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NOTAS DA SESSÃO:
- Início decepcionante, o filme é totalmente
Naturalista. Um retrato da periferia, de uma realidade dura, sem uma narrativa envolvente, personagens bem construídos (o menino é totalmente passivo, uma vítima genérica da sociedade sem nenhuma característica interessante que o filme saiba destacar).
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Senso de Vida negativo. A vida aqui parece conflituosa por natureza - não porque alguém foi mau ou agiu de forma errada. No universo do filme simplesmente ninguém se entende, ninguém se comunica direito, mesmo quando está tudo normal (compare com
Lion, que também é sobre pessoas vivendo em uma realidade difícil).
- Por que o menino sofre bullying? O filme não mostra de que forma ele destoa dos demais da escola. Ele é nerd, afeminado ou algo do tipo? Não vemos nada disso. Não é um retrato feito com inteligência emocional. O público acha que o filme faz um retrato "íntimo" do personagem, mas isso é porque o garoto é tão silencioso que as pessoas projetam o que quiserem nele.
- Não há história. O filme só quer expor a realidade dessas pessoas... Vemos os problemas do menino na escola, a mãe drogada, a rotina na casa (como ele tem que ferver água pra ter um banho quente), etc. É a ideia Naturalista de que, se você está retratando pessoas menos privilegiadas, o espectador não pode esperar uma narrativa envolvente, estimulante... É o dever moral dele sacrificar algumas horas de sua vida pra dar atenção a questões mais "sérias" que cinema.
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- O comportamento dos personagens é artificial, como se o cineasta não entendesse de natureza humana ou não conhecesse bem a realidade dessas pessoas. O menino é tão tímido que mal abre a boca; até parece que ele iria perguntar no meio do jantar "o que é uma bicha?" pra pessoas que ele mal conhece. Ele é chamado de bicha na escola? Isso é um drama pra ele? Não vimos nada disso.
- Quando ele se torna adolescente ele continua totalmente enrustido, sem personalidade, mesmo tendo sido parcialmente criado por um casal saudável, feliz, que estimulava a autoestima dele. Não é muito convincente essa caracterização, o garoto se comporta como se fosse um bicho do mato. O filme quer insistir na ideia da vitimização. De que negros pobres não têm chance na vida, são vítimas do sistema (o que pode até ser uma verdade em partes, mas não por esses motivos que estou vendo aqui).
- O personagem da mãe é odioso (roubando o dinheiro dele pra comprar drogas)! E unidimensional, caricato.
- O fato do menino ter impulsos homossexuais é apenas mais uma informação jogada na história... não cria um novo rumo pro filme. Não sabemos nada sobre o mundo interno do personagem. Seus desejos, receios. Uma hora ele diz "às vezes eu choro tanto que sinto que vou me afogar". Em nenhum momento vimos o personagem chorando no filme! É tudo artificial. O filme está apenas se divertindo com a ideia de subverter o estereótipo do "gangster", do "negão"... Mostrando o lado feminino e delicado dessas figuras - mais para o deleite da plateia "progressista" do que pra fazer uma observação psicológica interessante.
- Pelo menos o ator da versão adulta do protagonista é melhor, mais expressivo. Mas continua não acontecendo nada nesse terceiro ato todo do filme. Apenas 1 tipo de público deve estar tendo algum interesse genuíno na história: o público gay que tem fetiche de ver homens héteros se pegando (claro, os progressistas também devem estar gostando de ver a subversão do machão, etc). O filme quer prender a atenção num nível sexual, não num nível dramático, narrativo (imagine se fosse um romance comum entre um homem e uma mulher... não haveria nenhum interesse, pois os personagens não têm uma relação significativa, um histórico, um universo interno, etc). Eu por ser gay acho interessante a química entre eles, mas tento separar isso dos méritos reais do filme.
- Muito ruim a maquiagem da mãe. Quando o filho está adulto, ele parece da mesma idade dela. E a personagem continua desagradável, falando coisas genéricas. A relação dos dois não se torna mais interessante, não passa por uma transformação, ela não participa da descoberta sexual dele (nem contribui pra sua repressão), é como se fizesse parte de outro filme. O filme quer passar a ideia de que descobrir sua sexualidade foi especialmente difícil pro personagem nessa comunidade. Mas ele nunca foi reprimido pela mãe, e o Mahershala Ali parecia lidar com o assunto de maneira bem liberal. Só na escola que ele sofria bullying, mas isso até crianças brancas e ricas sofrem.
- Qual o sentido de dar destaque pra essa música do Caetano Veloso em espanhol? É um elemento aleatório pra mostrar que o filme, além de representar os negros e os gays, também representa os latinos.
Moonlight não está focado em coerência estética, ele quer apenas ser o filme "anti-Trump" definitivo concorrendo ao Oscar.
- Todo o final é apenas uma longa cena quase documental, com um ritmo lento, sem novas ideias, que pretende prender o espectador em cima da pergunta: que horas o protagonista e o amigo vão se pegar? Não há um desenvolvimento interessante no roteiro. Nem é algo que deve envolver o espectador comum, que não tenha o perfil sexual que favoreça o filme. E no final o filme ainda se nega a entregar a cena de sexo que estava prometendo. A plateia sai do cinema em silêncio, meio entediada - mas com medo de falar mal do filme, por ele ser tão "relevante" socialmente.
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CONCLUSÃO: Filme naturalista superficial que ganhou relevância mais por causa do conteúdo sócio-político da história do que por méritos cinematográficos reais.
Moonlight / EUA / 2016 / Barry Jenkins
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FILMES PARECIDOS: 12 Anos de Escravidão (2013) / Preciosa: Uma História de Esperança (2009)
NOTA: 4.0