
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Abril - outros filmes vistos

segunda-feira, 31 de março de 2025
Março 2025 - outros filmes vistos

Mickey 17 (2025 / Bong Joon Ho) — Reclamamos com tanta frequência da falta de originalidade nos filmes que é fácil cair na armadilha de achar que originalidade, por si só, torna um filme bom. O novo longa do diretor de Parasita (2019) prova que isso não é verdade. Excentricidade é o prato principal aqui, mas em vez do caos organizado de filmes como A Substância ou Pobres Criaturas, Mickey 17 parece mais o delírio de um esquizofrênico pretensioso. Convencido de que os frutos de sua imaginação serão sempre brilhantes, o filme se entrega a devaneios aleatórios sem a disciplina necessária para produzir uma boa história.
domingo, 30 de março de 2025
Dinâmica Espiral
Li recentemente o livro A Theory of Everything, de Ken Wilber, e fui exposto à teoria da Dinâmica Espiral — que eu desconhecia — e que me pareceu ainda mais útil do que a teoria do Dabrowski para explicar os diferentes níveis de desenvolvimento humano. Achei interessante porque ela pode ser aplicada a questões artísticas e culturais de maneira mais concreta e provavelmente se tornará uma ferramenta valiosa nas minhas análises.
A teoria não é de Wilber e já parece bastante difundida, então não vou reintroduzi-la aqui. Quem se interessar poderá encontrar diversos resumos na internet. Mas vou dar uma breve descrição de cada nível, aproveitando pra indicar que tipo de cinema ou entretenimento associo a cada um deles em um primeiro momento (devo ler mais sobre o tema no futuro, o que pode levar a correções).
Basicamente, a Dinâmica Espiral descreve 8 níveis de desenvolvimento da consciência humana, indo do mais elementar (Bege) ao mais complexo (Turquesa). Todos nós nascemos no nível Bege e, normalmente, evoluímos para estágios superiores. Civilizações como um todo também tendem a avançar ao longo dos séculos, conforme a população adquire mais conhecimento. No entanto, nem todos os adultos chegam ao nível mais elevado da espiral, e cada cultura e período da história tem um “centro de gravidade” em torno de um nível específico.
Primeiro Nível

