sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Interestelar

- Por que exatamente o mundo está se destruindo? É culpa da humanidade? Do "consumismo"? Seria interessante explicar melhor isso.

- SPOILER: O que é este fantasma?? Alterações na gravidade formam um código na poeira que são coordenadas que levam o Matthew McConaughey até a NASA? Que loucura! E se a poeira não tivesse entrado pela janela? Muito confusa e mal contada essa ideia! Nolan certamente se inspirou em Contatos Imediatos do Terceiro Grau (onde a melodia passa as coordenadas para o local de pouso dos aliens), mas ali era tudo mais compreensível.

- O filme prende a atenção pois fala de eventos grandiosos, temas importantes, e o fato de ser uma super produção com vários atores famosos também ajuda.

- Bizarro esse robô TARS (não me parece nada high-tech o jeito dele se locomover). E o humor parece deslocado (Nolan nunca soube encaixar humor muito bem em seus filmes).

- Matthew se despede dos filhos, pega a camionete e vai pro espaço como se tivesse indo até o mercado??? Isso não parece nada realista. Cadê toda a preparação dos astronautas que duraria meses? O filme não tem um tom científico - é como se o roteirista fosse leigo e não tivesse pesquisado nada sobre como funcionaria uma missão desse tipo. Tudo acaba parecendo irreal, não sentimos que está realmente acontecendo.

- Cena em que Matthew chora ao ver as mensagens em vídeo do filho: a situação é dramática, mas o público não tem por que se emocionar como o personagem, pois não foi desenvolvida uma relação forte entre o pai e o filho - a reação dele soa exagerada, só pra mostrar a performance do ator.

- SPOILER: Absurda a sugestão da Anne Hathaway de ir pro planeta de Edmund pois ela está apaixonada pelo cara! Uma discussão como essa seria impensável entre cientistas de verdade. Aliás, todo o filme parece ser anti-ciência, anti-objetividade. Por exemplo: o personagem do Matt Damon, que seria o maior de todos os cientistas, na verdade é um covarde irresponsável movido pelas emoções. O filme usa um contexto de ciência mas na verdade quer falar de fé, subjetivismo, sacrifício - me lembra essas pseudo-religiões que tentam ganhar certa legitimidade fazendo referências à física quântica e coisas do tipo, quando na verdade não têm interesse nenhum na verdade.

- Trilha sonora cansativa. Não é de fato música - muitas vezes é um som constante, sem melodia, que permanece igual durante 10, 20 minutos, independente do que está acontecendo na tela. Apenas cria um clima de drama e tensão.


- Por que esses planetas seriam bons para habitar se ficam tão próximos a um buraco negro?!?!

- SPOILER: Divertido o Matthew entrar no buraco negro (embora o ato de auto-sacrifício seja irritante).

- SPOILER: O buraco negro leva ao outro lado da estante de livros da filha dele?? Que diabos é isso???! O filme tem ideias muito mal formadas, sem sentido, e que não são especialmente divertidas. É como se ele quisesse dar um nó na mente da plateia e impedi-la de raciocinar direito, para assim poder soar inteligente pros espectadores menos atentos (essa é a técnica que Nolan usa em todos os seus filmes).

- O espaço dentro do buraco negro parece tirado de 2001: Uma Odisséia no Espaço - os "aliens" mais evoluídos construírem em seu mundo um ambiente familiar e compreensível pro homem, etc.

- Final todo muito ruim e mal explicado. O filme acha que está sendo profundo e inteligente, mas na verdade parece essas pessoas sob o efeito de drogas que decidem entrar em papos "cabeça" e a discutir assuntos esotéricos, mas não têm muito bom senso no que estão falando. Por exemplo: se o controle da gravidade permite ao Matthew empurrar livros da estante (fazer movimentos horizontais), por que ele simplesmente não escreve um recado pra filha em inglês (na poeira ou algo do tipo)?

CONCLUSÃO: Menos negativo que os últimos de Nolan, o filme é uma tentativa de criar um grande espetáculo visual, discutir questões profundas, mas não tem credibilidade científica nem profundidade intelectual pra sustentar os temas que quer discutir (e tudo é prejudicado pelo estilo caótico de Nolan pensar e comunicar suas ideias).

