Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, o filme conta a história de um garoto indiano pobre que passa a trabalhar como motorista para uma família milionária e começa a mudar suas crenças em relação a dinheiro, riqueza e tradições culturais. Apesar do meu Alerta Vermelho ter soado logo no início (por causa da atitude cínica do narrador em relação ao capitalismo, aos EUA, etc.), acompanhei a história com curiosidade e até com uma leve simpatia pelo personagem principal, que a princípio me parecia apenas uma vítima da cultura indiana (que prega submissão, pobreza, auto-sacrifício etc.). Estava vendo potencial pra um tema positivo na trama — pensei que ele poderia se libertar de suas "crenças limitantes", desenvolver uma mentalidade empreendedora saudável, e quem sabe até ir embora do país. Foi só no 3º ato que vi que estava enganado, e que se trata de mais um filme do gênero "kill the rich" para as plateias estúpidas e ressentidas da atualidade se sentirem vingadas.
Se a cultura indiana anti-sucesso é mostrada negativamente pelo filme, a alternativa que ele apresenta não é muito melhor... É a típica visão de mundo onde ou você é presa, ou você é predador; onde ou você é devorado, ou você devora; onde ou você é pobre, oprimido e miserável (mas honrado), ou você abre mão da ética e se torna um rico ladrão, corrupto e opressor, mas que vive a boa vida (o protagonista é "esperto" o bastante para escolher a 2ª opção). Pense em quem é que se sente confortado com essa interpretação da realidade. A pessoa honesta, que aceita os fatos, que quer apenas o que é justo e merecido? Não — os fracassados medíocres, desonestos, que dessa forma podem acreditar que não são ricos pois são "bons demais", que aqueles que têm mais que eles não têm virtude alguma; e também os trapaceiros, malandros, bandidos, que agora podem acreditar que não tiveram escolha, que não são responsáveis por tudo de criminoso e abominável que tiveram que fazer na subida ao "topo".
Há muito em comum com Parasita aqui, inclusive essa noção de que a moralidade é um "luxo" apenas para os que nascem ricos. Mas Parasita é um filme mais cômico, mais alegórico, que dá pra assistir sem levar tão a sério. Já O Tigre Branco é um filme que, apesar do tom irônico, tenta parecer mais realista, discutir questões sociais de maneira mais madura, equilibrada. [SPOILER] Então quando ele mostra o protagonista roubando, assassinando o patrão, e trata isso como se fosse um mal necessário, sem mostrá-lo pagando o preço depois, decaindo no final — mas se tornando confiante e bem sucedido, isso é ainda mais chocante e odioso.
É um filme bem realizado, bem escrito (além do texto ser inteligente, a história é envolvente, bem estruturada), mas que treina os espectadores (como tantos filmes hoje) para enxergarem os ricos como ladrões, trapaceiros, exploradores, que devem ser destruídos e ter suas riquezas expropriadas.
The White Tiger / India, EUA / 2021 / Ramin Bahrani
NOTA: 4.5
Nenhum comentário:
Postar um comentário