segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O Esquadrão Suicida

(Os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

- Não sou de filmes que focam em bandidos carismáticos, que querem tornar delinquência algo cool e irreverente. Só acho isso interessante em caso de filmes mais intelectuais, onde o diretor tem a intenção de fazer algum tipo de crítica ou análise psicológica/moral, mas não quando usa disso só pra entreter.

- Praticamente todo mundo no filme é mau: a Viola Davis, o governo, os "heróis", os inimigos...

- O filme obviamente quer agradar o público de direita, e está fazendo isso de maneira um pouco mais explícita que o normal; coloca comunistas como vilões, tem uma atitude politicamente incorreta, etc. 

- Comparando com a mediocridade habitual dos filmes do gênero, este se destaca por ter um pouco mais de personalidade, estilo, criatividade (a cena na cadeia onde o Idris Elba discute com a filha parece ter saído de um filme do Tarantino ou algo do tipo).

- Idealismo Corrompido: O fato do filme não se levar a sério parece ser motivo de orgulho aqui... Há uma série de detalhes ridículos propositalmente inseridos pra passar essa ideia: o homem-tubarão, os títulos engraçadinhos que surgem na tela, etc.

- No fundo, é apenas mais um desses filmes com fetiche por armas, tiroteios, músculos, violência grotesca... Lembra o Army of the Dead do Zack Snyder, misturado com o "humor" de filmes como Thor: RagnarokGuardiões da Galáxia, Deadpool. Apesar de um ou outro toque de ousadia, não há nada de realmente novo.

- Numa cena andando pela floresta, o Idris Elba comenta que um dos personagens não se interessa por liberdade de fato (no sentido político), e quer apenas usar da luta por liberdade como pretexto pra realizar desejos mais obscuros, como atirar em pessoas, etc. É de uma ironia incrível o filme dizer isso quando ele próprio promove essa atitude.

- Curioso que um filme que começou tentando agradar à direita precise no fim declarar os EUA como vilões também.

- SPOILER: O final é apenas a culminância da atitude de não se levar a sério que citei antes... Pra quem respeita entretenimento e foi ao cinema querendo realmente acreditar no espetáculo, o clímax é um tédio. Agora se você considera auto-ridicularização uma virtude, gosta de ver filmes pra "desligar o cérebro", é do tipo de pessoa pra qual diversão e "zoeira" são conceitos sinônimos... ver uma estrela-do-mar assassina gigante se transformando na mãe do Homem-Bolinha e depois sendo devorada por milhões de ratos teleguiados será certamente um deleite.

The Suicide Squad / 2021 / James Gunn

13 comentários:

Korvoloco Aspicientis disse...

Eu estaria mentindo se falasse que não me diverti em algumas partes, mas o fato de rir em algumas cenas não eleva a qualidade do filme no todo. Algumas partes mesmo foram mais irreais que um tubarão falante ou uma menina que comanda ratos telepaticamente, como depois que os personagens entram naquela aldeia de guerrilheiros, mata todo mundo lá, inclusive uma simples mulher lavando roupas, aí quando eu pensei que a personagem da Alice Braga ficaria revoltada com os ''heróis'', ela fala que o ditador da ilha matou a família dela e por isso quer vingança e seria aliada até do diabo se possível... Como assim? Os colegas e amigos dela estão todos mortos pelo Esquadrão Suicida e ela não dá a mínima? Ela que era pra ser talvez uma das únicas personagens do filme com ideais positivos, o roteiro a faz com essa frieza de personalidade. Puro desleixo. Por mais que eu não curta, os filmes do Deadpool podiam ter todos os defeitos possíveis, mas ao menos o Colossus era íntegro, mesmo que ridicularizado por ser ''piegas''. Aliás, Esquadrão Suicida nada mais é que um ''efeito colateral'' de Deadpool.
Já a parte deles tentarem agradar o público conservador, pelo menos mais na primeira parte do filme, me passou essa impressão também. Só que mudaram mais pro final, talvez por medo de serem cancelados por esquerdistas, pois o monstro não foi morto por um herói homem hetero, mas sim por ratos, comandados por uma imigrante filha de um mendigo usuário de drogas que morreu de overdose. Ah, claro, não faltando também o que a estrela do mar alienígena falar que estava feliz vagando pelo espaço até ser capturada e escravizada, dando uma ''humanizada'' no monstro. Infelizmente essas tendências vieram pra ficar e em Hollywood dificilmente nos veremos livres disso tão cedo.

Caio Amaral disse...

Sim, essa cena no acampamento não faz sentido.. Funcionaria numa paródia tipo "Top Gang".. Mas aqui, tira a credibilidade da personagem da Alice Braga, que é talvez a única personagem "não má" nem anti-heroína do filme (embora seja secundária, não tão crucial pra trama).