Segundo Nível
(Há uma divisão entre os primeiros seis níveis e os dois últimos, pois Amarelo é o primeiro estágio que compreende o papel da espiral como um todo)
7. Amarelo – Nível integrativo, que entende a função de todos os estágios da consciência para a humanidade e busca harmonia e coordenação entre diferentes níveis de realidade.
Arte: União entre Arte e Entretenimento — obras que integram as sensibilidades do nível Verde com as necessidades dos níveis anteriores, buscando tocar todos os estágios de desenvolvimento e promover crescimento.
8. Turquesa – Nível holístico — plena integração entre razão e emoção; a união entre o “eu” e todos os elementos do cosmos.
Arte: Arte total — estágio no qual a integração do nível Amarelo é incorporada pelo próprio artista, tornando sua obra uma manifestação indivisível de sua pessoa e sua experiência única de vida.
Wilber estima que a população mundial esteja distribuída aproximadamente desta forma entre os diferentes níveis (o livro é do ano 2000 — imagino que, de lá pra cá, o Verde tenha crescido em poder):
Em alguns textos aqui no blog, já tentei categorizar filmes em termos de diferentes níveis de talento, maturidade, intelecto (como no texto O Fator G do filme), mas até agora não tinha encontrado um conceito que trouxesse tanta clareza para a qualidade que eu estava tentando nomear.
A teoria também ajuda a explicar minha noção de que os melhores filmes operam em diversos níveis — estimulam o intelecto, elevam o espírito, mas sem ignorar as necessidades básicas do espectador comum.
Pretendo explorar mais a Dinâmica Espiral e suas aplicações no futuro. Nesta postagem, quis apenas introduzir o tema para quem tiver interesse.
terça-feira, 25 de março de 2025
Temperamento Ativo e Passivo
Muitos conflitos psicológicos, sociais e políticos derivam de uma relação problemática da cultura com dois tipos de temperamento humano: o ativo e o passivo. Quando não se reconhece o valor de ambos — o fato de que são produtivos, necessários e complementares — e se passa a condenar um deles, os conflitos inevitavelmente surgem.
Tradicionalmente, o temperamento passivo era respeitado em mulheres, e o ativo, em homens. Atualmente, o temperamento passivo parece ser menosprezado pela cultura em geral, inclusive em mulheres. Mas a verdade é que esses temperamentos não discriminam entre sexos. Tanto homens quanto mulheres são naturalmente divididos entre aqueles com um temperamento mais ativo e aqueles com um temperamento mais passivo.
A pessoa com temperamento ativo se sente realizada ao exercer seu comando sobre a natureza e os outros, deixando sua marca no mundo externo.
A pessoa com temperamento passivo se sente realizada ao embarcar na iniciativa da figura ativa, contribuindo e tornando-se uma influência fundamental sobre suas ações e conquistas.
O temperamento ativo tende a ser mais ingênuo, mas cheio de vontade e propósito. O temperamento passivo tende a ser mais sábio, sensível, mas mais cético e menos inclinado a tomar a iniciativa. A pessoa de temperamento ativo tem forças que a de temperamento passivo não tem, mas tem faltas que só esta pode preencher — e vice-versa. Ambas poderiam sobreviver sozinhas, mas são mais fortes unindo suas forças. (A frase "Por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher" poderia ser aperfeiçoada para descrever a relação simbiótica entre os dois temperamentos.)
Recentemente, recomendei o livro sobre a parceria entre Louis B. Mayer e Irving Thalberg em Hollywood, que ilustra bem como os dois temperamentos são complementares. Mayer (de temperamento mais ativo) teria deixado de produzir filmes sem a parceria de Thalberg? Provavelmente não. Mas seus filmes teriam sido mais comuns, menos refinados artisticamente, e a MGM provavelmente não teria se tornado tão prestigiada. Thalberg (de temperamento mais passivo), por outro lado, sem a liderança e iniciativa de Mayer, não teria exercitado seus dons de forma tão plena e em uma escala tão grandiosa.
Um temperamento não é necessariamente incapaz de fazer o que o outro faz. Às vezes, pode até ser capaz, mas não sente o mesmo preenchimento emocional ao fazê-lo, o que cria limitações. O temperamento ativo e o passivo são como traços introvertidos e extrovertidos: todos temos um pouco dos dois, mas um geralmente predomina. A chave é não reprimir nenhum deles, e reconhecer qual melhor define sua essência.
Parte da doença da sociedade atual vem não só das velhas associações entre temperamentos ativos/passivos e gêneros específicos ou práticas sexuais, mas também do fato de que, atualmente, apenas o temperamento ativo é exaltado pela cultura. A consequência da repressão do temperamento passivo é uma parcela enorme da população com a identidade pessoal fragmentada, agindo contra sua natureza para tentar se encaixar em papéis que não foram feitos para ela. (E o problema não é só as pessoas de temperamento passivo se sentirem pressionadas a agir como as de temperamento ativo, mas também as pessoas de temperamento ativo ignorarem o papel do temperamento passivo e se acharem autossuficientes em todas as funções.)
Sem autoconhecimento, autoaceitação e o entendimento de que um temperamento, sem o outro, é muitas vezes incompleto, as parcerias mais produtivas e satisfatórias não se formam — e, quando isso ocorre, todos saem perdendo.
quarta-feira, 19 de março de 2025
segunda-feira, 10 de março de 2025
Cultura - Março 2025
Quando digo que o que falta em Hollywood hoje são produtores que não sejam apenas homens de negócios, é em alguém como Thalberg que estou pensando. Louis B. Mayer era visto como o produtor bom em negócios, enquanto Irving Thalberg era o produtor com sensibilidade artística. Mas a verdade é que até Mayer, que não tinha a mesma cultura e o olhar refinado de Thalberg para decisões criativas, estava longe de ser apenas um homem de negócios: ele era um apaixonado por cinema, profundamente comprometido com a qualidade, com o conteúdo moral de seus filmes, e que acreditava que todo seu sucesso dependia dos grandes talentos que ele mantinha ao seu redor.
segunda-feira, 3 de março de 2025
Oscar 2025
Como eu pressentia, o Oscar 2025 não trouxe nenhuma mudança para melhor e seguiu o mesmo padrão dos anos anteriores (em termos de vencedores — a cerimônia é outra discussão).
Sean Baker, com Anora, igualou o recorde de Walt Disney de 4 Oscars em um único ano, e já conquistou mais Oscars do que Steven Spielberg em toda a sua carreira. Isso só reforça minha convicção de que já passou da hora de mudarmos o apelido do Oscar para outra coisa, já que a Academia passou a celebrar um tipo de cinema que pouco tem a ver com o que o nome "Oscar" significa no imaginário popular. Quando multidões de brasileiros comemoram nas ruas a vitória de Ainda Estou Aqui, você acha que o orgulho que elas sentem vem da admiração por filmes como Birdman, Moonlight, A Forma da Água, Nomadland, Coda e Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo?
Se eu tivesse controle sobre o evento, os indicados e o vencedor de Melhor Filme seriam algo na linha dessa seleção abaixo. Repare que todos esses filmes estavam indicados a algum prêmio. Ou seja, o problema do Oscar às vezes não é nem tanto a falta de filmes adequados, mas a inclusão e a predominância de filmes que subvertem sua identidade. Com a safra deste ano, teria sido possível criar um Oscar parecido com os do passado. Mas, no fim, tudo fica nas mãos de uma elite cultural que decide o que irá destacar e o que é digno de honra.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Fevereiro 2025 - outros filmes vistos