Postagens relacionadas: Emoções Irracionais / Pseudo-sofisticação

(Interstellar / EUA, Reino Unido / 2014 / Christopher Nolan)

FILMES PARECIDOS: A Chegada (2016) / Gravidade / A Viagem / A Origem / Fonte da Vida

NOTA: 4.0

4 comentários:

Rodrigo E. disse...

Caio, com Interestelar eu tive a mesma impressão que tive assistindo o último Batman:

O Nolan tinha um roteiro incrível para ser trabalhado num filme de 6 horas de duração, mas o estúdio acabou cortando pra menos de 3 (no último Batman, na verdade, a versão original que o Nolan apresentou pra Warner tinha mais de 4 horas de duração).

Ainda discordo dos seus comentários sobre Inception, mas em Interestelar sou obrigado a concordar com quase tudo que você comentou.

Mesmo assim quero rever qualquer hora. No geral o filme tem mais erros do que acertos, mas não acho ele uma "bomba". Não é um novo 2001, mas é o projeto mais ambicioso que já apareceu no gênero depois do 2001.

OBS: Achei a trilha sonora do Hanz Zimmer ótima! Funcionou muito bem! Principalmente na cena em que eles tentam acoplar na nave que estava em rotação depois da explosão.

Caio Amaral disse...

Oi Rodrigo! Olha, eu acho que mesmo que o filme tivesse 6 horas, ele continuaria tendo as mesmas características, apenas por mais tempo... Esse lance da imprecisão intelectual, da confusão narrativa, não é um "deslize" do Nolan, é uma META consciente dele... está presente na maioria de seus filmes... Ele é consistentemente "anti-razão" em seu estilo - na maneira em que ele conta as histórias.. e às vezes no conteúdo tb, contando histórias que celebram o subjetivismo de maneira mais explícita, como em A Origem, Interestelar, Amnésia..

Pegue o James Cameron, por exemplo.. Ele diz que quando um filme dele fica longo demais e precisa ser cortado, em vez de ir retalhando o filme todo e tirando pedaços de todas as cenas, deixando tudo apressado e confuso pra plateia, ele prefere pegar 1 ou 2 sub-tramas que não sejam essenciais e eliminá-las por completo, mantendo o resto do filme intacto.. Essa é a atitude de um diretor preocupado com a comunicação, que não quer comprometer a clareza do filme e ofender o raciocínio da plateia.

A cena da nave em rotação é tensa mesmo... funciona... é que eu vejo a trilha desse filme mais como "sons pra criar tensão"... mas sem grande valor puramente musical...

Rodrigo E. disse...

Mas ele consegue construir melhor os relacionamentos entre os personagens e elaborar suas ideias.

Acho que com mais tempo nós teríamos ao menos aquele apego emocional aos personagens, que acabou faltando; compreenderíamos melhor suas ações e reações. Porque, sinceramente, fica a sensação de que arrancaram uma parte do filme, porque quase tudo que os personagens fazem não me parece natural (como o filho do Matthew que fica revoltado quando a irmã leva um médico para verificar o estado de saúde da família dele).

Talvez falte mesmo um pouco de maturidade pro Nolan agir como o Cameron age quando precisa cortar seu filme.

Caio Amaral disse...

Sim Rodrigo.. Mas por mais que com mais tempo seja possível enriquecer mais os personagens, dar mais detalhes da trama, etc, o BÁSICO necessário pra vc simpatizar pelos personagens, entender a motivação deles, entender a história - isso tudo é possível apresentar em poucos minutos.. Não é tempo que faz a gente criar apego pelos personagens.. Às vezes nas primeiras ações ou palavras um personagem já consegue encantar a gente.. Criar esse apego.. Quando vc elimina coisas de um filme, vc elimina coisas redundantes, ou coisas que já foram bem desenvolvidas/apresentadas.. mas nada essencial que vá fazer a plateia gostar menos do filme como um todo né.. Abs!