma calculada, pois há dinâmicas mais complexas por trás dos rumos que a cultura e a economia tomam. Não é possível, por exemplo, replicar em 2025 as mesmas condições que tornaram a geração Boomer ambiciosa e otimista há 50 anos. E as novas tecnologias que mudaram a relação do público com a produção audiovisual e com as celebridades também não devem desaparecer. Ainda assim, acho que algumas dessas dicas podem ser adotadas por produtores individuais que queiram fugir das práticas que vêm prejudicando o cinema atual.

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