domingo, 17 de abril de 2022

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore | Crítica

(Os comentários a seguir foram baseados nas anotações feitas durante a sessão.)

- É mais um desses filmes com narrativa de série de TV, que começam já com a ação se desenrolando, sem dar nenhum contexto pro espectador. O filme mal começou e eu já estou confuso... Por que o Newt está indo ajudar esse animal dando cria no meio da noite? Ele já sabia que os outros iriam tentar roubar o filhote? Dumbledore e Grindelwald já eram um casal gay ou inventaram isso agora? O filme nem se esforça pra pontuar que o Grindelwald agora é interpretado pelo Mads Mikkelsen (já que o Johnny Depp foi cancelado). Às vezes perdoo essas coisas pensando "quem é fã está entendendo tudo", mas nesse caso tinha um fã de Harry Potter do meu lado que demorou mais de meia hora pra assimilar que Mads era o Grindelwald. A história é mal contada (assim como as dos outros 2 filmes e também as de alguns dos Harry Potter), vai pulando de um núcleo pra outro de forma arbitrária, sem estabelecer primeiro qual o conflito central, qual o propósito da história, qual o desejo do protagonista, etc.

- Continuo achando o Eddie Redmayne uma figura excêntrica demais pra ser o herói de uma franquia desse gênero.

- É interessante a ideia deles não poderem saber cada etapa do plano pra despistar o vilão (que tem o poder de prever suas ações), embora isso não seja muito bem elaborado. O problema é que Grindelwald é um vilão distante, pouco ameaçador... Tirando a cena da eleição (que ocorre só no final do filme), ele não tem contato algum com os protagonistas. Parece estar numa história paralela, distante. E a rivalidade maior dele é com o Dumbledore, não com o Newt... Dumbledore é que devia ser o protagonista do filme, não o Newt... Talvez ele seja, mas não é algo claro. Ficam todos parecendo coadjuvantes.

- J.K. Rowling tem uma ótima imaginação pra criar universos, pensar em magias, criaturas, coisas concretas... mas não tem muita noção de trama, de como estruturar uma história. Da mesma forma, a produção do filme é bem feita (efeitos especiais, direção de arte, figurinos), mas a narrativa é fraca.

- Há uma sequência longa do Newt indo resgatar o Theseus da prisão (o alívio cômico dos caranguejos é repetido até cansar), mas esse resgate nem parece um desenvolvimento relevante pra trama. Nem lembro direito por que o Theseus foi preso, ou qual a função dele no filme.

- É típico das chatices atuais que um filme de fantasia pra família no fim seja sobre política, fraudes eleitorais, a ascensão do nazismo, etc. Ainda assim, a cena da eleição é a melhor parte do filme, pois é a única onde há clareza, onde realmente entendemos a função do Qilin, o plano do vilão, a estratégia dos heróis, e assim há certo suspense, interesse no que vai acontecer, etc. Tudo isso já tinha sido exposto antes, só que através de diálogos, cenas casuais, que não dramatizavam direito nem davam ênfase pro que é essencial para a história. Logo nos primeiros minutos, o filme já devia ter deixado alguns pontos claros para o espectador: haverá uma eleição importante, o vilão quer vencer "fraudando" um Qilin (que é o animal mágico que determina o vencedor), então eles precisam impedi-lo de alguma forma, se não tragédia X ocorrerá. Pronto. Se depois disso, víssemos o Newt indo no meio da noite resgatar o filhote do Qilin etc., o espectador estaria entendendo a história e participando dela com curiosidade, em vez de testemunhando ações passivamente. Tudo estaria costurado por um propósito, o que tornaria o filme mais interessante. Só que o filme não se comunica com uma epistemologia racional, e sim com uma epistemologia mística, subjetiva, que gosta de estar diante do misterioso, de se perder num universo incompreensível (há várias daquelas cenas de "ação" que consistem de 2 pessoas disparando raios mágicos uma contra a outra, e a do bem vence por alguma "força" indefinida — algo que também reflete uma mentalidade não objetiva, que não se importa por razões, explicações).

- A personagem da Maria Fernanda Cândido mostra o quão superficiais são alguns dos personagens (e como a narrativa é superficial). Nós no Brasil, como conhecemos ela, ficamos atento a cada segundo dela na tela. Então vemos como ela é mal explorada, e mal tem 1 frase o filme todo... Mas um espectador de outro país, talvez fique com a sensação vaga de que a Vicência foi uma personagem importante, que teve uma relevância maior na história — assim como na cena da prisão eu fiquei com a sensação de que o Theseus devia ser muito importante pro filme, só não lembrava exatamente por que.

- O romance entre o padeiro e a Queenie ganha bastante atenção (tanto que o filme acaba com o casamento dos dois) mas é algo que rolou no filme anterior e eu nem lembro mais por que eu deveria me importar. O roteirista parece achar que estamos maratonando os 3 filmes, e que não há necessidade de recriar o interesse, dar um novo motivo pro espectador se envolver.

- SPOILER: Muito pomposo e arrastado esse final (Dumbledore assistindo de longe a cerimônia e indo embora) pra uma história que não foi tão épica assim, e ainda nem foi concluída (afinal, Grindelwald continua solto).

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Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore / 2022 / David Yates

Satisfação: 5

Categoria B/C: Idealismo com uma salada de problemas narrativos (falta de objetividade) e de valores (Idealismo Corrompido)

Filmes Parecidos: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018) / Harry Potter e as Relíquias da Morte (2010) / O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)

4 comentários:

Anônimo disse...

Grindelwald deveria ter saído vitorioso neste filme, assim como Darth Vader em O Império Contra-Ataca. A cada Animais Fantásticos em que o vilão foi derrotado, mais parece aqueles vilões do seriados bem antigos em que o bandido era preso e gritava para o mocinho pela janela da carroça do xerife "na próxima vez eu pego você" (lembrei dos vilões do Scooby Doo e por alguma razão até me lembra o Dr. Evil do Austin Powers).

Caio Amaral disse...

Hehe... como ele escapou, aqui pelo menos não teve esse desfecho caricato (nem lembro do final dos outros filmes!). Nesse foi mais aquela coisa: "assista ao próximo capítulo se quiser saber o desfecho dessa história!", rs.

Anônimo disse...

kkkk eu também não lembro dos filmes anteriores, mas neste eu confirmei a impressão que sempre tive de que esses Animais Fantásticos são episódicos. A ameaça nunca aumenta ou dimiui, a história nunca vai pra frente ou pra trás, o vilão sempre tem seguidores e não tem ao mesmo tempo, o mundo é quase destruido sempre e sempre salvo como se fosse um evento comum qualquer, o Dumbledore tem barreiras limitantes que forçam uma estratégia e depois a barreira some de uma forma banal no instante seguinte...

Caio Amaral disse...

Toda essa névoa e indefinição tem a ver com falta de Objetividade.. um pilar fundamental, sem o qual você não consegue projetar outros valores, criar emoções fortes, envolvimento etc. Tenho alguns posts aqui que discutem isso, como o "Emoções Irracionais".. abs!