Essas grandes produções acho que não estão muito preocupadas com consistência intelectual né... Realmente, não dá pra dizer que o filme como um todo é feito pra agradar à direita. Ele apenas dá uns "biscoitos" inesperados pra esse público, enquanto dá outros pra esquerda como de costume.. os estúdios são pragmáticos, talvez tenham imaginado que isso traria bons resultados, pois teria "um pouco pra todo mundo".. Depois de Guardiões da Galáxia 2, não consigo imaginar que James Gunn não seja de esquerda.. Não sei bem qual é a dele, mas vi uma entrevista agora onde ele comenta que a cena da matança no acampamento aconteceu pois a Viola Davis ordenou que eles matassem todos.. ou seja.. talvez aquilo seja uma crítica sutil ao governo americano.. ao "imperialismo", etc. Ele comenta também que no final do filme, quando estão mostrando as imagens recuperadas dos experimentos com o Starro, aparece uma foto do Ronald Reagan junto com o ex-presidente de Corto Maltese.. Era uma imagem bem evidente, mas que o James Gunn decidiu deixar mais discreta, pois é algo que estava "distraindo da história central".. abs.

Dood disse...

Sei que é um comentário não te muito a ver com o filme em si, mas o lançamento desse filme como O Esquadrão Suicida e a tentativa de soterrar o filme anterior que foi uma bomba mostra quanto o cinema que é criado hoje é descartável.

Caio Amaral disse...

Acho que qualquer desculpa pra lançar mais um filme de franquia vale.. Se o filme funciona, daí vêm as sequências, um eventual reboot quando estas se desgastam, os spin-offs.. Mas se não funciona, daí é só ignorar e fazer outra "parte 1" uns anos depois, hehe. Como será com Ghostbusters, e imagino que com o próximo Quarteto Fantástico, etc.

Caio Amaral disse...

"funciona" no sentido de bilheteria, recepção do grande público..

y. disse...

Eu só vi esse filme nos cinemas porque ganhei 2 ingressos numa promoção da rádio metropolitana no shopping, e na minha sessão só tinha eu e minha irmã então foi legal a gente poder ficar conversando enquanto o filme ia passando rs.

Enfim sobre o filme, eu acho o James Gunn podre e nem queria q ele dirigisse o filme mas já que ele dirigiu não tem o que fazer né. Gostei bastante das cenas de ação e ri muito em certas horas, gostei da equipe nova e estou achando muito interessante essa nova era da DC sem ser pg13. Sobre eles tentarem agradar a 'direta' eu não que tentaram isso, pelo menos não de uma forma explicita. O país é praticamente Cuba só que na américa do sul, só que tanto a monarquia do país (que representaria a direita) quanto o golpe militar (que representaria a esquerda tipo pco) são vistas como más e quem vai acabar com isso são os guerrilheiros (também de esquerda só que mais progressistas) que são comandados por uma mulher. Outra coisa que eu percebi foi que no palácio e os soldados do regime eram em maioria brancos (latinos com pele clara), já nos guerrilheiros tinham bem mais pessoas negras, talvez tudo isso seja uma viagem minha mas foi algo que eu captei no filme. Outra coisa que eu achei esquisita foi a arlequina que tem uma personalidade totalmente dos filmes anteriores e me parece que só botaram ela no filme por já ser uma figura famosa.

Um detalhe que eu não gostei e vi mtos comentários no youtube e insta falando o mesmo foram as músicas brasileiras no filme, ao invés de botar carol konka e marcelo d2 porque não escolheram uma música da kid abelha ou zizi possi já que o Gunn gosta de músicas dos anos 80? Não gosto de muitas músicas brasileiras recentes e acho que não é uma representação muito legal do Brasil internacionalmente.

Só um último detalhe que eu achei sem noção foi a 'representatividade' do homem bolinhas virando gay e ficando com um figurante chamado milton, a cena é bem rápida e tenho certeza que foi feita dessa forma para ser cortada ou dublada como outra coisa em países como China, Russia e no Oriente Médio e ainda por cima ia ter militante no twitter comemorando o novo personagem 'dentro do vale'.

Uma coisa que eu comentei com minha irmã é que agora ia vim uma onda de filmes mais adultos dentro do subgênero de super heróis depois do sucesso de Deadpool em 2016.

y. disse...

Uma outra coisa que eu lembrei agora é o fato dos EUA virarem um vilão no final do filme, teve pessoas dizendo que foi graças a influências libertárias antiestado e outras dizendo que foi graças a ideia 'antiimperialista' da esquerda, sobre isso eu realmente não sei se foi pensado em uma dessas formas ou foi só aquele pensamento - Ah e se a gente botasse os EUA como causadores do mau de novo?

Caio Amaral disse...

Bom.. é "explícita" pro espectador mais treinado nesse tema.. as massas normalmente só captam essas mensagens políticas num nível subconsciente, a não ser que sejam verbalizadas.

