segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Free Guy: Assumindo o Controle

Percebemos que o legado de Matrix e do cinema pós-1999 continua a todo vapor quando as 2 maiores estreias da semana são Caminhos da Memória (2021), uma ficção sobre um mundo distópico onde pessoas plugadas a máquinas vivem simulações de um passado mais feliz, e Free Guy, sobre um homem comum que descobre que sua realidade é uma farsa, e ele é apenas um personagem secundário dentro de um vídeo game.

É daquelas produções regidas pela "mentalidade clichê" — uma linguagem de TV aberta onde tudo que aparece na tela tem que ser extremamente familiar, convencional, e mastigado para ser absorvido até pelo membro mais ignorante da plateia. O cúmulo disso é quando Ryan Reynolds saca um sabre de luz numa luta (num dos inúmeros fan-services gratuitos para o público geek), e não só toca o tema de Star Wars, como o filme sente a necessidade de inserir um observador comentando "É um sabre de luz?!" caso alguém não tenha entendido a referência (imagine ter que reforçar o que é uma cruz pra uma plateia de cristãos devotos).

O filme não é convencional apenas em sua comunicação e estilo, mas também em sua visão de mundo. Logo na primeira sequência já comecei a revirar os olhos com a associação entre música alegre e alienação (Mariah Carey, unicórnios e sorvete sabor chiclete são colocados na mesma categoria), com o fato da "Free City" ser uma cidade "capitalista" num estado de completa anarquia, de "herói" ser alguém livre pra roubar carros e atirar em pedestres conforme seus impulsos — a não ser que ele opte pela rota mais "moral", e dedique sua vida a salvar os outros de acidentes e assaltos (predatismo e altruísmo são suas únicas opções, afinal). 

Felizmente, o filme não é sofisticado o bastante pra desenvolver essas ideias, e acaba focando mais na jornada de auto-realização do herói, na mensagem de empoderamento nerd (ser bom com "uns e zeros" é o suficiente para atrair a garota dos sonhos), de assumir controle sobre sua vida, que não é má, mas é uma mensagem tão vaga e superficial que pode significar qualquer coisa para qualquer um.

Free Guy / 2021 / Shawn Levy

2 comentários:

Dood disse...

Eu vendo pelos comentários me parece muito com Pixels, só que piorado. Além desse esteriótipo de alienação que eles forçam, ouvi comentários de que colocaram os jogadores de games como pessoas tóxicas no enredo.

Caio Amaral disse...

Acho que o filme é mais bem feito que Pixels.. no sentido de funcionar pro público alvo. Quando falei de alienação, me referi ao fato da alegria do protagonista (o fato dele gostar de coisas divertidas) ser mostrada como algo ridículo. Não acho que o filme retrate jogadores como alienados, nem como pessoas tóxicas.. afinal o filme é inteiro feito pra agradá-los.. no máximo vi umas piadinhas internas.. feitas pros gamers rirem de si mesmos..