quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A Morte de Luís XIV

NOTAS DA SESSÃO:

- Bonito o visual com cara de pintura. Mas o começo é uma chatice. Fica mostrando momentos vazios da rotina de um homem doente na cama.

- Não sabemos nada sobre o personagem - seus valores, desejos, motivações, o que ele está sentindo, pensando, etc. O fato dele ser o Luís XIV pouco importa pro espectador se o filme não desenvolve o personagem. Pra plateia é apenas um corpo físico numa cama sem conteúdo algum. Naturalismo extremo. Não há nenhum conflito na história, nenhuma mudança na vida do personagem. Quando o filme começa ele já está doente e ele apenas continua desse jeito, passivo, apenas vai piorando lentamente.

- O filme intercala cenas vazias do Luís XIV na cama impotente, bebendo água, comendo, com diálogos paralelos banais dos empregados discutindo sua saúde, etc. Os personagens são todos um tédio, sem nenhum tipo de carisma, personalidade.

- Se aparecer mais uma vez um empregado servindo água / comida pra ele na cama acho que eu vou me levantar e ir embora! Se você cortasse todas as "cenas" em que isso acontece, o filme teria uns 40 minutos a menos de duração. O problema é que esse tipo de coisa é basicamente a única "ação" que existe no filme. Sem isso, seria apenas um velho parado na cama sem fazer nada. Então a cada 5 minutos alguém tem que servir água pra ele e "eletrizar" a plateia.

- O filme é patético. Uma pegadinha em cima do espectador (o mais engraçado é olhar as pessoas no cinema olhando atentas pra tela tentando analisar o filme - tipo pessoas numa galeria de arte moderna tentando decifrar o indecifrável). Parece aquelas coisas do Andy Warhol nos anos 60, que lançou um filme de 8 horas que era apenas uma imagem parada do Empire State onde nada acontecia. Só que ali pelo menos estávamos olhando pra um prédio bonito em Nova York, e não pra um senhor feio agonizando na cama. Nem em um velório um ser humano é obrigado a passar por um tédio tão grande quanto assistir a esse filme - num velório pelo menos há a emoção intensa da perda, podemos conversar com os convidados, etc.

- Alerta Vermelho: o prazer todo do cineasta é o de mostrar a derrota dos poderosos, a impotência daqueles que se consideram privilegiados. Ele diminui não apenas o rei (com seu cabelo ridículo), mas também os homens ao seu redor - mostrando a impotência da razão e da ciência ao lidar com questões médicas.

- As atuações são péssimas. Repare como ninguém fala ou reage de maneira lógica. O cara vira pro médico e diz "Acho você um charlatão". Em vez de reagir como qualquer ser humano — ficar ofendido, tentar se defender, o cara não muda de expressão e responde algo que não tem nada a ver, como se não tivesse ouvido o comentário: "Vim salvar o rei". Isso tudo é pra dar um clima estranho e misterioso de "filme de arte", e camuflar o fato de que não há nada acontecendo na tela, de que o filme não tem conteúdo algum.

- Experimentalismo: o cineasta parece achar que arte é o oposto de entretenimento. Portanto quanto menos estimulante e menos prazerosa for a experiência, maior é a prova de seu valor artístico. Ele se orgulha em mostrar pro espectador como ele é rebelde, como ele é anti-comercial, como ele zomba de quem que entra no cinema esperando uma boa história, e se depara com um filme que é apenas um homem morrendo numa cama - e espera ser aplaudido por isso. O problema é que, julgando apenas pelo que vemos na tela, não dá pra saber se este é de fato o propósito do cineasta, ou se ele é apenas um deficiente mental achando que está fazendo um filme autêntico com algum valor artístico.

La mort de Louis XIV / Portugal, França, Espanha / 2016 / Albert Serra

NOTA: 0.0

2 comentários:

Marcus Aurelius disse...

Olá Caio, o que tu queres dizer com "filme niilista"? Tu se referiu aos filmes do Godard como niilistas também na crítica de "Esquadrão Suicida". Eu ainda não compreendi inteiramente.

Caio Amaral disse...

Oi Marcus.. dá uma pesquisada no termo niilismo.. às vezes digo isso quando o filme tem a pretensão de destruir a estrutura cinematográfica - faz coisas sem sentido apenas pra quebrar com as normas, questionar as regras, etc. Dá uma lida na postagem Desintegração também que eu linkei aqui nessa postagem. abs!