segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Análise musical - They Don't Care About Us

No meu texto Idealismo na Música, o ideal seria que eu tivesse feito uma análise de uma música de fato. Mas como é complicado fazer isso através de texto, acabei incluindo apenas aquela análise do clipe Beat It. Mas como aqui não tenho essa limitação, resolvi gravar este vídeo como complemento, que não chega a ser uma análise da música como um todo, apenas de um aspecto dela, mas um aspecto fundamental que pode começar a dar uma noção mais clara de como os princípios Idealistas se traduzem pra essa outra mídia. Lembrando que gosto musical é algo bastante pessoal e eu não tenho nenhum desejo de influenciar ninguém a gostar dos mesmos artistas e músicas que eu. Mas acho que a discussão pode ser útil e levar as pessoas a apreciarem melhor o trabalho de outros músicos também.




(Uma coisa que acabei não enfatizando no vídeo é o fato de que o clímax aqui não ocorre no refrão da música como de costume, e sim neste retorno ao primeiro verso. Após o bridge, a maioria das músicas segue para o refrão final, que costuma ser o trecho mais aguardado da composição, algo que não ocorre aqui. Então acaba sendo uma ótima ilustração de como a estrutura musical pode ser diversa, quebrar regras, e ainda assim funcionar.)

2 comentários:

Leonardo disse...

Olá, Caio.

Faz tempo que estou sumido, mas apenas em corpo. Em espírito continuo a assombrar - a entrar diariamente no blog (aliás, parabéns pela idéia e execução no texto Racionalizações). Até tenho aqui uma relação de perguntas e comentários de posts passados, mas a cada novo post eu esperava o próximo e acabei por arquivar. Quase como um “perfeccionismo cronológico”.

Contudo, o impulso foi mais intenso e quebrou meu padrão de silêncio. Em suma, enquanto assistia seu vídeo, eu desejava que tivesse umas quatro horas ou fosse a primeira parte de uma série de minidocumentários. Se os filmes dos Zucker e Abrahams podem ser medidos em Piadas por Minuto, o seu vídeo eu medi em insights, idéias, mesmo revelações, por minuto.

O que talvez pra ti e para o Michael seja natural, a própria noção de que eu compreendi o conceito de uma história não-verbal é quase uma revelação divina. A sua análise, como um todo, foi como descobrir que a terra é redonda ou acordar com uma maçã que caiu na cabeça, e a partir de então o horizonte do evento da humanidade foi atravessado, o mundo é diferente – e para mim, a música.

Quando comecei a entender o Idealismo lá por 2016, gradativamente os filmes se tornaram radicalmente diferentes. Era como se eu tivesse olhado para sombras pretas na parede e aos poucos percebesse que a projeção estava atrás de mim, na direção diametralmente oposta. Embora meu ouvido pra música seja o equivalente a não ter o próprio sentido da audição (eu nunca tinha ouvido estes violinos e coro), minha experiência com os filmes já anuncia o ponto de não-retorno nas músicas de agora em diante.

Por fim, acrescento que além da mudança epistemológica, houve uma mudança bastante evidente no meu gosto musical. Tão evidente que de todo o meu renascimento filosófico, foi o que surpreendeu aqueles que me conhecem a vida toda. Eu fui criado em ambiente tribalista-coletivista-altruísta-tradicionalista. As músicas que tocavam no ambiente eram folclóricas do Sul do Brasil. Seus temas eram o imediato, o superficial: o campo tem a cor verde, o cavalo é rápido, a música é para dançar, o chimarrão dá pra beber, a população do Sul do Brasil é superior ao restante do país e do mundo, pessoas que habitam cidades urbanas têm maneirismos homossexuais e devem ser objeto de riso, pois somos muito machos. Certo dia com a música de fundo, parei com as mãos na louça ensaboada, olhei para cima e contemplei um pequeno ponto de sujeira no teto branco. Percebi que eu desgostava daquilo. Rejeitei sua trivialidade, sua ausência de emoções intensas, suas mensagens coletivistas, de atavismo cultural e de preservação de costumes arcaicos. Então percebi que a vida toda eu ouvi o equivalente ao naturalismo europeu, só que na música. Terminei a louça em silêncio.

Caio Amaral disse...

Heheh legal Leonardo, seu entusiasmo com ideias e abstrações é sempre incrível.. e sua presença é bem vinda mesmo no formato "assombração" kk. É fascinante mesmo como as pessoas observam coisas totalmente diferentes mesmo olhando pro mesmo "objeto".. e música é algo muito menos discutido do que cinema no dia a dia (dessa forma mais detalhada). Então a gente tem menos oportunidades de descobrir as riquezas ocultas por trás de certas obras, formas diferentes de apreciar um artista, etc.

Eu tento sempre respeitar o gosto autêntico das pessoas.. pois apesar de certos universais, acho que cada mente tem necessidades diferentes.. se algum lado seu tem uma conexão genuína com essas músicas do Sul.. reflita se não há algo de valor aí a ser considerado. Não me sinto bem ao interferir nos outros dessa forma, hehe. Agora se é algo que vc sempre teve um certo pé atrás, só não entendia direito por que.. daí tudo bem.. Pra mim existe sim um paralelo forte entre esse tipo de música que exalta o regional, o rústico, o estilo pacato de vida.. e o Naturalismo. Isso nunca me atraiu.. Claro que letra não é o mais relevante.. tem que levar em conta o contexto todo. Por exemplo - no musical Oklahoma! tem várias canções que falam dos pastos verdes, etc, mas nem por isso é um musical Naturalista.. está todo mundo apenas "brincando de fazendinha" hehe. O espírito ainda é Broadway. Já outras coisas de fato te transportam pra essa existência trivial, sem ambições, etc. Tem que achar outra trilha pra lavar a louça motivado hehe.