Eu não vi o Homem-Bolinha ficando com o Milton.. mas como ele é um personagem meio patético, mesmo que tivesse um momento gay, acho que não teria nada a ver com "lacração".. seria só um alívio cômico, como a cena da boate.

Você acha que vai surgir uma onda de filmes mais adultos — mas está falando em termos de censura né? (violência / sexo?) Pois esses filmes de agora me parecem mais juvenis e despretensiosos do que os daquela era "dark" que começou com os Batmans do Nolan.

Tanto a esquerda quanto os conservadores quanto os libertários têm antipatia pelo governo americano.. uns por causa do capitalismo, outros por causa de teorias da conspiração, etc.. então é um alvo fácil, que acaba não gerando tanta polêmica. A fórmula desde "Coringa" acho que é ser ambíguo e deixar todo mundo meio na dúvida quanto à ideologia do filme.

Dood disse...

James Gunn é ex diretor de filmes da Troma tratou de colocar no filme referências a um de seus trabalhos que fez nesse estúdio (Vingador Tóxico).

Nunca foi um diretor para algo do nível Star Wars no caso a primeira trilogia.

Caio Amaral disse...

O James Gunn não teve nenhum envolvimento com o Toxic Avenger, teve? Mas sim, ele veio desse cinema B.. parecia ter uma "veia" pra filmes indies de baixo orçamento, humor negro (embora eu já tenha achado o Slither fraco mesmo como comédia).. daí do nada colocam ele em Guardiões da Galáxia.. provavelmente por causa do filme Super (2010) que era uma comédia sobre losers tentando ser super-heróis.. Pra você ver como hoje o "talento" para subverter e deturpar é mais recompensado às vezes do que o de construir, fazer bem feito.. É como se o Duchamp (que colocou o bigode na Mona Lisa) estivessse fazendo mais sucesso que o próprio Da Vinci, rs.

y. disse...

Sim, acho que essa onda de filmes mais pesados vai ser por conta de muitas cenas de violência, sexo etc. Eu li na internet um tempo atrás que as crianças e jovens que assistiram vingadores de 2012 nos cinemas e cresceram vendo filmes do gênero agora estão entrando na fase adulta então por isso está saindo vários filmes com essa temática mais adulta.

Sobre o homem bolinhas eu tava conversando com uma amiga sobre isso e a gente chegou a conclusão que personagens como apolo e meia noite (também da dc) raramente conseguiriam ganhar um filme solo por eles 2 serem abertamente gays e nas hqs deles há muita luta e violência, e pra contornar isso os estúdios iam pegar personagens secundários e 'tira-los' do armário em cenas fáceis para serem redubladas em países problemáticos como os que eu citei acima. Algo similar aconteceu com sailor moon que uma das personagens revela que namorava com a outra integrante do grupo mas aqui no Brasil eles redublaram dizendo que elas eram primas.

Dood disse...

O mais interessante é que ver como esse pessoal dos B tem vindo pro universo Mainstream dos grandes estúdios: antigamente era clara uma divisão desse tipo de coisa, mas parece que os filmes mainstream acabaram absorvendo coisas dos filmes B. Alguns amadurecem quando passam por outro lado, não significa que eles se tornaram sofisticados, e sim que conseguem produzir algo de bom entretenimento.

Eu particularmente acho Sam Raimi, que tem uma bagagem Trash, melhor que James Gunn. O segundo parece que não amadureceu e leva o que ele fazia na Troma pros grandes estúdios, mesmo que mais timidamente como o primeiro Guardiões da Galáxia. Aqui pelo que vejo ele teve mais liberdade para criar algo mais subversivo, não havendo amadurecimento como produtor/diretor.

Caio Amaral disse...

Esse lance da cultura acompanhar a idade de certas gerações em alguns casos acho que faz sentido (por exemplo: Harry Potter ter se tornado mais sombrio após os primeiros filmes).. mas é bem complexo, afinal a todo momento existem pessoas em todas as faixas etárias consumindo entretenimento.. e o fato dos filmes se tornarem mais leves/pesados tem a ver com outras tendências culturais também..

Quer dizer que a "saída de armário" foi algo só falado então..? Curiosa a tática pra driblar a censura.. daqui a pouco não duvido que eles comecem a lançar versões totalmente diferentes dos filmes, cada edição com cenas regravadas pra se adequar a cada cultura, rs.

Dood.. é raro o pessoal do cinema B ser igualmente bom no cinema "A".. Por mais que você aumente o orçamento deles, e por mais que eles ganhem fortunas com o público atual, ainda é fato que o forte deles não é narrativa, cinema "real".. se destacam mais pelo estilo muitas vezes. Me vem à mente o Pacific Rim do Guillermo del Toro.

O Sam Raimi eu tenho certo respeito.. ele tem noção de cinema o bastante pra poder se aventurar por diversos gêneros e ainda fazer um trabalho decente de direção.