Parece uma versão cômica de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? esse novo filme de Roman Polanski que mostra dois casais num apartamento no Brooklyn discutindo um incidente escolar onde o filho de um deles agrediu o filho do outro, chegando a quebrar dois dentes do garoto.
Jodie Foster e John C. Reilly fazem os pais da vítima. Kate Winslet e Christoph Waltz fazem os pais do agressor. O filme se passa praticamente inteiro dentro do apartamento acompanhando a conversa entre os 4 - que começa prática e formal, mas vai ficando cada vez menos civilizada, expondo a hipocrisia de todos.
A conclusão é: o ser humano é amoral, as pessoas são irracionalmente egoístas, não há entendimento entre ninguém, razão e moralidade são apenas convenções criadas pra camuflar nossos impulsos animais. É o tipo de filme que olha de cima pra baixo pros personagens - no conflito, todos estão errados, todos são patéticos, e o diretor fica por trás da cortina rindo da mediocridade do ser humano (ou tentando justificar a própria, afinal Polanski tem um passado suspeito). Quando me deparo com esse tipo de filme eu sempre penso - se todo mundo é desprezível nessa história, então por que não escolheram outra?
Poderia ter funcionado, o problema é que o conteúdo não é tão rico quanto gostaríamos. Pra um filme que tem a pretensão de expor a amoralidade humana (não se trata de uma comédia completa), o conflito aqui é banal demais e a discussão é superficial, baseada em noções mal formadas sobre o que é certo e errado (a personagem da Jodie Foster é apresentada no começo como um símbolo de ética, pois ela expressa empatia pelos famintos da África e admira a Jane Fonda - se essa é a noção do filme do que seria moralidade - aquela que somos incapazes de atingir - então é uma confissão de que ele não domina o assunto que resolveu tratar).
A situação toda parece forçada; não há motivos pro casal permanecer horas no apartamento de estranhos, discutindo um assunto desagradável que poderia ser resolvido rapidamente - às vezes parece O Anjo Exterminador, como se houvesse uma força sobrenatural os impedindo de ir embora. Filmes desse tipo precisam estar fundados em conflitos sérios, personagens convincentes e diálogos inteligentes. Há alguns bons momentos na história, mas sem essa base, nem um elenco como esse consegue ir muito longe.
Carnage (França, Alemanha, Polônia, Espanha / 2011 / 80 min / Roman Polanski)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Separação, Dúvida.
NOTA: 6.0
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