segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Cultura - Agosto 2021

30/08: Notícia: “Eternos” e “Nomadland” compartilham a mesma essência, afirma produtor da Marvel

O que é pior: uma diretora "anti-sistema" que imediatamente após seu primeiro sucesso aceita dirigir um filme pra Disney/Marvel; ou então o fato da Disney/Marvel contratar alguém como Chloé Zhao pra dirigir um blockbuster, e ainda achar que apontar similaridades entre EternosNomadland seria um ponto positivo para o filme? (Lembro de ter ficado espantado com a feiúra da fotografia/luz dessa imagem promocional ao lado... Mas não lembrava quem estava dirigindo o filme — agora tudo faz sentido.)


12/08: Reboot de Esqueceram de Mim: a invasão Anti-Idealista continua...

Refilmar Esqueceram de Mim é uma ideia péssima em múltiplos níveis. Macaulay Culkin foi um dos grandes heróis da minha infância (e da de milhões de crianças dos anos 80/90), e sua performance é um daqueles raios que nunca cairão outra vez no mesmo lugar. Mas eu teria um pouco mais de simpatia por um filme ingênuo que estivesse tentando repetir o "raio", do que por um filme como este, que no casting de Archie Yates (que seria perfeito pra um remake de Uma História de Natal) já deixa clara sua intenção de corromper o Idealismo da história. Se alguém ainda ficou cético depois de ler meu texto Casting Naturalista, fica aqui o exemplo mais explícito que eu poderia ter incluído naquela postagem.


07/08: Anti-Idealismo diário: novos trailers e lançamentos

Cinderela é um daqueles símbolos Idealistas que a cultura adora desfigurar, e recentemente saiu o trailer da nova versão com Camila Cabello, apresentando uma Cinderela mais latina e "empoderada", que promete realizar boa parte daquilo que falei na crítica do Cinderella de 1997, quando imaginei como seria uma nova versão do conto seguindo as tendências atuais. Saiu também o trailer de Ghostbusters: Afterlife — o filme original de 1984 não chega a ser um grande representante do Idealismo, mas hoje em dia as pessoas acabam colocando o entretenimento dos anos 80 todo num mesmo saco... Portanto não me surpreende o desejo de se criar uma versão menos divertida da história, com um tom mais melancólico, transformando os heróis em excluídos, vítimas de bullying, etc. No texto sobre Casting Naturalista eu falei da problematização dos astros de cinema, e como certos atores precisam se desglamourizar pra ganharem respeito na indústria hoje em dia... Lembrei disso quando vi que a crítica está ovacionando Nicolas Cage por sua performance no novo filme Pig, onde ele aparece envelhecido, barbudo, descabelado, sujo, com o rosto machucado, e contracenando com um porco (o que não chega a ser uma tática nova para ele, apenas uma aplicação mais extrema). Na mesma nota, vem sendo aclamado o documentário sobre a carreira do Val Kilmer no Prime Video, e o que parece legitimar o documentário e torná-lo respeitável é o fato de Kilmer estar irreconhecível e mal podendo falar após ter tido um câncer na garganta. Um cineasta que sigo nas redes sociais elogiou o filme e disse que um dos momentos mais "comoventes" é o que Kilmer vomita numa lata de lixo durante uma sessão de autógrafos na Comic Con, o que dá uma ideia do tom da coisa.

8 comentários:

Dood disse...

Quanto a Cinemateca, um órgão como o governo não é um bom regulador mesmo até porque ele só favorece um tipo de arte que segue a uma ideologia. O problema de nossa classe artística é que ainda não conseguimos nos libertar desse vício de depender do governo, como a lei Rouanet em que os artistas usam a torto e a direito e se entende por incentivo, um financiamento em forma de empréstimo a quem produz arte. Se fala em diversidade, mas não se permitem que ideias diversas circule no mundo artístico. Além do mais cultura e afins deveria estar nas mãos de um "grupo" (me faltou definição adequada) imparcial que criasse uma nova cultura artística afim de manter os talentosos e cultivar novos talentos na área.

Caio Amaral disse...

A imparcialidade que você citou virá só quando a cultura não estiver nas "mãos" de ninguém.. Ou seja, quando for uma atividade livre, separada do estado, sem controles ou intervenção. Claro que estamos a anos-luz disso aqui...

Dood disse...

Quando vi a imagem desse remake de Esqueceram de Mim não me causou impacto nenhum, me parece mais um remake para gerar polêmica dizendo que é uma versão atualizada e que o outro estaria datado.

Nunca tive apreço nem pelo terceiro filme da franquia, achava os dois excelentes. É como disse: seria preciso de um novo Macaulay Culkin para ser no mínimo decente.

Caio Amaral disse...

Nossa.. o 3 eu lembro que achei terrível.. teve um 4º também que nem cheguei perto.

Korvoloco Aspicientis disse...

Resolvi rever, depois de 11 anos, o filme Alexandre, de 2004, que apesar de não ser excelente, gosto dele mesmo assim justamente porque sempre gostei de épicos. Enfim, depois de um tempo assistindo, me toquei que Hollywood nunca mais investiu em superproduções épicas memoráveis (me refiro a filmes que se levam a sério, sem serem obras que apelam para excesso de telas verdes e temáticas pouco realistas, como 300, Hobbit ou até bíblicos(se bem que até superproduções bíblicas perderam a relevância)) e me questionei se parte dessa culpa se deve a filmes baseados em quadrinhos, já que para os estúdios da Disney e Warner, as chances de darem lucro são bem maiores, enquanto que outros estúdios se sentem desencorajados a investir milhões de dólares e não terem como competir com tantos lançamentos dos derivados da Marvel algumas vezes por ano. Claro que me refiro a antes da pandemia.
Eu gostaria de saber sua opinião sobre tudo isso, Caio.