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Cultura - Fevereiro 2025
25/2 - No meu texto recente Como Salvar o Cinema, apontei dois problemas centrais na indústria: os valores Anti-Idealistas na cultura (DEI, woke, etc.) e a mercantilização do cinema. À medida que a cultura woke entra em declínio, algumas franquias vêm se "descorrompendo" e tentando adotar um tom mais positivo e nostálgico pra agradar os fãs (e evitar prejuízos). Eu deveria estar aliviado com isso, mas ainda não estou — e o motivo é que o segundo problema ainda não deu qualquer sinal de declínio.
A venda dos direitos criativos da franquia 007 para a Amazon foi o lembrete mais recente de que o cinema popular de Hollywood é raramente resultado de impulsos criativos autênticos. E sem autenticidade, inteligência e qualidade, o "Idealismo" de um filme não tem grande efeito. Em comparação com The Acolyte, Skeleton Crew foi um grande avanço em termos de tom, mas continua sendo uma série enlatada, que não tive interesse em continuar vendo após o segundo episódio. Filmes como Twisters e Alien: Romulus também tentaram se reaproximar do tom dos originais, mas, criativamente e dramaticamente, não trouxeram nada realmente especial. Pelo trailer, prevejo que Jurassic World: Rebirth seguirá a mesma tendência do fan service sem personalidade.
No texto Mentalidade Clichê, escrevi:
"Em certas situações, acho preferível ver um filme com valores diferentes dos meus [outro 'Senso de Vida'], mas que seja autêntico, do que um filme totalmente clichê que supostamente reflete os meus valores ('supostamente', pois fica sempre uma desconfiança). Autenticidade parece ser uma qualidade básica, sem a qual todas as outras perdem força."
Ou seja, a cultura woke certamente está em declínio, mas enquanto produtores com intenções melhores não assumirem a liderança de Hollywood, não acho que veremos uma revitalização do cinema.
Dei algumas diretrizes para o ChatGPT corrigir meus textos, focando em ortografia, gramática e pontuação, mas se atendo ao texto original, sem acrescentar ou remover ideias, implicações ou alterar o estilo. Ainda assim, algumas coisas acabam sofrendo alterações, até porque existem erros que se tornaram parte do meu estilo e que o corretor acaba removendo — compreensivelmente. Queria saber se isso incomoda vocês como leitores.
Minha postura no momento é ser contra a IA generativa para fins artísticos e criativos, mas não vejo um grande problema em usá-la para funções mais práticas e técnicas — coisas que pessoas criativas já tendem a delegar a revisores, assistentes, softwares, etc. O problema é que, como a ferramenta é capaz de tudo, até de escrever um texto inteiro por você, quem lê pode sempre ficar com a dúvida: até que ponto estou lendo algo autêntico, me conectando com o autor do texto, e até que ponto estou me conectando primeiramente com uma IA? Pra mim, a IA é o Auto-Tune do cérebro — e, assim como hoje não sabemos mais o quanto um cantor é realmente afinado no mercado musical, em breve não saberemos o quanto uma pessoa é inteligente, capaz de pensar sozinha, etc. Talvez a norma no futuro seja as pessoas fazerem declarações como esta, estabelecendo o papel que a IA tem no trabalho delas. Mas muito vai depender da confiança e do que a pessoa construiu antes da chegada da IA, no caso da geração que teve uma vida anterior.
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Missas e Benevolência

Já nessa última missa, ficou claro para mim que o valor principal que o evento queria oferecer era Benevolência. Numa cultura onde Benevolência é o mais negligenciado dos quatro valores positivos, foi até surpreendente ver um ambiente onde se falava em esperança, paz, harmonia, inocência, e isso era desejado e levado a sério pelo "espectador". Onde músicas com "acordes doces" e mensagens otimistas eram cantadas por homens barbados — algo bastante improvável fora daquele espaço. Embora eu continue não sendo religioso, consegui me identificar melhor com a motivação das pessoas ali.
Tive até uma percepção diferente da imagem de Jesus crucificado. Em vez de uma romantização do autossacrifício, a imagem me pareceu apenas um pano de fundo para as palavras positivas e reconfortantes do padre — o Contraste malevolente estratégico pra dar peso e respeitabilidade à mensagem benevolente (a "invasão nazista" de A Noviça Rebelde, os "1500 mortos" de Titanic, etc.).
Não sei até que ponto essa leitura se aplicaria a uma missa católica ou até a outras missas desta mesma tradição, mas a reflexão que tirei da experiência é que, apesar do Idealismo ter sido minimizado no entretenimento, outras instituições acabam sempre acabam dando um jeito de suprir as necessidades emocionais da população ligadas aos valores positivos. Assim como o esporte pode servir como uma fonte de Autoestima e Excitação pra muita gente — algo que a arte vem deixando de oferecer — a Igreja pode ter se tornado uma das únicas fontes de Benevolência.