Caio Amaral disse...

Oi Korvoloco! Então... O gênero épico nunca foi de gerar tantos filmes assim todo ano, justamente por serem produções muito caras, e não ser um gênero tão fácil de vender quanto fantasia, ação, etc. Além disso, épicos exigem roteiros mais sofisticados, com substância, pesquisa.. Não é qualquer um que escreve. Então já é um gênero mais difícil de se fazer.. Certos gêneros sempre estão na moda (suspense, terror, comédia) outros, como épico, guerra, western, musicial, às vezes estão em alta, e às vezes estão em baixa... Nos anos 50, o surgimento da televisão levou Hollywood a criar o Widescreen e a investir em produções cada vez mais grandiosas pra atrair o público pras salas de cinema.. e o épico teve uma era de ouro nesse período dos anos 50/60.. justamente porque é um ótimo gênero pra explorar a grandiosidade do cinema.. No início dos anos 2000, com o sucesso de Gladiador, tivemos outro boom de épicos que durou alguns anos... filmes como Alexandre, Tróia. Mas de fato, na última década o gênero esteve em baixa.. Não sei o motivo exato, mas provavelmente essas tendências Anti-Idealistas têm um pouco a ver. Como disse o David Lean naquele vídeo que legendei ( https://www.youtube.com/watch?v=RBK9kPTpe4k ) fazer um épico com um monte de dinheiro é uma forma de "exibicionismo". Repare que o filme dele que foi mal recebido (A Filha de Ryan), foi lançado em 1970, no ápice do período Anti-Idealista dos anos 60-70.. tudo bem que não era um filme tão impecável quanto seus épicos anteriores, mas acho que o timing cultural também contribuiu pro fracasso. Os melhores épicos tinham diretores ambiciosos por trás, como Lean, William Wyler, Kubrick, Cecil B. DeMille.. hoje o terreno não está muito fértil para esse tipo de cineasta super ambicioso.. Hollywood deixou de ser um lugar que incentiva esse tipo produção.. temos filmes mais descartáveis, juvenis, feitos em linha de produção, tudo no computador, com o estúdio no comando, pensando apenas no retorno financeiro.. o entretenimento se tornou algo desimportante. O subjetivismo na cultura também acho que deixa as pessoas menos interessadas em história, conhecimento.. estamos na era da pós-verdade, onde tudo é psicologia, tudo são emoções.. Ou então tudo tem que ser naturalista, socialmente relevante.. quem é que quer saber de eventos grandiosos de 500 anos atrás? Épicos religiosos em particular talvez tenham sumido por causa da polarização política.. já que é uma temática conservadora, e Hollywood foi arrastada pra esquerda. Mas ainda assim, sempre acaba surgindo um ou outro filme nessa linha.. Em breve estreia o The Last Duel do Ridley Scott:
https://www.youtube.com/watch?v=mgygUwPJvYk&t=48s

Korvoloco Aspicientis disse...

Muito obrigado pela sua resposta, que foi muito esclarecedora.
De fato, analisando por esse ângulo, produzir um filme épico é um risco enorme, tanto financeiramente quanto para a reputação de um diretor, então é bem compreensível.
Se na época acusaram David Lean de ''exibicionista'', hoje em dia seria acusado também de ser preconceituoso por não escalar um personagem pertencente a alguma minoria de destaque na trama, hehehehe.
E refletindo o que você disse, só nos resta aguardar que surja algum filme épico, como Gladiador que faça bastante sucesso e incentive um novo ''boom'' dessas produções novamente.
E como ando bastante desanimado com novos lançamentos, acabei perdendo o trailer dessa nova produção de Ridley Scott, que parece bem promissora. Se bem que por outro lado ele não mandou muito bem de uns tempos pra cá. Ele dirigiu Êxodos e acabou não agradando nem cristãos quanto não cristãos, ou então Robin Hood e etc. Mas vamos torcer que dessa vez ele se redima. Se será bom ou não, é impossível prever, mas temos que dar créditos ao Ridley pela sua coragem e determinação em trazer algo que vai contra as tendências atuais.

Caio Amaral disse...

Pois é, o Ridley Scott tem uma carreira de altos e baixos.. depois do Gladiador, essa linha de filmes mais históricos tipo "Cruzada" nunca me agradou.. esteticamente parece tudo meio igual.. como comentei na crítica do Robin Hood: "os filmes do Ridley Scott estão todos meio parecidos, o que muda é um leve aroma. Mesmo que Ridley faça Branca de Neve e os Sete Anões, pode ter certeza que ainda teremos o mesmo filme com Russell Crowe mal humorado, fotografia dessaturada, cenas de batalha com aquele efeitinho de edição roubado do Soldado Ryan, e mulheres orientais gemendo na trilha sonora." - faltou mencionar as particulas brancas flutuando no ar em cenas externas, hehe. A única coisa garantida nos filmes dele é que serão muito bem produzidos.. mais ou menos como o Robert Zemeckis.. agora se o filme em si será bom ou um tédio, dependerá muito do roteiro, de outras escolhas criativas.. e nem sempre ele acerta nesse ponto. Vamos torcer pra não ser mais um Robin Hood.. abs!